Publicada na revista Frontiers in Marine Science, uma pesquisa liderada por cientistas australianos identificou que metais pesados como cádmio e antimónio, junto com certos contaminantes orgânicos, podem causar a feminização dos embriões das tartarugas-marinhas verdes (Chelonia mydas), uma espécie já em risco de extinção devido à atual falta de filhotes machos.
O sexo das tartarugas marinhas verdes é determinado pela temperatura da areia na qual os ovos são depositados. Segundo a WWF Austrália, temperaturas acima de 29o C produzem filhotes fêmeas e temperaturas mais baixas, machos. Assim, hoje, no norte da Grande Barreira de Corais, por exemplo, mais de 99% dos filhotes são fêmeas. A organização, em parceria com a University of Queensland, tem liderado o Projeto Resfriando Tartarugas (em tradução livre), que pesquisa formas de reverter esse cenário, resfriando a temperatura das areias ou induzindo a reprodução da espécie em praias com temperaturas mais baixas.
O estudo recém publicado faz parte do mesmo projeto, mas indica que os esforços feitos até agora podem não ser suficientes. “Nossa pesquisa mostra que o risco de extinção devido à falta de tartarugas marinhas verdes machos pode ser agravado por contaminantes que também podem influenciar a proporção sexual das tartarugas marinhas verdes em desenvolvimento, aumentando a preferência pelas fêmeas”, explicou o Dr. Barraza, da Griffith University, autor principal do estudo em relato publicado pela própria universidade.
Metodologia da pesquisa
Os autores do estudo coletaram 17 ninhadas de ovos duas horas após a postura e os enterraram novamente ao lado de sondas que registravam a temperatura do ninho e da superfície da praia a cada hora.
Quando os filhotes emergiram, seu sexo foi determinado bem como os níveis de 18 metais e de contaminantes orgânicos, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), bifenilos policlorados (PCBs) e éteres difenílicos polibromados (PBDEs).
“Todos esses contaminantes são conhecidos ou suspeitos de funcionar como ‘xenoestrogênios’ ou moléculas que se ligam aos receptores dos hormônios sexuais femininos”, disse o autor sênior Dr. Jason van de Merwe, ecologista marinho e ecotoxicologista do Australian Rivers Institute.
Embora a proporção sexual final variasse entre as ninhadas, a maioria dos ninhos produzia predominantemente filhotes fêmeas, sendo que quanto maior a quantidade de oligoelementos estrogênicos, particularmente antimônio e cádmio, no fígado dos filhotes, maior o preconceito feminino dentro do ninho.
“A partir destes resultados concluímos que estes contaminantes imitam a função do hormônio estrogênio e tendem a redirecionar as vias de desenvolvimento para as mulheres”, disse o Dr. Barraza.
O estudo foi conduzido na Ilha Heron, local onde a proporção sexual é atualmente mais equilibrada do que perto do equador, com duas a três fêmeas eclodindo para cada macho.
Origem dos poluentes
Segundo os pesquisadores, o acúmulo desses contaminantes pelas tartarugas fêmeas acontece nos locais onde elas buscam por alimento. À medida que os ovos se desenvolvem dentro dela, eles absorvem esses metais e outras substâncias contaminantes e os guardam no fígado dos embriões, onde podem permanecer por anos após a eclosão.
Agora, os cientistas buscam determinar quais compostos específicos podem alterar a proporção sexual dos filhotes, para assim desenvolver estratégias que evitem que os poluentes feminizem ainda mais as populações de tartarugas marinhas.
Até lá, eles ainda destacam que: “Uma vez que a maioria dos metais pesados provém da atividade humana, como a mineração e o escoamento e a poluição proveniente de resíduos urbanos em geral, o melhor caminho é utilizar estratégias de longo prazo baseadas na ciência para reduzir a quantidade de poluentes que vão para os nossos oceanos”.
Fonte: Galileu