Era um pequeno camundongo, que virou a esquina beirando a guia. Eu tomava café com minha família e minha cadeira dava direitinho para o vidro que ladeava a padaria, permitindo que eu pudesse acompanhar todo o trajeto desse amiguinho anônimo, que apareceu não vi de onde e roubou alguns minutos meus. Admiro tanto a natureza por criar belezas em tudo, inclusive em animais que a maioria tem medo ou nojo; que vê e só pensa em fugir, gritar ou matar. Sorte desse orelhudo que ninguém assim ou pior apareceu. Ele subiu de uma vez a guia, enquanto eu torcia para que nada de ruim acontecesse com ele, e mais um salto deu até alcançar uma pequena jardineira, colada à padaria. Suspirei aliviado por ver que tinha chegado são e salvo. Caminhou um pouco entre os raminhos e flores multicores até encontrar um pequeno tampão de concreto em forma quadrada, cavar um pouquinho e desaparecer por debaixo. Acho que era alí seu esconderijo, sua casinha, seu porto seguro. Sonho com o dia em que animal algum precisará se esconder ou fugir de nós, sabe… “Rogério, viu passarinho verde? Estamos aqui falando com você”, disse minha tia. Vi sim, tia. Um peludinho, orelhudo e de nariz comprido, que brincou com o perigo, mas que deixou meu café mais feliz.