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RESILIÊNCIA

Tartarugas-marinhas vencem obstáculos e dão vida à única ilha desabitada de Cabo Verde

15 de outubro de 2024
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: Francisca Leal | LUSA

A Biosfera, uma associação ambiental de Cabo Verde, estimou que em 2024 cerca de 1.090 tartarugas desovaram na ilha desabitada de Santa Luzia, registando um pequeno aumento em comparação com 2023, apesar dos crescentes desafios que esses animais enfrentam para chegar às praias do arquipélago.

Segundo a bióloga Zuleica Duarte, membro da Biosfera, “as tartarugas continuam sofrendo no mar” devido ao aumento da pesca fantasma e do ‘by-catch’. A pesca fantasma ocorre quando as tartarugas ficam presas em redes de pesca abandonadas ou em outros detritos flutuando no oceano. Já o termo ‘by-catch’ se refere à captura acidental das tartarugas junto com outros peixes.

Apesar dessas dificuldades, os dados da Biosfera mostram um nível crescente no número de tartarugas que visitaram Santa Luzia entre maio e setembro. Duarte destaca que “nos últimos anos vimos um crescimento no número de desovas”, embora ainda distante do registo registado em 2021. Ela também explicou que as tartarugas-marinhas precisam de períodos de descanso, já que o processo de desova, repete várias vezes por temporada, é extremamente cansativa.

Diversas ilhas de Cabo Verde, como São Vicente, também são visitadas por tartarugas-marinhas. Este ano, Santa Luzia recebeu cerca de 1.090 tartarugas adultas, enquanto São Vicente, a segunda ilha mais populosa, foi escolhida por 222 delas. Em 2023, os números eram 1.086 para Santa Luzia e 175 para São Vicente.

As tartarugas depositaram cerca de 5.500 ninhos em Santa Luzia e 1.100 em São Vicente. No entanto, apesar do aumento nos ninhos, o número de voluntários em terra significativa. Segundo Duarte, a exigência de uma permanência mínima de duas semanas na ilha desabitada de Santa Luzia pode estar desestimulando a adesão. Ela ressalta a importância do apoio voluntário, afirmando que a associação não consegue realizar o trabalho sem essa ajuda.

Desde 1987, Cabo Verde possui uma legislação que protege as tartarugas-marinhas, proibindo a sua captura durante a época de desova. Em 2018, foram adotadas novas medidas, como a proibição da caça, transporte, comercialização e consumo desses animais.

Os dados divulgados pela Biosfera referem-se principalmente à tartaruga Caretta caretta, uma espécie emblemática e globalmente ameaçada, sendo Cabo Verde o segundo maior local de reprodução no Atlântico Norte. Além disso, em Santa Luzia foram identificadas outras espécies, como a tartaruga-verde e a tartaruga-oliva.

Em julho, a Biosfera inaugurou um viveiro na praia de Salamansa, em São Vicente, para onde foram transferidos 80 ninhos de áreas de risco, com o objetivo de aumentar a taxa de eclosão. Até o momento, já nasceram 1.631 filhotes.

O viveiro também está sendo utilizado para um estudo que investiga a influência da temperatura dos ninhos na determinação do sexo das tartarugas. “Com o aumento da temperatura, há uma tendência de nascerem mais fêmeas do que machos”, explicou Duarte, acrescentando que o estudo avaliará se a colocação de ninhos à sombra pode ajudar a equilibrar essa tendência. Os resultados são esperados até o final do ano.

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