Por Natalia Cesana (da Redação)
O amor dos suíços pelos animais não é tão grande nem tão historicamente famoso como o dos ingleses. A verdade é que para os cerca de oito milhões de habitantes da Confederação Helvética existem ao menos nove milhões de aves, quase quatro milhões de bois, um sem número de porcos, cabras, ovelhas, milhões de cachorros e 1,3 milhões de gatos. Quem vive pior são os últimos, que cada vez mais são abandonados pelos próprios tutores. Na melhor das hipóteses, terminam em abrigos de animais. Senão, se tornam gatos de rua que correm o risco de ser atingidos por descendentes de Guilherme Tell que em vez do arco e flecha agora usam eficazes fuzis.
A permissão para matar os gatos que vivem nas ruas e que estão a mais de 180 metros das casas foi dada pelo Bundesrat, o Conselho Federal da Suíça, ao rejeitar uma petição apresentada em junho pela associação “SOS Gatos”, que recolheu quase 13 mil assinaturas pedindo o fim do extermínio dos gatos que vivem nas ruas, segundo informou o jornal italiano Il Secolo XIX. O vereador Luc Barthassat, que apoia a proposta, frisou que “disparar contra os gatos é indigno de um país moderno e civil” e ainda lembrou que na França esse tipo de prática é vetada.
Além de tudo, a forma como o extermínio é feito é particularmente cruel porque os animais que não morrem depois de atingidos ficam mutilados. Muitas vezes, gatos domésticos também ficam sob a mira das armas, porque quem está portando um fuzil não tem capacidade de distinguir a distância de um animal para outro.
Por causa da recusa da proposta, as autoridades helvéticas se entrincheiraram na estrutura federal do país, lembrando que, pela base da autonomia administrativa, cada cantão tem competência para decidir a matéria.
Dentre outras razões apontadas está a tese de que é necessário reduzir as colônias de gatos abandonados, porque eles acasalariam com gatos selvagens e colocariam em risco a própria sobrevivência com a transmissão de doenças. Os gatos de rua seriam ainda um perigo permanente para os pássaros, lebres, répteis e, por serem muito astutos, evitariam com grande habilidade as armadilhas para capturá-los.
Mas a principal alegação, no entanto, é relativa a dinheiro. O Conselho Federal admitiu que apanhar os gatos e depois castrá-los é uma operação não só difícil, mas extremamente cara para ser atribuída às pessoas. A consequência automática disso é que uma bala custa muito menos e pagar por ela não sairá dos cofres públicos e sim do caixa dos donos dos fuzis.
Resta ainda o fato que o abandono de gatos na Suíça está se tornando cada vez mais alarmante. Segundo informação da Associação de Proteção aos Animais, em 2010 foram recolhidos em abrigos 28 mil animais, 15% a mais que em 2009 e 50% a mais que em 2007.
Outro elemento singular e preocupante é que a metade dos animais domésticos abandonados pelos suíços é constituída exatamente por gatos, seguidos por lebres e roedores. Os cães constituem apenas 10% desse número. “Trata-se de um crescimento dramático”, explica Eva Waiblinger, zoóloga da Associação Protetora. De acordo com ela, todo o país atingiu o nível de alerta, pois não há mais lugar em nenhuma parte para acolher novos animais abandonados.