Por Patricia Tai (da Redação)
Tem sido muito documentado que a sobrevivência dos ursos polares está ameaçada devido ao degelo das calotas polares, que são seu habitat. O desaparecimento do gelo já está sendo relacionado ao possível declínio no número de nascimento de ursos polares. O aumento de companhias derramando óleo no Ártico também é outro problema a afetar as populações desses animais.
Mas outra ameaça que eles enfrentam vem de elementos químicos industriais. Um recente estudo revelou que estes elementos estão presentes no tecido cerebral de ursos polares da Groenlândia. As informações são da Care2.
Os produtos químicos como o ácido perfluoroctanóico (PerFluoroAlkyl – PFASs) e seus componentes precursores são resistentes à degradação térmica, biológica e química. Nas últimas seis décadas, eles têm sido amplamente usados em diversos produtos comerciais e industriais como revestimento para texturas, produtos de papel, carpetes, estofado, embalagens impermeáveis e “teflon”. Eles também são encontrados em produtos farmacêuticos, de limpeza e espumas de combate a incêndios.
De acordo com cientistas da Universidade de Carleton no Canadá e Aarhus na Dinamarca, esses compostos podem ser cancerígenos e neurotóxicos à vida selvagem e aos humanos. Isto é, enquanto os PFASs e substâncias relacionadas não causam diretamente a morte dos ursos polares, o acúmulo delas em seus corpos é perigoso especialmente pelo fato deles danificarem seus ossos, órgãos e sistemas reprodutores. O novo estudo diz que os PFASs também atingem os cérebros dos ursos, na medida em que essas substâncias podem atravessar a barreira do sangue e atingir o cérebro.
De fato, um tipo particular de PFAS, o sulfonato de perfluoroctano (PFOS) foi encontrado no fígado de ursos polares em concentração 100 vezes maior que as encontradas em animais que lhes servem de alimento.
O uso de PFASs e seus componentes tem aumentado drasticamente nas últimas quatro décadas. Devido a preocupações com segurança, os PFOS não estão sendo produzidos no Ocidente desde 2002, pois são considerados excepcionalmente “persistentes” (isso significa que têm efeito de longo prazo e podem “bioacumular” nos organismos dos animais). Atualmente, a única fonte conhecida de produção dessas substâncias é a China. Mesmo que haja substâncias que podem substituir os PFOS, sua produção “aumentou em 10 vezes, mesmo após ter sido descontinuada nos Estados Unidos”, observaram os cientistas.
Produtos químicos estão entrando no Ártico pelo ar e por correntes marítimas, e sua presença tende a aumentar. O derretimento do gelo do mar torna o Ártico muito mais acessível a humanos, via turismo ou indústria. Segundo a reportagem, algumas companhias já estão planejando usar as águas do Ártico como rota regular de navegação. O resultado pode ser um aumento ainda maior na contaminação do ecossistema na região.
O uso dos PFASs em produtos de uso diário, conforme os cientistas ressaltam, é “generalizado”. Como a presença dessas substâncias raramente é declarada em muitos produtos, eles afirmam que o mínimo que os consumidores podem fazer é procurar utilizar produtos com etiquetas anunciem responsabilidade ambiental. A reportagem conclui dizendo que, além de não estarmos conseguindo retardar o aumento das temperaturas ao redor do mundo que causam o derretimento das geleiras, os ursos polares também estão sendo ameaçados por nossas atividades.
Esse parece ser um exemplo típico do efeito em cadeia nos ecossistemas mundiais: o produto que se consome nos trópicos, por exemplo, afeta a vida dos ursos polares que estão do outro lado do mundo.
Como diz a Teoria do Caos, que aborda os sistemas complexos e dinâmicos, “o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque”. Obviamente essa asserção é metafórica, porém no caso da ação dos humanos, certamente a responsabilidade da ação dos mesmos é muito grande e se faz notar de forma visível na degradação do meio ambiente e nos danos a muitas espécies de animais não-humanos.