Bem quando os cenários catastróficos da poluição do ar, emissões de CO2 e desmatamento começaram a ficar ‘desinteressantes’, o ambientalista norte-americano Charles Moore encontrou um novo desastre ecológico: a ‘sopa de plástico’. Em 1997, ele descobriu nos oceanos enormes quantidades de plástico. O ‘Plastic Soep Driedaagse’, um evento com três dias de duração que começa nesta quarta-feira na Holanda, trata da conscientização e da busca de soluções para este problema.
Charles Moore, que também é velejador, quase não viu progresso na luta contra a poluição dos oceanos por plástico nestes quinze anos após sua descoberta. O problema só se agravou, como demonstra uma nova pesquisa. Em 1999, ele encontrou na parte norte do Oceano Pacífico seis vezes mais plástico que plâncton. Agora, esta quantidade é 36 vezes maior, diz ele. E este plástico acaba na cadeia alimentar e no estômago de peixes como o peixe-lanterna.
Vagando no mar
Segundo um estudo da ONU, em todo o mundo são produzidas 250 milhões de toneladas de plástico por ano, com um consumo médio anual de cerca de 140 quilos por pessoa. A maior parte é jogada no lixo e cerca de 6 milhões de toneladas acabam no mar, onde o plástico permanece vagando indefinidamente. O plástico nunca se decompõe.
“Acho que a maior descoberta é que 35% dos peixes-lanterna que nós pegamos tinham comido plástico. O peixe-lanterna é o mais comum no oceano, responsável por 55% de toda a biomassa do oceano, e é o peixe que alimenta todos os outros peixes. E o plástico não está simplesmente ganhando espaço nos seus estômagos sem lhes dar nenhuma nutrição, mas também os está envenenando. Contém tóxicos e contaminantes que são liberados quando o animal o come. Então, toda a base da rede alimentar nos oceanos está contaminada com plástico.”
Veneno
O plástico é para os peixes em 2011 o que o DDT era para os pássaros nos anos ’60. Em seu livro ‘Silent Spring’ (‘Primavera Silenciosa’, de 1962), a bióloga norte-americana Rachel Carson descreveu os então ainda desconhecidos efeitos dos inseticidas na natureza. Primeiro desapareceram os insetos, depois os pássaros canoros. Não só porque o veneno se acumulava em seus corpos, mas porque contaminava seus ovos. Assim, o veneno entrou na cadeia alimentar e acabou matando até as mais resistentes aves de rapina.
Mas enquanto o livro de Carson contribuiu para a proibição do uso do DDT em todo o mundo, o uso do plástico só tem aumentado. A indústria cria constantemente novos usos para o plástico, que se torna cada vez mais prejudicial. Como almofadas cheias de bolinhas de isopor ou grãos minúsculos para sabonetes esfoliantes. Parece que as empresas não têm consciência do problema, diz Hans van Weenen. O ex-professor de Desenvolvimento Sustentável de Produto da Universidade de Amsterdã atualmente trabalha para a Plastic Soup Foundation.
“Estão entrando novos plásticos no mercado que já na concepção, portanto deliberadamente, são muito pequenos. Eles são adicionados a produtos, entram em contato com a água e acabam no mar. Lá eles viram ‘petiscos’ para o zooplâncton. Então demos alguns passos a mais em direção à degradação oferecendo este ‘fast-food’ para o zooplâncton. É um desenvolvimento condenável.”
Contaminação generalizada
Após a descoberta de Charles Moore, a opinião pública ficou com a imagem de ilhas de plástico nos oceanos. Uma espécie de massa estável de lixo que um navio poderia recolher. Na verdade, trata-se de uma poluição generalizada. Em alguns lugares, onde o vento e as correntes marítimas fazem com que o plástico se acumule, a ‘sopa’ é mais grossa. Um navio com capacidade para fazer este tipo de limpeza – que ainda não foi inventado –, levaria 27 mil anos para limpar toda a superfície da água, calculou Moore. Mas cerca de 90% se encontram até dez centímetros abaixo da superfície.
O problema pode ser visto em fotos assustadoras. Rios nas Filipinas e na Indonésia cobertos com uma imensa quantidade de lixo. Um petrel com o estômago aberto, cheio de tampinhas de garrafa, pedaços de linha de pesca e fiapos de plástico. Moore diz ter pesadelos com um colapso da cadeia alimentar marinha.
“Estamos pondo os peixes numa dieta de plástico que não lhes dá nutrição alguma e os deixa doentes. Se os peixes não têm fontes de energia suficientes para se reproduzir e ficam doentes no processo, isso pode levar a um ‘crash’ da cadeia alimentar marítima.”
Sacolas plásticas
Alguns países, como a China, proibiram as sacolas plásticas. Na Europa, algumas empresas trabalham junto com os moradores para limpar as águas e praias. Uma gota no oceano. Seria melhor evitar o aumento da poluição na fonte, diz Hans van Weenen.
“Temos que fazer perguntas fundamentais sobre a disponibilidade de matérias primas e energia a longo prazo, que produtos produzimos e como a natureza irá reagir. Temos que aprender com a experiência dos últimos 50 anos: como podemos assimililá-la em novos planos? Devemos refletir sobre como produzir e consumir de maneira sustentável. Quase não se ensina isso em nossas faculdades e universidades. E pode-se começar já no ensino fundamental. Mas a educação para a sustentabilidade recebe muito pouca atenção em nosso país, tanto no ensino fundamental como no ensino superior.”
Fonte: RNW