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Tartarugas-verdes sofrem com tumor provocado por infecção viral na Baía de Guanabara (RJ)

29 de agosto de 2022
3 min. de leitura
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Foto: Custódio Coimbra | Agência O Globo

À primeira vista, a imagem encanta. Tartarugas-verdes nadam na Baía de Guanabara (RJ), em um dia de águas claras, às margens da Marina da Glória. Conferida mais de perto, a cena é chocante: os animais aparentemente estão tomados por fibropapilomatose, tumor provocado por uma infecção viral que pode fazer com que percam a visão, os movimentos e a vida.

“A suspeita é de uma infecção que pode ocorrer associada a fatores ambientais. A fibropapilomatose se caracteriza pelo aparecimento de inúmeros tumores na pele do animal, que também podem afetar os órgãos internos” alerta Rafael Franco, biólogo marinho e gerente técnico do AquaRio. “Infelizmente, casos assim são comuns e prejudicam muito a saúde do animal. Podem aparecer feridas também, que passam a ser outra entrada de bactérias. Afetam a mobilidade, a visão e a alimentação”.

Bruno Meurer, coordenador do Núcleo de Ciências Biológicas da Universidade Santa Úrsula, explica que a fibropapilomatose é uma doença caracterizada pela presença de múltiplos tumores benignos, muito semelhante à herpes.

“Não há nada que comprove que isso seja causado por poluição, mas existem hipóteses de que a poluição possa trazer baixa imunológica para as tartarugas marinhas, o que faz com que o vírus se manifeste. Assim como a herpes, quando temos o vírus, se manifesta em nós”, explica. “Mas é claro que um ambiente marinho equilibrado e não poluído pode manter um sistema imunológico equilibrado e prevenir essas doenças”.

Ainda que na intenção de ajudar, alguns pescadores buscam retirar os tumores, que parecem verrugas. Meurer avisa que isso não deve ser feito.

“É muito importante não arrancar esses tumores porque a infecção no ambiente marinho acontece de forma rápida e intensa, as bactérias se proliferam rapidamente”.

Ele é enfático em dizer que a Baía de Guanabara é o lugar do Rio de Janeiro com mais armadilhas para as tartarugas. E a ameaça não é só o canudo, vilão flagrado em imagem que viralizou e comoveu o mundo.

“Os resíduos sólidos são os maiores vilões. Plástico de uma maneira geral. Além da poluição, (a baía) é um lugar que tem muito resíduo sólido, o animal se alimenta desse lixo e morre”, diz Meurer, ressaltando que essa é uma responsabilidade compartilhada. “Todos têm que cuidar para que o lixo não chegue ao mar. Por ser uma espécie carismática, as pessoas se sensibilizam com a causa. Mas, se a população evitar que o lixo chegue ao mar para cuidar da tartaruga marinha, vai estar salvando outras espécies também”.

O biólogo Mário Moscatelli responsabiliza projetos malsucedidos de despoluição da Baía de Guanabara e propõe soluções para atacar o problema. Em sua lista, estão a aplicação severa das leis ambientais, melhorias no saneamento, instalação das 17 ecobarreiras (apenas quatro estão operando) e campanhas educativas.

“Nada disso foi prioridade do poder público. Afinal, é da desordem que vêm o lixo e muito do esgoto que fluem pelos rios e atingem a baía e sua fauna”, diz. “Não há mágica para combater as consequências de décadas de impunidade e delinquência ambiental generalizada. O monstro é grande, mas podemos abatê-lo”.

Boa notícia

Uma novidade reforça a esperança de Moscatelli: em junho deste ano, a tartaruga-verde e outras três espécies de tartaruga marinha saíram da Lista Oficial das Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Fonte: Extra

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