Uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém permite testar novas drogas sem realizar testes em animais. Representando uma revolução na ciência, essa tecnologia pode salvar milhões de animais explorados em laboratórios utilizando um microchip produzido com tecido humano capaz de simular as reações do organismo de uma pessoa.
Através do tecido, sensores microscópicos possibilitam o monitoramento, com precisão e em tempo real, respondendo ao corpo com tratamentos com medicamentos específicos. Os cientistas testaram, por meio de introdução de cisplatina (medicamento tradicionalmente de câncer), a eficácia do chip que replicou o efeito da droga em humanos e demonstraram que o remédio provoca acúmulo de gordura nos rins.
Posteriormente ao teste, a cisplatina foi introduzida em conjunto com a empagliflozina, um medicamento para diabetes. Provou-se, através da reação do chip a essas substâncias, que a empagliflozina, em presença da cisplatina, consegue diminuir a gordura nos rins.
Esse sucesso foi publicado na revista científica Science Translational Medicine e os pesquisadores reivindicaram a patente e a aprovação de um novo remédio sem a realização de testes em animais para a agência de saúde dos EUA, Food and Drug Administration (FDA). O medicamento é uma combinação da cisplatina com empagliflozina, para ser usado no combate à esteatose hepática (excesso de gordura no fígado).
O diretor do Centro Alexander Grass de Bioengenharia da Universidade de Jerusalém, Yaakov Nahmia, informou ser a primeira vez que solicitam a aprovação de uma droga sem testes em animais.
Ele explica que esses testes, além de prejudicarem a saúde desses seres, muitas vezes fornecem resultados imprecisos. “Os animais possuem genética, fisiologia e metabolismo diferentes dos nossos. Por isso, muitas vezes, falham em replicar a resposta humana, por mais próximos que possam parecer”, afirmou.
Uma análise da FDA apontou que 92% dos medicamentos aprovados em testes com animais falham quando aplicados em humanos.
Os testes em animais são demorados levando, no mínimo, quatro anos para apresentarem resultados consideráveis. E, conforme Nahmia, podem custar milhões de dólares. Contudo, o medicamento criado pelos pesquisadores de Jerusalém teve conclusão em apenas oito meses, por uma fração do custo e sem uso de bichos.
“Podemos economizar tempo, dinheiro e, principalmente, sofrimento desnecessário”, garantiu o cientista.
Princípio dos 3Rs
O “princípio dos 3Rs” foi criado pelos pesquisadores William Russel e Rex Burch no fim da década de 50. O movimento foi criado para proteção dos animais usados em testes.
Os 3Rs correspondem às iniciais, em inglês, de Reduction, Refinement e Replacement (redução, refinamento e substituição).
Por “redução” entende-se a preocupação em diminuir o índice de seres vivos utilizados em experimentos. O “refinamento” procura minimizar a dor e o estresse do animal, por meio de melhores condutas em uma pesquisa. E “substituição” busca constantemente por métodos alternativos ao uso de animais em testes.
Os 3Rs estimulam o desenvolvimento de melhores modelos e ferramentas que se assemelham mais à biologia humana, com mais eficácia e segurança, além de poupar sofrimento.