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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Tempestades podem ser responsáveis por até 60% da morte de árvores em florestas tropicas, aponta estudo

E a porcentagem deve subir, já que chuvas intensas estão se tornando mais frequentes por conta das mudanças climáticas

7 de julho de 2025
5 min. de leitura
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Foto: Shutterstock

As árvores tropicais estão morrendo mais rápido do que nunca, e a culpa não é só do calor ou da seca. Cientistas descobriram que tempestades rápidas e intensas, com raios e ventos, estão provocando a derrubada delas. E o agravante é que esses fenômenos têm se tornado mais frequentes por conta das mudanças climáticas.

“As florestas tropicais têm efeitos enormes no clima global. Elas são como os pulmões da Terra, e estamos vendo as árvores morrendo nelas em taxas mais altas do que no passado, e a composição das florestas também está mudando”, disse o líder do trabalho, Evan Gora, ecologista florestal do Instituto Cary de Estudos de Ecossistemas. “Isso pode ser realmente problemático para o futuro não apenas das florestas tropicais, mas do planeta.”

Até hoje, existem poucos estudos sobre a culpa das chuvas pelas tendências de mortalidade de árvores, Gora e seus colegas decidiram, então, reanalisar dados de trabalhos sobre os estoques de carbono em florestas tropicais e, a partir disso, constataram que fortes chuvas são tão eficazes quanto a seca e a temperatura para explicar os padrões de morte de árvores e o armazenamento de carbono florestal.

“Ficamos surpresos ao descobrir que as tempestades podem ser o principal fator isolado responsável pela morte de árvores nessas florestas, e elas são amplamente ignoradas pelas pesquisas sobre o armazenamento de carbono nos trópicos”, comentou o ecologista. “Nossas estimativas sugerem que elas são responsáveis por 30 a 60% da mortalidade de árvores no passado, e esse número deve estar aumentando, já que a atividade das tempestades aumenta de 5 a 25% a cada década.”

A equipe também adicionou tempestades ao maior estudo baseado em parcelas sobre a dinâmica do carbono da biomassa florestal até o momento. Esse trabalho havia concluído anteriormente que, quando as temperaturas ultrapassam um determinado limite, as florestas tropicais sofrem um rápido declínio nos estoques de carbono.

Porém, quando se inclui as chuvas intensas, essa relação desaparece. “Isso basicamente mostra que é preciso incluir tempestades, ou você pode não obter as respostas corretas”, ponderou Gora.

Compreender para proteger

Segundo os cientistas, tempestades e secas não são mutuamente exclusivas, o que significa que as mesmas florestas podem sofrer com as duas condições. Por exemplo, eles encontraram alta atividade de tempestades em todo o sul da Amazônia, onde o estresse hídrico também é alto e os padrões de mudança estão entre os mais extremos.

“Durante meus estudos sobre ameaças às florestas tropicais, meus professores, nossos livros didáticos e até mesmo a política climática em geral nunca mencionaram pequenas tempestades convectivas como uma fonte potencial de mortalidade florestal”, observou o coautor Ian McGregor, ecologista florestal do Instituto Cary no laboratório de Gora. “Não me lembro de tê-las visto em modelos climáticos globais usados para embasar políticas climáticas. Dadas nossas descobertas, no entanto, fica claro que precisamos de uma compreensão mais aprofundada dessas tempestades para termos modelos climáticos mais precisos e, portanto, políticas mais eficazes.”

E existem algumas razões para os cientistas ignorarem as tempestades. Uma delas é que a temperatura e o seca são monitorados por estações meteorológicas e facilmente conectadas a dados de parcelas florestais de longo prazo. Outra é que, no caso das tempestades, é mais difícil detectar e rastrear seus danos altamente localizados.

Além disso, a mortalidade causada por tempestades não é facilmente detectada por satélite, e não é prático para pesquisadores a pé inspecionarem grandes áreas florestais com frequência suficiente para identificar os danos causados.

Mas um projeto liderado por Gora e Adriane Esquivel-Muelbert, da Universidade de Birmingham, oferece uma maneira de superar esses desafios. Esse projeto combina um sistema de localização de raios, drones de reconhecimento e especialistas em campo para amostrar grandes áreas de floresta tropical com frequência. Com essas ferramentas, eles estão começando a quantificar quando, onde e por que as árvores tropicais estão morrendo, e quais espécies são mais afetadas.

“Se tomarmos decisões sobre quais espécies plantar ou conservar com base em uma compreensão incorreta do que está realmente matando essas árvores e quais espécies são mais vulneráveis, essas florestas não atingirão seu potencial máximo”, destacou o ecologista. “No entanto, se pudermos construir uma imagem mais holística do que está impulsionando as mudanças nas florestas, poderemos ficar muito mais confiantes em orientar as práticas de manejo florestal para a sustentabilidade a longo prazo”.

Fonte: Um só Planeta

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