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"ASSUSTADOR"

Tempestade de poeira cobre a cidade de Franca (SP)

27 de setembro de 2021
Beatriz Paoletti | Redação ANDA
6 min. de leitura
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Foto: Hypeness/Reprodução

Segundo a Folha, uma nuvem de poeira junto de ventos agressivos cobriu a cidade de Franca e outros municípios da região de Ribeirão Preto na tarde do último domingo (26), por volta das 17h.  Após a tempestade de terra, choveu na cidade com relâmpagos e trovoadas.

A nuvem de poeira de ocorrência incomum impediu a fluidez do trânsito, e muitos comerciantes tiveram de fechar os estabelecimentos. O fenômeno assustou os moradores e alguns relataram dificuldade de respirar.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) informou em comunicado para se evitar o desperdício de água na limpeza das casas, quintais e calçadas da fuligem e poeira deixada pela nuvem de terra, já que as cidades afetadas, e outras do Estado de São Paulo, estão sob controle hídrico desde 2 de setembro em razão da estiagem.

“Sabemos que o evento atípico de hoje (26/9) trouxe uma grande quantidade de poeira e fuligem para dentro das casas. Mas o município passa por um período de severa estiagem, com rodízio no abastecimento de água. É preciso que todos que usem a água de forma consciente, sem desperdícios”, tratou trecho da nota.

Cidades como Ribeirão Preto, Orlândia, Dumont e Jardinópolis também foram afetadas pelo fenômeno. Além da visibilidade menor no trânsito, os moradores de alguns bairros ficaram sem energia e sem serviço de internet.

Moradores das cidades afetadas pela tempestade registraram em vídeos e fotos, as quais circularam imediatamente pelas redes sociais e grupos de WhatsApp. Moradores dos bairros Jardim Consolação, Distrito Industrial, Parque dos Lima, Residencial Paraíso, Vila Santa Cruz, Estação e Residencial Amazonas gravaram a ventania de poeira. Veja vídeo AQUI.

Causas da nuvem de poeira

A seca estendida que tomou a região, e a qual foi um dos fatores para o início de vários focos de incêndio de grandes proporções em áreas ambientais protegidas, além de em áreas de plantação, contribuíram para a criação da nuvem de poeira.

De acordo com os cientistas do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU), a crise climática, do aquecimento global, tem como uma de suas consequências a ocorrência de eventos extremos. Os especialistas do IPCC quantificaram em relatório no início de setembro (9) o aumento de periodicidade de fenômenos extremos do clima, e foi assinado por 234 autores de 65 países

Relatos dos moradores

O comerciante Eduardo Rodrigues Sanches, 56, estava com o filho indo em direção a um supermercado na avenida Antônio Barbosa Filho quando viu o céu escurecido na região do Franca Shopping. Posteriormente, mudou de rota via rodovia Cândido Portinari, sentido Bairro Vera Cruz, e adentrou a tempestade de poeira no novo caminho.

“Foi uma cena apavorante, ficou tudo tomado pela poeira, eu não enxergava nada na minha frente. Do lado, muitas sacolas, folhas e papéis estavam voando para todo lado e até o carro sacudia com o vento. Todo mundo ligou o pisca alerta dos carros. Fiquei com medo porque a gente não pode subestimar a força da natureza” disse.

Em um ponto mais afastado de Franca a qual o fenômeno foi experienciado pelo comerciante, a esteticista Ana Luisa Flausino, 32, também ficou surpresa ao ver o céu escurecer de repente. Ela estava em casa, em um condomínio na Vila Santa Cruz, quando percebeu a virada de tempo.

“Estava até sol, mas ficou escuro e pensei que era chuva. Quando olhei, a poeira já tinha tomado a região toda do meu bairro. Foi uma sensação horrível de sufocamento, porque parecia que estava entrando poeira dentro de casa, estava com cheiro forte, muito forte mesmo”, relata.

A jornalista Ana Luisa Silva, 38, moradora do Residencial Amazonas, contou ter ficado assustada com a cidade cheia de poeira, e de ter sido atingida pela ventania.

“Pela janela, eu vi a nuvem de poeira vindo para a direção do meu apartamento e fiquei bem assustada. Na verdade, parecia que o mundo estava acabando, sabe? Quando encobriu o bairro, o condomínio onde eu moro, fiquei com bastante medo. Foi questão de uns quatro minutos e ficou tudo escuro”, relatou ela, que percebeu o fenômeno por volta das 16h30.

Ainda antes das 17h, mesmo período relatado pela jornalista, a analista de sistemas Nise Peres, 43, moradora da Vila Nicácio, estava na calçada com a filha de 13 anos e dois sobrinhos, um de 5 anos, outro de 1, quando percebeu a nuvem de poeira cada vez mais próxima. De primeiro pensou ser chuva até sentir o gosto de terra na boca.

“Eu olhei para o bairro da Estação e vi nuvens em tons de rosa amarronzado vindo em nossa direção. De repente, as folhas que estavam no chão começaram a voar e as árvores balançando muito forte. Aí eu senti gosto de poeira. Corri para fechar a casa e colocar as crianças para dentro. A casa toda está suja e justamente neste momento com falta d´água.”

Em Ribeirão Preto, a empresária Edna Santos, 54, estava decorando a sacada do oitavo andar do prédio onde mora, no bairro Jardim Irajá, zona sul, para o aniversário da filha, quando vislumbrou a tempestade, a descrevendo como “estranha e ao mesmo tempo assustadora”.

“Todos nós em casa ficamos com medo de acontecer uma tragédia. A cortina de vidro vibrou muito com o vento forte, parecia que ia quebrar tudo. Era uma mistura gigante de nuvens de chuva com poeira de terra e de queimada. Um horror.”

Edna disse ter tido problemas elétricos na cidade devido falha de distribuição elétrica. “Moro em Ribeirão desde que nasci e nunca tinha visto algo assim. Reação da natureza às mazelas produzidas pelo bicho homem”, contou a empresária.

Na zona norte de Ribeirão Preto, a artesã Andréia de Lourdes Aleixo, 55, ficou na tarde do ocorrido sem acesso a internet. “Houve interrupção de luz em diferentes momentos. E agora [por volta das 20h], acabou a água”, disse.

“Não tem mais área verde nessa região. Virou tudo canavial. Com a seca, as queimadas e a poeira urbana, imagina a sujeirada que virou. Quando a nuvem gigante de poeira foi se aproximando, já dava para perceber o que ia acontecer. O problema é que não tivemos tempo para nos preparar. Foi tudo muito rápido.”

A pouco mais de 20 km de Ribeirão Preto, na cidade de Dumont, o comerciante Deangelis Rangel Eliais, 32, disse que, a aproximação da nuvem escura fez com que o dia “virasse” noite. Já às 14h de domingo as ruas estavam completamente escuras.

“Foi assustador. Um misto de ventania, poeira e muita chuva. A água estava na cor da terra. Houve alagamentos em diferentes pontos da cidade. A tempestade fez ainda a maioria dos bairros ficar sem luz elétrica. Parecia filme catástrofe.”

 

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