Após encabeçar a campanha que ajudou a tornar o tatu-bola o mascote da Copa, a cidade de Crateús, no sertão do Ceará, adotou o animal em risco de extinção como símbolo. O tatu-bola ganhou uma escultura na principal praça do município, é brinde nas lojas e estampa a fachada de casas.
A associação Caatinga, que lançou a campanha pelo tatu-bola como mascote e trabalha na preservação da espécie, recebeu apoio dos poderes públicos para conservação do animal, mas defende que o Fuleco seja usado como “embaixador” da causa ambiental.
Com os novos planos de preservação, o objetivo da associação Caatinga é tirar o tatu-bola da categoria “em perigo” na escala de risco de extinção para um nível abaixo, “vulnerável”, nos próximos cinco anos.
“Houve um projeto de preservação da [área ambiental] Caatinga. O Governo Federal lançou um projeto de preservação e ele será priorizado como espécie de preservação. Nós também lançamos a campanha ‘Eu apoio o tatu-bola’. A coisa está se mexendo, apenas não tivemos o Fuleco como mensageiro da boa nova, então não houve grande interesse”, afirma Rodrigo Castro, secretário-executivo da Associação Caatinga.
Os membros da associação entraram em contato com a Fifa para que o mascote da Copa do Mundo, o Fuleco, divulgasse o risco de extinção do tatu-bola e alertasse a população para a importância da preservação do animal. A associação diz que não teve retorno da Fifa sobre a proposta.
Em resposta ao G1, a Fifa diz que ofereceu recursos financeiros “muito maiores que os disponíveis para todas as ONGs apoiadas pela Fifa em todo o mundo”, mas teve a oferta recusada por ser considerada “insuficiente”.
O órgão diz também que ofereceu à Caatinga a oportunidade de participar de um processo de licitação para o programa de compensação de carbono da Copa do Mundo, “mas infelizmente essa organização não cumpriu os critérios de certificação necessários”. Por fim, a Fifa afirma que desde 1998, investiu quase US$ 2 bilhões em projetos de desenvolvimento, sendo US$ 800 milhões entre 2011 e 2014.
Na avaliação de Castro, a cidade de Crateús, onde foi iniciada a campanha pelo tatu-bola como mascote, “incorporou” o animal como uma causa ambiental. “A Prefeitura [de Crateús] tem trazido mais apoio em virtude da visibilidade, com a presença de reportagens no município. No Ceará, há uma identidade maior com o animal após a campanha, mas há, no âmbito federal, pouco reconhecido, isso em função da Copa do Mundo não ter se apropriado da imagem do ambiente do animal”, diz.
Serra das almas
A área de preservação do animal no Ceará fica na Serra das Almas, divisa entre o Ceará e Piauí. O local é dirigido pela associação Caatinga, que possui uma residência a 50 quilômetros da cidade mais próxima. Na casa, há espaço para estudo de espécies nativas e desenvolvimento de programas educativos e ecológicos.
“Nós desenvolvemos a preservação do tatu-bola em três vertentes: investimento em pesquisa da espécie, porque ainda temos pouco conhecimento sobre ele; um conjunto de ações para reduzir a perda do habitat, combatendo queimadas e desmatamentos; e trabalho para acabar com a caça, com trabalho educativo para cessar a caça do tatu-bola”, explica Rodrigo Castro.
A área serrana é mapeada e com câmeras fotográficas que disparam automaticamente com o movimento dos animais. A partir das imagens captadas, o grupo estuda a área e o comportamento do tatu-bola.
Símbolo da cidade
Desde a campanha em 2012 para tornar o tatu-bola o mascote da Copa, a cidade de Crateús adotou o animal como símbolo do município. Fábio Morais recebeu uma miniatura do tatu-bola de brinde em uma farmácia, como promoção do comércio local. “A cidade adotou o tatu. Depois de tantos anos de caça, a situação se reverteu, e o animal está recebendo a preocupação que merece. Outros animais, vários outros em risco de extinção, também merece”, diz Fábio.
O tatu-bola – e não o Fuleco – também estampa fachada de casas e ganhou uma escultura de engrenagens. A obra é do artista plástico Miguel de Paula e fica exposta permanentemente na praça Dom Fragoso, no centro da cidade.
Extinção
O tatu-bola (Tolypeutes tricintus) é uma espécie que vive apenas no Nordeste Brasileiro, e atualmente está no nível de extinção “em perigo”. Rodrigo Castro explica que “muito sobre o animal ainda precisa ser estudado”, mas os pesquisadores já têm certeza de que ele é “muito sensível” a mudanças ambientais, o que pode agravar o risco do animal desaparecer.
O animal se alimenta de cupins, deixa a toca para se alimentar em períodos menos quente do dia, produz em média um filhote por ano, um reprodução considerada lenta na naturza. O tatu-bola tem o olfato bastante apurada e uma visão “privilegiada”.
Fonte: G1