O Estado de São Paulo anunciou a substituição da cruel prática de marcação a fogo de bovinos por um sistema alternativo de identificação que utiliza um brinco com chip na orelha dos animais. Embora a mudança possa parecer um avanço, é fundamental ressaltar que medidas como essa, ainda que minimizem o sofrimento imediatamente, não atacam o cerne da questão: a exploração contínua e sistemática dos animais.
A nova resolução, publicada em 21 de outubro, prevê a substituição da marcação a fogo em fêmeas bovinas e bubalinas de três a oito meses, submetidas à vacinação contra brucelose. O estado celebra essa ação como um marco para o setor agropecuário, destacando a “valorização” da pecuária e a abertura de mercados internacionais, cada vez mais exigentes em termos de bem-estar animal. No entanto, é necessário refletir: será que essas mudanças realmente refletem um compromisso com o bem-estar dos animais ou apenas visam garantir a continuidade do comércio lucrativo de vidas?
O uso de chips em vez de ferro em brasa reduz o sofrimento visível, mas ainda perpetua o ciclo de exploração e objetificação dos animais, que são tratados como medidas a serviço de interesses econômicos. A verdadeira questão de bem-estar animal não reside apenas em práticas “menos cruéis”, mas não reconhecimento de que seres sencientes, como bovinos, têm o direito à vida e à liberdade, sem serem constantemente explorados e submetidos a procedimentos invasivos em nome da indústria pecuária.
A narrativa de que essas mudanças são suficientes para garantir o “bem-estar” é limitada. O ideal seria não apenas reformar práticas pontuais, mas caminhar em direção à abolição total da exploração animal. O sofrimento causado pelo confinamento, pela separação de mães e filhotes, e pelo controle reprodutivo segue presente e inaceitável. Portanto, a verdadeira solução não passa por soluções paliativas, mas pela eliminação completa da crueldade e do uso de animais em qualquer forma de exploração industrial.
Somente quando avançarmos para um mundo onde o respeito pela vida animal seja integral e incondicional é que poderemos, de fato, falar em “bem-estar”.