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ADAPTAÇÃO

Temperatura da água impacta no tamanho de animais, diz estudo da Unifesp

Fatores como temperatura do oceano e volume de água doce podem exercer influência nos animais marinhos

1 de setembro de 2024
Redação Terra
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

A temperatura do oceano e o volume de água doce que chega ao mar são alguns dos fatores podem influenciar na abundância e no tamanho de organismos marinhos. É o que diz um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (Unifesp), em parceria com colegas da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar-USP) e de instituições de pesquisa do exterior.

A pesquisa, que foi publicada na revista Marine Environmental Research e divulgada na Agência Fapesp em julho, avaliou a influência de fatores ecológicos e ambientais, como a topografia do substrato, a exposição às ondas e a temperatura do oceano e do ar, na estrutura populacional das principais espécies de animais em costões rochosos. Foi estudada área de mais de 800 km, entre Itanhaém, no litoral paulista, até Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro.

De acordo com eles, em áreas sob influência de águas mais frias, como a região dos Lagos, no Rio de Janeiro, os animais são entre 25% e 100% maiores do que os encontrados em regiões mais quentes, como o litoral paulista.

Para chegar nessa conclusão, os pesquisadores coletaram dados em mais de 60 costões para garantir que todos os indicadores estivessem sob influência de um mesmo regime de estação climática e para avaliação da predação entre as espécies principais. Também foram feitos experimentos para testar como os efeitos das mudanças climáticas podem influenciar a predação entre os animais.

Junto com o trabalho em campo e análises em laboratório, também foram realizadas etapas de sensoriamento remoto e modelagem, para obter dados de monitoramento de satélite da temperatura do oceano, da descarga de água doce por rios na zona costeira e da força de impacto das ondas. O objetivo era entender como cada um desses fatores variava em uma escala de menos de 10 km ao longo da costa.

Com isso, os pesquisadores descobriram que a maior parte das espécies avaliadas tende a ser menor em áreas de água mais quente. Em um ambiente mais frio, animais do tipo filtradores, como cracas e mexilhões, são 25% a 35% maiores; os carnívoros chegam a ser 50% maiores e os herbívoros ficam até 130% maiores.

Uma das explicações para essa diferença é que, em águas mais quentes, os animais tendem a alcançar a maturidade sexual mais cedo. Assim, investem energia em crescimento por menos tempo e ficam menores, depois colocando mais energia na reprodução.

Outra teoria é a que a região dos Lagos é influenciada por um processo de ressurgência, que traz nutrientes do fundo do oceano e enriquecem a água, podendo dar mais energia para a cadeia alimentar.

Impactos das mudanças climáticas na vida marinha

Outro ponto da pesquisa era tentar compreender como as populações de animais marinhos se diversificam frente a um ambiente que tem um gradiente de temperatura que varia naturalmente. Segundo os pesquisadores, entender seu funcionamento os permite extrapolar os potenciais impactos do aumento da temperatura do oceano.

Para isso, os pesquisadores buscaram costões com diferentes graus de impacto das ondas. Em áreas com mais influência de ondas, havia um grande número de cracas 50% maiores, já do caracol saquartitá (Stramonita brasiliensis) havia o triplo.

Segundo os estudiosos, a explicação para essa diferença pode estar ligada ao aumento na chegada de nutrientes, alimento e larvas por meio das ondas. Em costões próximos e distantes à foz de rios, foi avaliado a influência da água doce na biodiversidade.

“Em um cenário de mudança climática, um costão rochoso próximo a um rio que traz mais água das chuvas intensas, sob exposição das ondas que aumentam na ressaca e em um oceano mais quente, teremos aumento de mexilhões e diminuição da predação sobre eles, o que faz com que este animal se torne mais abundante, domine o espaço e altere toda a biodiversidade natural do ambiente. Este é um exemplo a partir da perspectiva de uma única espécie”, disse o professor da Unifesp e coordenador do projeto, Ronaldo Christofoletti em entrevista à Agência Fapesp.

Fonte: Terra

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