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Sonar militar é responsável pelo encalhe das baleias no Pacífico

As ilhas cercadas pela área de estudos militares dos Estados Unidos, incluindo Guam e Saipan, clamam pelo impedimento de atividades que prejudicam as baleias,As ilhas cercadas pela área de estudos militares dos Estados Unidos, incluindo Guam e Saipan, clamam pelo impedimento de atividades que prejudicam as baleias,As ilhas cercadas pela área de estudos militares dos Estados Unidos, incluindo Guam e Saipan, clamam pelo impedimento de atividades que prejudicam as baleias

30 de janeiro de 2021
Leticia França | Redação ANDA Leticia França | Redação ANDA Leticia França | Redação ANDA
7 min. de leitura
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Imagem de baleia encalhada na praia
Foto: Pixabay

No meio do Pacifico Ocidental, flanqueada pelo fosso oceânico mais fundo do mundo, as águas das Ilhas Marianas são o lar e habitat das baleias, golfinhos e inúmeros outros mamíferos marinhos. Também é onde se encontra o poder militar dos Estados Unidos.

O território americano de Guam e das Ilhas Marianas do Norte, nas quais incluem Saipan, Tinian, e outras doze ilhas, estão cercadas pela área de estudos militar, Mariana Islands Training and Testing (MITT).

Quase do tamanho da Índia, o MITT é estrategicamente importante para o Departamento de Defesa como um campo de testes de novos sistemas de armas e treinamento. Mas algumas das ilhas vizinhas, incluindo o povo indígena Chamoru, têm grandes preocupações sobre o impacto que os militares possuem no meio ambiente, especialmente sobre o uso do sonar no treinamento de guerra ante submarina, o que pode estar causando com que as baleias encalhem e morram. Em particular, as baleias-bicudas-de-cuvier, conhecidas por seu mergulho profundo que pode levar horas, que podem ser vulneráveis ao sonar de forma aguda.

Capazes de mergulhar até aproximadamente 3.000 metros, as baleias-de-cuvier podem se alimentar além do alcance de competidores e predadores, mas não fora do alcance do sonar marinho.

Desde 1998, o biólogo especialista em vida marinha, junto com o departamento de agricultura de Guam, Brent Tibbatts, registrou 30 encalhes de mamíferos marinhos- 13 deles desde 2010. O timing dos encalhes, e a sua proximidade ao sonar, os levam a acreditar que tudo está relacionado. Quando os encalhes ocorrem, Tibbatts é o primeiro a ser chamado. Se o animal pode ser salvo, ele é empurrado de volta para a água. Se ele chega já morto – o que acontece 80% das vezes, conta
Tibbatts ao “The Guardian” – ou morrem enquanto estão encalhadas, é realizada uma necropsia, onde são colhidas amostras de tecido, medidas e fotos.

Tibbatts se recorda de um encalhe, que ocorreu em 2015, onde o animal ainda estava vivo e mais tarde veio a falecer. Inicialmente, os militares negaram o uso do sonar, para somente depois, que mergulhadores apresentaram um vídeo onde o sonar podia ser ouvido, admitirem.

Ouvindo o inaudível

Em fevereiro, uma equipe do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e do Scripps Institution of Oceanography publicou um estudo que examina como o uso do sonar de frequência média ativa pode contribuir para o encalhe de baleias nas Ilhas Marianas.

O estudo reportou oito encalhes entre 2006-2019, envolvendo pelo menos 10 baleias. A autora líder, e ecologista acústica, Dra. Anne Simone, conta que a equipe gravou dentro das águas, entre 600 e 1000 metros, das Ilhas Saipan e Tinian, com intervalos cronometrados de até 12 meses, analisando registros dos distintos cliques de ecolocalização das baleias, os quais estão além da capacidade auditiva humana, mas são facilmente identificados utilizando um espectrograma para representar visualmente os sons.

A equipe detectou três espécies de baleias e examinou oito encalhes de baleias-bicudas-de-cuvier, os quais três deles foram confirmados de terem ocorrido dentro dos seis dias de uso do sonar na área, similar a outros encalhes de baleias em outras partes do mundo depois de realizadas atividades ante submarinas.

A maior hipótese sugere que o sonar pode causar a emersão rápida das baleias, formando bolhas em seu sangue ou órgãos vitais, similar a doença da descompressão.

“O número de animais que aparecem mortos nas praias podem ser somente uma fração dos animais que estão morrendo no mar,” diz Simonis, e conta que poucos animais em mar aberto são recuperados comparados a espécies costais, não importa qual a causa da morte. Parece claro que as baleias são mais sensíveis ao sonar marinho do que as outras espécies,” diz Simonis.

“Ainda há a necessidade de responder algumas questões básicas sobre a população de baleias e seu comportamento antes que possamos entender o impacto dos encalhes associados ao sonar.”

Ameaça de Nível B

A Marinha americana recusou uma entrevista, mas, por e-mail, o porta-voz da Frota do Pacifico, Tenente James Adams, disse: “As baleias encalham por vários motivos, inclusive devido a causas naturais.”

O Centro de Análise Naval analisou dados completos, incluindo informações confidenciais, disse Adams, e determinou que há “evidencias insuficientes para alegar uma relação entre o uso do sonar e os encalhes das baleias nas Ilhas Marianas.”

A Marinha não divulgou o número de exercícios de guerra ante submarina que foram conduzidos nas Marianas pelos últimos 24 meses, mas Adams diz que, “não excedeu os níveis do sonar e explosivos,” e acrescenta que, “a Marinha treina com o sonar ativo na região por mais de 70 anos com efeitos insignificantes ao ambiente marinho”.

“A Marinha segue diretrizes rígidas, empregando medidas de proteção para evitar os impactos dos testes e treinamentos ao mar”, diz Adams.

A porta-voz do NOAA, Kate Goggin, diz que o Ato de Proteção aos Mamíferos Marinhos permite o uso do sonar pela Marinha e a condução de detonações dentro da água no MITT, “o que pode resultar em perturbação do comportamento, deficiência auditiva temporária ou, em alguns casos, deficiência auditiva permanente (dos mamíferos marinhos).”

O NOAA autorizou a “Ameaça de Nível B” das baleias que inclui “a interrupção de comportamentos alimentares ou deslocamento de áreas onde e quando as atividades da marinha estão ocorrendo”. Goggin diz que a severidade baixa a moderada dos efeitos não era esperada no impacto na sobrevivência das baleias.

Em janeiro de 2019, a Marinha divulgou um projeto do MITT, de 1.400 páginas, suplementar à declaração de impacto ambiental no exterior seguido pelo seu registro de decisão, selecionando a opção que permite maior atividade no MITT.

Em resposta, oito senadores de Guam – conduzidos pelo senador Kelly Marsh-Taitano – introduziram uma decisão de exigir da Marinha “a extinção do uso ativo do sonar que prejudica os mamíferos marinhos; usar passivamente o sonar para detectar a presença de mamíferos marinhos; e providenciar todas as informações que são declaradas necessárias pelo governo de Guam para determinar os limites das áreas habitadas pelas baleias e outros cetáceos.”

Em uma audiência pública virtual de setembro, o senador Régime Bisco Lee notou que acordos de proteção já existiam no Hawaii e California: “Nós só pedimos que nossa terra e nossas fontes sejam protegidas do mesmo modo.”

Um oceano, dois governos

Apesar de ambos serem territórios americanos, as estruturas governamentais distintas de Guam e das Ilhas Marianas (Guam é um território desincorporado, enquanto as Ilhas Marianas são uma comunidade com legislação e governador próprios) complicam a proteção dos habitats das baleias.

Um administrador do programa de gerenciamento costal do governo de Guam, Edwin Reyes, diz que a cooperação entre Guam e as Ilhas Marianas é importante na busca do objetivo comum de garantir que o uso do sonar pela marinha seja consistente com a políticas locais.

O tamanho de Guam, que é pequeno até comparado ao Hawaii, diz Reyes, significa que o impacto da atividade humana é maior “e coloca mais pressão em nossas fontes”.

Em uma vizinhança de Saipan, que faz parte das Ilhas Marianas, Isa Arriola, faz parte do grupo Our Common Wealth 670, diz que a militarização era mais do que o uso do sonar e baleias. “Nada disso pode ser entendido sem compreender a desapropriação indígena e o imperialismo americano.”

Ela argumenta que os níveis atuais das atividades militares são “totalmente insustentáveis” e diz que a cooperação entre Guam e as Ilhas Marianas são imperativas porque “as baleias e golfinhos não são restritos a linhas pontilhadas vermelhas em um mapa.”

Também de Saipan, a representante das Ilhas Marianas, Sheila J. Babauta diz que enquanto os militares geralmente foram bem-vindos nas ilhas, o relacionamento é complexo. Ela introduziu uma medida legislativa pedindo o impedimento de todos os treinamentos militares destrutivos. “Se isso acontece agora e os testes e treinamentos não estão em força total ainda… Imagine o que acontecerá no futuro.”

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