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DESCOBERTA

Técnica com DNA revela 135 mil elefantes de espécie pouco conhecida, afirma IUCN

Antes confundidos com outra espécie, estes grandes animais foram agora monitorados pelo seu material genético e uma abordagem detalhada sobre o terreno onde vivem na África

27 de novembro de 2025
Marco Britto
5 min. de leitura
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Foto: F. Maisels@WCS/IUCN/Divulgação

A IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) publicou nesta quinta-feira (27/11) a primeira contagem dos elefantes-da-floresta africanos, espécie ameaçada de extinção. Antes confundidos com o elefante-da-savana, estes grandes animais foram agora monitorados com uso de DNA e uma abordagem detalhada sobre o terreno onde vivem. São cerca de 135 mil vivendo na natureza, afirma o levantamento.

As técnicas usadas permitem afirmar que 94% de todos os elefantes-da-floresta africanos contabilizados agora se baseiam em estimativas cientificamente robustas, em comparação com apenas 53% na medição da década passada, que sobrepunha espécies diferentes.

A IUCN ressalta que os elefantes-da-floresta africanos permanecem criticamente ameaçados de extinção na Lista Vermelha da IUCN, sob pressão da caça e da destruição de habitat.

“Este relatório demonstra que as ações de conservação estão funcionando para esses animais icônicos, que são ‘jardineiros’ cruciais da floresta, essenciais para a dispersão de sementes de árvores. Com esses novos dados, temos uma oportunidade sem precedentes de concentrar os esforços de conservação onde eles são mais necessários e dar à espécie uma chance real de recuperação”, afirmou a dra. Grethel Aguilar, diretora-geral da IUCN.

Os elefantes-da-floresta-africanos (Loxodonta cyclotis) foram avaliados independentemente pela primeira vez neste relatório da união, separados dos elefantes-da-savana-africanos (Loxodonta africana) após seu reconhecimento como espécies distintas em 2021.

“Os números atualizados não devem ser interpretados como crescimento populacional, mas sim como resultado de uma melhor cobertura de levantamento possibilitada por métodos baseados em DNA. Essas técnicas reduziram significativamente a incerteza nas estimativas de detecção e nos permitiram avaliar áreas que antes eram inacessíveis”, disse o professor Rob Slotow, copresidente do Grupo de Especialistas em Elefantes Africanos da IUCN SSC.

Técnica com DNA muda perspectiva sobre os elefantes

Os elefantes-da-floresta africanos são difíceis de contar, pois vivem sob a cobertura da floresta tropical. Até então, relatórios têm se baseado em uma combinação de estimativas e palpites fundamentados.

As estimativas analisam áreas pesquisadas, tornando-as as contagens mais confiáveis. Os palpites – que utilizam conhecimento local, sinais de habitação, uso da área pelos elefantes, contagens com menor rigor do que as estimativas, etc. – são usados ​​quando levantamentos completos não são possíveis.

A avaliação mais recente incorpora a captura-recaptura de DNA, um método que primeiro identifica as “impressões digitais” genéticas únicas de elefantes individuais a partir de amostras de fezes. Ao comparar as “capturas” iniciais com as “recapturas” subsequentes, os cientistas podem calcular o tamanho da população com muito mais confiabilidade, afirma a IUCN.

Este foi o método usado no recente levantamento nacional do Gabão, fundamental para fornecer uma estimativa mais precisa da população de elefantes, revelando um número muito maior do que em 2016. Levantamentos adicionais, no norte da República Democrática do Congo e em Cabinda (Angola), adicionaram entre 600 e 700 elefantes à categoria de “nova população”.

Avanço da ‘civilização’ pressiona espécie, diz IUCN

A África Central, com vastas extensões de floresta tropical intacta e baixa densidade populacional humana, continua sendo o principal reduto dos elefantes da floresta, abrigando pouco menos de 95% da população global.

O Gabão abriga 66% destes elefantes, e a República do Congo (RDC), 19%.

Apesar da melhoria dos dados, os declínios continuam em algumas áreas, como na Reserva de Vida Selvagem de Okapi (RDC) e o complexo W-Arly-Pendjari (Burkina Faso), que perderam cerca de 7.000 elefantes no total, segundo o levantamento.

“Embora as taxas de caça tenham diminuído, o abate ilegal para obtenção de marfim continua sendo uma ameaça na África Central e Ocidental. A expansão das operações de mineração, o desenvolvimento de rodovias e ferrovias e os projetos agrícolas em larga escala, incluindo o óleo de palma, estão fragmentando o habitat e empurrando os elefantes para áreas florestais cada vez menores”, observa a organização.

De acordo com a avaliação mais recente da Lista Vermelha da IUCN, os elefantes-da-floresta africanos sofreram um declínio de mais de 86% ao longo de 31 anos, até 2015, impulsionado principalmente pela caça e pela perda de habitat. A baixa taxa reprodutiva da espécie dificulta ainda mais a recuperação.

“Dados precisos e atualizados são essenciais para entendermos o estado dos elefantes-da-floresta africanos e fortalecermos sua proteção. Este relatório traz uma notícia positiva sobre essas espécies cruciais, ao mesmo tempo que ressalta a importância de continuarmos a combater as ameaças às populações de elefantes-da-floresta africanos”, afirma Yuta Masuda, diretor de ciência da Allen Family Philanthropies, uma das instituições financiadoras da pesquisa.

Fonte: Um só Planeta

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