Não me recordo como iniciou nossa conversa, lembro-me apenas que terminou com ele falando assim:
Não, eu não sou o dono dele, eu sou é amigo
Sou dono das minhas coisas, imagina eu, ser dono dessa vida linda que és tão superior a minha
Ele não tem preconceito, eu tenho
Ele não tem magoa de ninguém, e eu ainda tento me livrar das minhas
Ele não tem remorso de nada, e eu ainda choro de arrependimento de muitas coisas
O rapaz da padaria um dia o tocou de lá, passou um tempo, eu o vi novamente na padaria abanando o rabo para aquele homem, ele não guardou raiva, já eu não perdoo aquele traste
Não esqueço quem me fez mal, ele não; ele parece enxergar a parte boa das pessoas
Ele brinca com todo mundo, já vi lambendo as mãos de uns e outros aqui que eu jamais apertaria
Até de criança ele gosta, fica todo feliz correndo atrás delas, chega a ficar cansado, mas feliz
E eu não suporto esses pirralhos barulhentos, fazem barulho quando estão alegres e quando estão chorando tristes
Tem uma velha que traz bolachas pra ele, e como agradecimento ele a acompanha de volta até o prédio dela, você acredita?
Eu nem respondo o boa tarde que ela insiste em me dizer, não vou com a cara dela
Na verdade eu sinto que as pessoas me suportam por causa dele, a minha sorte é que ele existe e assim as pessoas também me percebem.