O tanque de peixe-boi do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) abriga, atualmente, cerca de 50 exemplares da espécie. O local é o espaço onde eles passam por reabilitação. Três adultos estão em processo de reintrodução ao meio ambiente.
“Recebemos todos os anos, cerca de dez filhotes órfãos de peixes-bois, de instituições como o Ibama, o Batalhão Ambiental da Polícia Militar e da Secretaria de Meio Ambiente”, afirmou o diretor da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa), Jone Cesar Fernandes Silva. “É assim que tudo começa”, completou Jone.
A Ampa, organização não governamental, fundada no ano de 2000, com o objetivo de captar recursos para promover ações de proteção e conservação do peixe-boi da Amazônia, também abriga lontras neotropicais, ariranhas, botos vermelhos e tucuxis.
De acordo com o diretor da Ampa, os filhotes órfãos geralmente têm suas mães mortas por caçadores. “Antes da lei de 1967, a carne, o óleo e o couro do peixe-boi eram comercializados legalmente. Hoje em dia os caçadores o pegam somente para comer. Há dois tipos de caçadores, o de subsistência e os que comercializam a carne do animal, que é tida pelo provo como uma iguaria”, disse Fernandes.
Os filhotes chegam à Ampa debilitados pela falta de alimentação correta, no caso, o leite materno. “Fazemos exames, incluímos complexos vitamínicos e isolamos dos demais, aqueles filhotes que chegam enfraquecidos. Após esta primeira etapa de reabilitação, eles são encaminhados a pequenos tanques aquáticos que dividirão com outro filhote de peixe-boi, pelos próximos três anos”, informou o diretor.
Jone Fernandes explica que cada peixe-boi filhote consome, em média, cerca de 4 litros de leite por dia. “O leite que damos aos bebês é reproduzido artificialmente nos laboratórios da Ampa e foi criado a partir do leite materno da nossa ‘mãezona’, a Boo. Ela é a mais velha do parque, com 38 anos, e foi a primeira filhote a chegar aqui, ainda no ano de 1974”.
Quando na fase juvenil e adulta, os mamíferos aquáticos se alimentam essencialmente de frutas e verduras. De acordo com Fernandes, são digeridos cerca de 600kg de frutas, verduras, legumes e capim, todos os dias pelos 50 peixes-bois que habitam as instalações da Ampa, no Inpa.
Para tratar os animais, a Associação conta com a ajuda de seis tratadores e um veterinário, dedicados exclusivamente ao trato dos dóceis peixes-bois. Dispostos em três tanques, com 350 mil litros cada um, os animais são divididos por machos, fêmeas e os filhotes. “Apesar da calma e doçura da espécie, eles podem se mostrar agitados e nervosos na época de reprodução. Devido à ‘super população’ que já temos da espécie aqui no Bosque, tivemos de separar os machos das fêmeas”, explicou Fernandes.
Reabilitação
O diretor explicou que os animais resgatados passam por um processo de reabilitação, onde serão preparados para voltar à natureza. A primeira tentativa da associação foi em 2008, quando foram devolvidos dois machos adultos ao habitat natural. “Usamos o sistema de radiotelemetria, que consiste em plugar um transmissor na cauda do animal e acompanhar seu trajeto via radar. Infelizmente, não fomos felizes em nossa primeira tentativa. Um deles morreu encalhado devido à seca dos rios e o radar do outro se soltou e nós perdemos seu sinal”, afirmou o diretor da Ampa.
Para que o mesmo erro não aconteça, novas medidas foram tomadas para garantir a reintrodução segura do animal ao meio natural. “Temos um lago semi natural de 13 hectares para onde os peixes-bois são levados depois do período de reabilitação no Bosque. Desde novembro de 2011 que temos três adultos, dois machos e uma fêmea, em fase de adaptação no lago. Eles passarão de seis meses a um ano, dependendo de seu desenvolvimento, e no futuro tentaremos uma nova reintrodução na natureza”, finalizou Fernandes.
Fonte: G1