Cientistas há tempos mapeiam habitats importantes em terra usando satélites e sensoriamento remoto. Mas no caso de áreas embaixo d’água, os desafios são maiores. A luz mal penetra alguns metros abaixo da superfície, o que impede satélites de ver manchas mais profundas de ervas marinhas, por exemplo, organismos cruciais na conservação da biodiversidade marinha e que ajudam na captação de carbono feita pelos oceanos, o chamado “carbono azul”.
Para mapear estes campos submarinos, cientistas da King Abdullah University of Science and Technology (KAUST) apelaram à ajuda de especialistas: tartarugas-marinhas, que buscam estes pontos com frequência para se alimentarem.
A equipe colocou transmissores em 53 tartarugas-verdes de quatro praias do Mar Vermelho, na Arábia Saudita, esperando até que as tartarugas terminassem de colocar seus ovos. A região foi escolhida pela deficiência de dados nesta parte do oceano, causada principalmente pela instabilidade política da região, observa a revista Science.
Como detalha o estudo publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B, depois que os animais nadassem para longe, transmitiriam suas coordenadas para os satélites toda vez que emergissem para respirar.
Os pesquisadores rastrearam as tartarugas por até um ano. Quando o caminho de uma delas se cruzava várias vezes no mesmo local, os cientistas presumiam que havia um campo de ervas marinhas naquele local.
No total, os répteis marcaram 34 pastos marinhos que nunca haviam sido registrados antes. Um terço estava a mais de 8 metros de profundidade, abaixo da profundidade visível na maioria das imagens de satélite.
Para verificar essas descobertas, os pesquisadores foram de barco para 22 dos locais identificados. Embora alguns fizessem parte do mesmo grande prado, a equipe confirmou ervas marinhas em todos os lugares que checaram, em um total de 14 manchas distintas.
Em seguida, para comparação, os cientistas buscaram 30 manchas de ervas marinhas identificadas por um mapa baseado em sensoriamento remoto, chamado Allen Coral Atlas, e descobriram que apenas 40% delas tinham de fato ervas marinhas, tornando as tartarugas uma ferramenta de mapeamento mais precisa do que as imagens de satélite.
Os pesquisadores coletaram ainda amostras do sedimento em cada mancha de ervas marinhas descoberta por tartarugas, e estimaram quanto carbono elas poderiam armazenar. Foi calculado um total máximo de 4 teragramas, quase tanto carbono quanto 900 mil veículos de passageiros emitem por ano.
Embora as tartarugas tenham se destacado neste teste, elas provavelmente não são infalíveis, observa James Fourqurean, ecologista marinho e especialista em ervas marinhas da Florida International University que não estava envolvido no estudo. As tartarugas-verdes podem evitar áreas com predadores, como tubarões. Outras podem não comer ervas marinhas, consumindo macroalgas, afirma o pesquisador. O método “não é perfeito, mas é uma ótima maneira de obter um mapa preliminar e, então, sair e verificar o que realmente está lá”.
Fonte: Um Só Planeta