(da Redação)
Ativistas de direitos animais da Austrália têm elevado o tom contra a chocante prática de exportação de animais vivos pelo país, chamando os eleitores a considerar as experiências cruéis sofridas por esses animais e pedindo que os mesmos exijam posicionamento claro de seus candidatos quanto a este tema. As informações são do IB Times.
Os direitos animais são um assunto pungente na Austrália e uma questão delicada para os partidos políticos. Mesmo que eles declarem preocupação com a crueldade impingida, por outro lado agem de maneira reticente e evitam assumir posições contra a exportação de animais.
A chamada “exportação de carga viva” é uma atividade comercial majoritária na Austrália e importante para sustentar negócios e empregos em diversas partes do país.
Nesta eleição, no entanto, os ativistas estão conseguindo criar grande impacto. O ABC’s Vote Compass, site que mede intenções de voto, identificou que a questão da exportação de animais vivos está no topo da lista entre trinta questões determinantes da escolha de voto nas eleições.
“Se o lucro fosse a única medida para validar negócios, então o comércio de armas, o tráfico de drogas e a prostituição poderiam exigir status legítimo”, argumenta Roslyn Wells, ativista de direitos animais, em um artigo.
“Considerações éticas também devem ser levadas em conta, especialmente quando vêm desses vulneráveis animais, e a exportação de animais vivos claramente falha em um teste ético”, explicou Roslyn.
As ações dos ativistas receberam um impulso em Maio de 2011, quando a ABC levou ao ar o programa “A Bloody Business” (que significa “Um negócio sangrento”). O programa exibiu a crueldade para com os animais que são exportados vivos para abatedouros na Indonésia. A reação do público foi instantânea. O então governante temporário Gillard suspendeu a prática da exportação para a Indonésia e ordenou que as alegações fossem investigadas.
Diversos esforços pela mídia, mais tarde, revelaram o suplício dos animais exportados pela Austrália, após extenuantes viagens marítimas, no Paquistão e no Oriente Médio, que são os maiores mercados para “gado” vivo.
A intensidade do debate também pode ser mensurada em resultados de pesquisas pré-eleitorais contraditórias e conflitantes que grupos rivais usam para argumentar de que lado os eleitores deverão pender.
Em uma dessas pesquisas, a World Society for the Protection of Animals (WSPA) concluiu que 86% dos australianos estavam mais propensos a votar em um candidato que apoie o fim da exportação de animais vivos. Entre o eleitorado de uma classe econômica inferior, a pesquisa apontou que 61% dos eleitores teriam preferência por um candidato que defenda o fim imediato desse comércio.
Nesse meio tempo, o Conselho de Exportadores de Gado Vivo da Austrália disse que as pesquisas de 2012 conduzidas pela Federação Nacional de Fazendeiros encontraram apoio esmagador para este comércio. Afirmou-se que entre 65 e 70% das pessoas concordavam com a exportação dos animais.
A gravidade do tema
O assunto já foi tratado em matérias publicadas pela ANDA em 2011 e 2012, em que se anunciavam informações estarrecedoras , tais como:
“As viagens de transporte desses animais chegam a durar, muitas vezes, quase um mês. Eles viajam em gaiolas apertadas e sujas, nas quais são obrigados a ficar em contato direto com os seus dejetos. Há uma taxa alta de mortalidade a bordo, mas considerada dentro das expectativas da indústria. Cerca de metade das mortes a bordo são causadas por inanição pois as ovelhas, acostumadas a comer grama, são incapazes de digerir a dieta pastosa que lhes é forçada. Outras causas de morte são: infecção, calor, stress, problemas de ventilação, e as lesões resultantes do manuseio abusivo e do mar agitado.”
Ativistas dizem que os animais vendidos para estes mercados têm suas gargantas cortadas enquanto estão plenamente conscientes, para serem mortos com fins de servir à alimentação humana. Esse é um método de abate prescrito pela religião muçulmana.
Como se não bastasse, parte desses animais que chegam aos países muitas vezes é rejeitada quando há cismas de que estejam com alguma doença.
Em 2012, segundo informações da Animals Australia em matéria publicada pela ANDA , 21 mil ovelhas com suspeitas de estarem doentes foram rejeitadas em Bahrain e despejadas no Paquistão, onde o governo ordenou que fossem exterminadas. Passaram-se duas semanas e os animais provaram estar saudáveis, mas metade deles ou foi morta, ou “desapareceu”.
A ONG também relata que ovelhas consideradas suspeitas de portarem doenças são enterradas vivas:
“Como uma massa gigante de lã, sujos e cheios de sangue, elas jazem em covas – com cortes abertos, esfaqueadas ou mortas a paulada, muitas ainda se remexendo com alguma vida nelas, antes de serem enterradas vivas.”
Atualmente a Austrália exporta mais de 3 milhões de animais vivos para serem abatidos a cada ano – principalmente bovinos, ovelhas e cabras – para mercados do Oriente Médio, da Ásia, da África do Norte e das Filipinas, pois nestes países não existem as chamadas “leis de bem-estar animal”, que são aquelas leis falaciosas criadas para enganar as pessoas de que os animais criados para consumo humano são tratados dentro de normas consideradas aceitáveis e são mortos de maneira “menos agressiva”.
Se os animais já são absurdamente maltratados e explorados mesmo onde existem tais leis, nos países onde sequer elas existem pode-se pressupor o absoluto “vale tudo” no tratamento aos animais. Mas a conclusão é que morte é morte, exploração é exploração, o ser humano não pode considerar-se capacitado para estabelecer gradação para a dor alheia – no caso, dos animais não-humanos.
Em outras palavras, não se pode ousar falar em leis de bem-estar animal se estes animais são criados para serem mortos e para servirem ao homem, e aí reside a grande contradição esquizofrênica da expressão “leis de bem-estar animal” criada pelos humanos.
Nota da redação: A respeito do assunto, é importante citar que o Brasil também participa desse mercado, exportando bovinos da região Amazônica para serem mortos no Oriente Médio, e vale repetir trechos da matéria publicada na ANDA em 2011 e citada acima:
“Para o gado, a agonia pode durar até 90 segundos. Animais aterrorizados escorregam no chão coberto de sangue enquanto são forçados a assistir os seus companheiros serem abatidos. Não há instalações de contenção para controlar os animais em pânico que estão desesperados para fugir. As vítimas são arrastadas para a área de abate por uma perna, e ao baterem a outra perna no chão em resistência, muitas vezes fraturam os ossos. O vídeo também mostra funcionários dos matadouros lutando para controlar os animais assustados, cortando-lhes os tendões das pernas, quebrando-lhes os joelhos com martelos, quebrando as suas caudas, e ferindo os seus olhos. Um animal com uma perna quebrada foi torturado por 26 minutos antes de ser morto.”
“Uma filmagem secreta mostra ovelhas sendo enforcadas com fios e colocadas à força em porta-malas de carros, sem espaço para se moverem e em um calor sufocante, para a viagem para a casa do comprador. Uma vez no seu destino, são carregadas pelas pernas amarradas que frequentemente se quebram, e caem no chão. Elas estão totalmente conscientes enquanto suas gargantas são cortadas, contorcendo-se em seu próprio sangue por mais de um minuto antes de perder a consciência.”
E por último mas não menos importante: embora seja legítima a luta desses ativistas, nunca é demais lembrar que os animais, quando não são exportados vivos e em tais condições cruéis, são exportados mortos em forma de carne e suas mortes já ocorreram antes de serem “exportados” – mortes por sua vez sempre injustas, sempre violentas, pois qualquer matança arbitrária é por si só dolorosa e constitui uma violência contra o direito básico à vida. E a maioria dos países exporta, se não animais vivos para serem mortos em outros países, animais já mortos em pedaços para servir ao questionável paladar humano.