Por Luigi Jorio
Adaptação por Fernando Hirschy
Para a maioria dos pesquisadores, testes em animais é um mal necessário. Uma opinião não compartilhada por Ludovic Wiszniewski. O cientista demonstrou que existem alternativas.
Diretor executivo da start-up de biotecnologia Epithelix, Ludovic Wiszniewski, é o primeiro pesquisador a ter conseguido manter o epitélio respiratório humano vivo, in vitro, por mais de um ano.
Uma inovação que fez com que sua empresa, com sede em Genebra, recebesse vários prêmios internacionais, entre eles o Prêmio da Fundação W. A. Vigier do início de 2011, concedido pela Câmara de Comércio e Indústria Franco-suíça.
swissinfo.ch: Em 2010, o número de animais submetidos a experiências aumentou quase 8% na Suíça, em relação a 2009. Um desenvolvimento um tanto surpreendente, não?
Ludovic Wiszniewski: Não, não realmente. Recentemente, surgiram novas empresas que praticam a experimentação animal. Por seu lado, as grandes empresas farmacêuticas também intensificaram suas pesquisas, já que muitas patentes depositadas há mais de 20 anos estão se expirando. Adicionado a isso, também tem o aumento do número de experiências transgênicas realizadas em animais nos laboratórios das universidades.
swissinfo.ch: A tendência observada nos últimos vinte anos estava, no entanto, em baixa. Entre 1990 e 2010, o número de cobaias diminuiu quase 40%. Quais são as razões para esta diminuição?
LW: Não é uma diminuição real em si. Há 20 anos atrás, os estudos não eram sistematicamente catalogados e, portanto, os dados não são tão precisos. E, além disso, várias empresas começaram a praticar suas experiências no exterior.
Isto é particularmente o caso da China, onde a legislação pertinente é menos severa. Também devemos reconhecer que a lei teve o efeito de reduzir as experiências com animais, particularmente através da proibição da utilização de seres vivos na área dos cosméticos, por exemplo. E, finalmente, teve o surgimento das novas tecnologias de cultura celular.
swissinfo.ch: Em um nível puramente técnico, o animal representa mesmo um bom modelo biológico para o homem?
LW: Não. Vários medicamentos passaram nos testes feitos com animais, mas tiveram um efeito catastrófico sobre os seres humanos. Refiro-me especificamente a um produto desenvolvido para o tratamento da leucemia infantil: as crianças submetidas a este tratamento morriam mais cedo. Ou a talidomida, um sedativo anti-náusea para mulheres grávidas e retirado de venda porque provocava malformações no feto.
Também posso citar o Tamoxifeno, um contraceptivo eficaz com ratos, mas que teve um efeito contrário com as mulheres. E, finalmente, lembre-se que o resultado de um teste realizado com animais também pode depender do pesquisador. Em outras palavras, se o animal é capaz de perceber o estado de espírito do homem (nível de estresse), ele pode reagir de maneira diferente de um pesquisador para outro.
swissinfo.ch: Mas a história da medicina não é feita só de exemplos negativos…
LW: Sim, em algumas áreas, as experiências com animais têm sido úteis. Na cirurgia, por exemplo, onde os médicos podem operar em cobaias antes de intervir em um ser humano. Ou ainda, com a insulina, descoberta em cães e inicialmente isolada em porcos. Deve-se enfatizar, no entanto, que o conhecimento e os instrumentos atuais eliminam a necessidade de experimentação com seres vivos.
swissinfo.ch: Então, por que continuamos a usar animais?
LW: Há várias razões para isso. Primeiro, a lei exige. Antes de se comercializar um produto farmacêutico ou químico, deve-se avaliar o seu grau de toxicidade. No entanto, como eu disse, as reações observadas em animais podem ser diferentes das do homem.
E depois há também o peso das publicações científicas. Muitas revistas exigem que os testes em animais sejam realizados. E para o cientista, o sucesso do seu trabalho está diretamente relacionado com o número de publicações… É um modelo antigo que persiste especialmente com as experiências genéticas.
swissinfo.ch: Quais são as alternativas às experiências com animais?
LW: Primeiro, tem as culturas in vitro de células humanas. Podemos cultivar células ou induzir uma diferenciação, colocando-as em condições semelhantes às presentes no corpo humano. Assim, somos capazes de desenvolver mini pulmões.
E depois, há um modelo ex vivo: em vez de sacrificar dez animais para uma experiência, usa-se apenas um, o órgão escolhido é cortado em dez partes e aí se passa ao teste. Por fim, há também modelos de computador (in silico) que permitem previsões sobre toxicidade.
swissinfo.ch: Será que um dia um órgão humano inteiro poderá ser criado… num tubo de ensaio?
LW: O maior desafio está relacionado com a duração de vida das células. Fora do corpo humano, é possível mantê-las vivas entre 3 a 4 semanas, ou seja, um período insuficiente para reconstruir um órgão. Nós mesmos conseguimos mantê-las vivas por um ano. Se o desenvolvimento de materiais de suporte for confirmado, estou convencido de que poderemos recriar órgãos completos.
Fonte: swissinfo.ch