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Tamanduás resgatadas no Tocantins serão devolvidas ao habitat natural

31 de março de 2010
6 min. de leitura
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Vítimas das rodovias que recortam seu habitat natural, duas tamanduás-bandeira – mãe e filha- sobrevivem à devastação ambiental causada pelo homem. Pequena e frágil, Pepê caça com dificuldades a terra onde deveria dar os seus primeiros passos. A mãe, Leninha, aguarda pacientemente o retorno à mata.

Mãe e filha aguardam retorno à mata (Foto: O Girassol)

Na lista dos animais que correm o risco de extinção, o tamanduá-bandeira é um bicho singular encontrado no cerrado brasileiro e em outras regiões da América do Sul e Central. Seu bico comprido povoa a imaginação de crianças e adultos: desengonçado no andar, ele se alimente apenas de formigas, larvas e cupins. Porém, chega a comer 30 mil insetos por dia.

As tamanduás foram resgatadas no dia 13 de janeiro depois de serem atropeladas na BR 153, em Paraíso do Tocantins. Pepê, recém-nascida, não sofreu nenhuma lesão. Mas sua mãe, que a carregava nas costas (os tamanduás filhotes ficam mais de um ano nessa dependência), ficou impossibilitada de andar. “Ela teve uma fratura no ísquio (osso da pélvis) e uma no fêmur. Tínhamos que tentar manter a mãe sadia para que o filhote sobrevivesse”, lembra a veterinária Lucilândia Maria Bezerra, especialista em clínica de animais silvestres, proprietária da Arca dos Bichos e professora no curso de Biologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ulbra.

Lucilândia conta que as tamanduás foram levadas para a clínica pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins). “Eles deixaram aqui porque eu atendo animais silvestres. Mas o caso dela era grave e eu não sou cirurgiã, faço apenas a clínica”, conta a veterinária.

Num quartinho improvisado, separados dos animais domésticos, ela organizou a estadia da família. “Começamos uma batalha para tentar recuperar a mãe. Aqui no Tocantins não tem nenhum especialista nessa área. O Naturatins não deu nenhum retorno mesmo eu explicando a situação. Eles simplesmente largaram aqui”, recorda.

Durante dois meses, a tamanduá mãe suportou as dores das fraturas. Somente no dia 14 de março passou pelas cirurgias que a deixaria com condições de criar a filha no seu habitat natural. “Através dos meus alunos consegui as passagens para que o veterinário Wilson Ilávio, de Goiânia, viesse ao Tocantins realizar a cirurgia. Fiz vários pedidos ao Naturatins, mas eles não demonstraram nenhum interesse em recuperar a tamanduá”, desabafa Lucilândia.

As passagens foram doadas pelo deputado estadual Marcello Lelis (PV). Só assim o Wilson conseguiu realizar a operação. “Ele veio ao Estado porque se comoveu com a história dos tamanduás. Fez a cirurgia num domingo e voltou no mesmo dia, sem cobrar nada”, completa a veterinária.

Para manter a mãe e a filha na Arca dos Bichos, a veterinária diz gastar cerca de R$ 200 semanais. “A mãe não tem leite e a neném precisa se alimentar. Fizemos uma dieta com proteína vegetal associada à aveia, cenoura e beterraba. Batemos tudo no liquidificador com ração para cachorro”, explica a veterinária, que reclama não ter recebido nenhum apoio do Naturatins.

Segundo o biólogo do Naturatins Marlon Rodrigues, que levou os animais para a clínica, a veterinária “vai ser reembolsada pelos gastos que teve com os animais”. “Ela vai receber por isso, precisamos só aguardar um processo administrativo para paga-lá”, disse.

Pepê  é a abreviatura de Esperança, nome dado pelos funcionários da clínica. “Torcemos para que esses animais consigam sobreviver”, espera Lucilânda.

De volta para casa

O retorno dos tamanduás para o seu habitat natural está marcado para está semana. O local escolhido pelo Naturatins é a área de reserva legal da fazenda Água Fria, próxima a Guaraí, Norte do Estado. Mãe e filha ficarão sob responsabilidade do Instituto Ecos do Cerrado, que trabalha com o remanejamento de animais silvestres em parceria com proprietários rurais.

“Destinamos os animais para os mantenedouros de fauna que são associados ao instituto. Uma parceria com o curso de veterinária da UFT mantém o local”, conta Marlan.

O presidente do Instituto Ecos do Cerrado, Roberto Rinaldi, explica como acontecerá a recolocação dos animais. “Eles vão ficar numa área de mais de 4 mil hectares de reserva legal de uma fazenda que é parceira nossa. Um veterinário do Ibama ou do Naturatins fará o acompanhamento e decidirá a soltura das tamanduás. Temos também voluntários na fazenda que vão ficar por conta da alimentação” , detalha Rinald, que é italiano e está no Tocantins há cinco anos.

Segundo Rinaldi, o instituto possui uma área de 45 mil hectares destinada para a recolocação de animais recuperados. “São fazendeiros que colocam a sua área verde à disposição do projeto. É uma forma de mostrar aos proprietários que essa área também pode ser rentável”, completa.

O instituto  planeja fazer um levantamento dos animais que vivem nessas áreas. “Temos um pesquisador da Universidade Real da Inglaterra que virá ao Brasil conhecer a situação e fazer o mapeamento. O que sabemos é que aqui existem muitas espécies que precisam ser levantadas”, finaliza.

O Naturatins, órgão responsável pela fiscalização e preservação de animais silvestres, não possui nenhum programa de preservação dos tamanduás-bandeira, animal que corre sério risco de entrar em extinção. De acordo com biólogo Marlan Rodrigues, também não há no órgão nenhuma pesquisa que mapeie a situação dos tamanduás. Eles também não souberam informar a quantidade média de tamanduás que vivem no Estado. “Infelizmente não temos nenhum estudo sobre os tamanduás”, diz Marlan.

Segundo Lucilândia é comum encontrar tamanduás nas rodovias do Estado, principalmente à noite, quando o risco de acidentes é maior.

Animais correm riscos nas estradas

Leninha e Pepê  são personagens de uma tragédia diária. O desmatamento do Cerrado em favor da criação de gado, plantação de soja e cana-de-açúcar, destrói o meio natural desses animais. Empurrados pelo “crescimento econômico” em detrimento da preservação dos ecossistemas, restam a esses animais a fome das proximidades urbanas ou o risco das estradas.

O atropelamento de animais é um dos principais problemas causados pela construção de rodovias. O projeto Fauna Atropelada, do Naturatins, registra o número de animais atropelados na TO -010, que liga Palmas a Lageado. “Em dois meses fizemos cinco visitas e encontramos 19 animais atropelados”, detalham Marlon. Segundo o biólogo a proximidade da rodovia da Área de Preservação Ambiental de Lajeado modifica os hábitos dos animais, alterando os padrões de movimentação.

O Naturatins explica que o trabalho consiste em ações para complementar o conhecimento da fauna da área de influência da APA/Lajeado e do PEL, e, principalmente, identificar e quantificar as espécies acidentadas encontradas ao longo da rodovia. “Por enquanto estamos apenas identificando, para depois apresentar as soluções”, diz Marlon. Pássaros, cobras, tamanduás, macacos e raposas são os mais encontrados.

Quem encontrar algum animal silvestre acidentado nas rodovias do Estado, deve ligar para o telefone da Linha Verde – 0800 63 1155 – para que o Naturatins faça o resgate e a recolocação do animal.

Outros telefones úteis: CIPAMA (Companhia Independente da Polícia Militar Ambiental) – (63) 3218-2731 e Linha Verde do IBAMA – 0800 618080 .

Curiosidades

Um tamanduá  normalmente mede 1,20 metro de comprimento. A longa cauda pode ter quase o mesmo tamanho do corpo: de 60 a 90 centímetros. Eles vivem nas florestas e no cerrado e são muito comuns no Brasil (tamanduá-açu, tamanduá-grande, tamanduá-cavalo, jurumim, tamanduá-mirim, tamanduá-de-colete, papa-formiga).

Fonte: O Girassol

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