Você sabia que o tatu-canastra é conhecido como o “engenheiro do ecossistema”? Esse animal constrói tocas com um “ar-condicionado natural”, que servem de abrigo para diversas outras espécies no Pantanal.
Imagine um dia de calor intenso no Pantanal. Naturalmente, a primeira escolha para se refrescar é a sombra de uma árvore.
Agora, imagine um ambiente ainda mais fresco e acolhedor, como o interior de uma toca de tatu-canastra, onde a temperatura se mantém em agradáveis 24ºC.
O biólogo Gabriel Massocato, coordenador das ações de campo do no Pantanal, explica que, assim como nós buscamos conforto em locais frescos, os animais do Pantanal e do Cerrado também procuram abrigos climatizados — e as tocas do tatu-canastra são perfeitas para isso.
“Os animais buscam se refugiar embaixo de uma sombra, mas, se encontram uma toca de tatu-canastra, têm a opção de se abrigar na areia fresca em frente à entrada ou nas profundezas da toca, onde a temperatura é sempre estável em torno de 24ºC”, comenta Massocato.
O título de “engenheiro do ecossistema” é dado a espécies capazes de modificar o ambiente e beneficiar outras através de suas construções.
“O tatu-canastra cava suas tocas para dormir e se abrigar, e outros animais aproveitam essa engenharia”, explica o biólogo.
Como essas tocas são construídas?
Massocato detalha que as tocas do tatu-canastra são cavadas em áreas florestadas, onde a temperatura ambiente é naturalmente mais baixa do que em áreas abertas.
Com 1,5 metro de profundidade e até 4 metros de comprimento, as tocas atingem camadas de solo mais frescas e úmidas, mantendo uma temperatura constante de 24ºC.
Nos dias frios, as tocas também oferecem proteção, pois a floresta retém calor, criando um refúgio quente para os animais.
Essa constância de temperatura foi comprovada após a instalação de termômetros nas tocas pelo projeto.
“As tocas são tão grandes que a entrada pode ser quase o dobro da circunferência da cabeça de uma pessoa. Dependendo do solo e da idade da toca, a abertura pode aumentar naturalmente”, relata Massocato.
Como outros animais se beneficiam?
No Pantanal, um tatu-canastra cava uma nova toca a cada três dias, criando uma rede de abrigos em seu território, que pode chegar a 2.500 hectares.
“O tatu precisa mudar de toca para buscar alimento, proteger-se de predadores e se reproduzir. As tocas abandonadas acabam servindo de abrigo para outras espécies”, explica Massocato.
Mais de 100 espécies de vertebrados e 300 de invertebrados foram registradas usando essas tocas.
Jaguatiricas, cachorros-do-mato, roedores, aves, serpentes e anfíbios utilizam as profundezas para se proteger do frio e do calor intensos.
Já animais maiores, como tamanduás-bandeira e queixadas, preferem descansar na areia fresca em frente à entrada, sob a sombra das árvores.
Além de abrigo, as tocas também são fontes de alimentação. Muitos insetos habitam esses locais, atraindo predadores em busca de alimento.
O tatu-canastra é atualmente classificado como vulnerável, correndo risco de desaparecer em algumas regiões do Mato Grosso do Sul e da América do Sul.
Segundo dados do Projeto Tatu-canastra, no Pantanal da Nhecolândia, há apenas 7 a 8 indivíduos por 100 km².
Fonte: Primeira Página