As medições anuais acerca do aquecimento da Terra apontam que isso está acontecendo a uma taxa jamais vista desde que as temperaturas passaram a ser registradas, no século XIX.
Como explica Ed Hawkins, professor de Ciência do Clima da Universidade de Reading (Inglaterra), ao The Conversation, desde o século XX, o ser humano estuda as mudanças climáticas da Terra e nosso impacto nelas.
A primeira constatação veio em 1933 com Joseph Kincer. Em 1938, o engenheiro britânico Guy Callendar apontou que, entre 1888 e 1938, a temperatura da Terra subiu 0,3 °C, mas, só nos últimos 60 anos, ele aqueceu 1 °C. Ou seja, nosso planeta está ficando cada vez mais quente e em um ritmo mais rápido.
Ao detectar o aquecimento global pela primeira vez, Kincer não ofereceu explicação sobre o motivo de isso estar acontecendo, mas Callendar, porém, sugeriu que a situação começou a acontecer, sobretudo, por conta do aumento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera originados pela queima de carvão. Seu argumento teve como base outras teorias sobre o efeito estufa.
Como funciona a taxa de aquecimento usada para medir o aumento da temperatura da Terra?
- Hoje em dia, explica Hawkins, a taxa de aquecimento global é determinada, em especial, pelas emissões dos gases que causam o efeito estufa;
- Caso a quantidade de emissões aumenta, a taxa acelera; se elas são reduzidas, o aquecimento prossegue, mas a ritmo mais lento. Ele só vai se estabilizar quando as emissões chegarem a zero;
- Claro que há outros fatores e, assim, a Terra não manteve uma taxa de aquecimento estável. Mas ela passou a ser bem uniforme desde 1970, ficando em 0,2 °C por década, bem mais rápido que no período anterior, que coincide com o começo da revolução industrial;
- 2023 foi o ano mais quente desde o início da medição e 2024 tem 99% de chances de ser ainda mais, sugerindo aceleração da taxa, mas o professor afirma que isso ainda não está claro.
Antes de 1970, passamos por ligeiro resfriamento global por conta de rápido aumento de partículas de aerossol refletivas que apareceram em nossa atmosfera. Isso se deu, entre outras razões, pela queima de combustíveis fósseis.
Mas, conforme Hawkins, isso diminuiu nos anos 1960 por conta do início de políticas de ar limpo em vários países ocidentais. “Antes da Segunda Guerra Mundial, as variações naturais no clima dominavam, com uma influência de aquecimento muito lenta da industrialização inicial”, conta o professor.
Além disso, o aquecimento da Terra não foi uniforme em todas as regiões do planeta. As regiões terrestres aqueceram mais rápido que a média global, mas as regiões oceânicas vem passando por esse fenômeno de forma mais lenta. A região que mais se aquece é, atualmente, o Ártico, chegando a esquentar até quatro vezes mais que a média do planeta.
E 2025, o que nos reserva?
Apesar do cenário no mínimo sombrio vivido entre 2023 e 2024 (que surpreendeu um pouco os especialistas), Hawkins diz que o cenário tende a ser diferente no ano que vem. Ou seja: 2025 deverá ser mais frio que 2024 por conta da transição para o La Niña no Oceano Pacífico tropical. Tal fase é conhecida como Oscilação Sul El Niño (Enso, na sigla em inglês).
Até o momento, a estimativa é que as temperaturas estarão mais de 1,5 °C acima das registradas no início da revolução industrial no longo prazo ainda nesta década, muito provavelmente.
Com o fim da COP29, é vital que sigamos focando em mudanças concisas e urgentes para limitar o aquecimento global a 1,6 °C ou 1,7 °C acima dos níveis pré-industriais. Do contrário, a Terra seguirá aquecendo, o que trará consequências cada vez mais devastadoras para o planeta e para nós.