A entidade executa e o ICMBio coordena o projeto de reprodução em cativeiro e de reintrodução das aves na natureza. A meta é repovoar a região de Curaçá e Juazeiro, na Caatinga baiana, onde a espécie (Cyanopsitta spixii) vivia livre até ser eliminada por ações humanas.
As aves chegadas no fim de janeiro são o segundo grupo remetido nos últimos anos pela alemã ACTP, sigla em Inglês da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados de Extinção. Em 2020, 52 aves foram trazidas. Dois anos depois, 20 delas foram libertadas.
Em junho passado, o Governo Brasileiro não renovou um acordo com o criador europeu, por supostas irregularidades na transferência de espécimes a um mega zoológico indiano. Contudo, a vinda das 41 novas ararinhas aponta que o programa de reintrodução segue ativo.
“Não há nenhum acordo de parceria vinculado a essa transferência. Foram seguidos os procedimentos legais de importação de fauna ameaçada e listada na Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites)”, descreve o ICMBio.
Ugo Vercillo lembra que a responsabilidade técnica pelo criadouro em Curaçá é agora da BlueSky, que conduziu o processo de importação. “Os trâmites legais foram os mesmos de 2020, com todas as licenças e autorizações necessárias emitidas pelos órgãos responsáveis na Alemanha e no Brasil”, diz.
Desafio populacional
Das 20 ararinhas libertas em 2022, dez seguem voando livres na região dos federais Refúgio de Vida Silvestre e Área de Proteção Ambiental (APA) da Ararinha Azul. As demais teriam sido alvo de predadores. Na década de 1990, uma fêmea foi liberada, mas também não sobreviveu.
Aves da ameaçada espécie já foram importadas para reintrodução na natureza ao longo dos anos de países como Espanha, Filipinas, Paraguai, Catar, Alemanha e Bélgica, lista o ICMBio.
Hoje, a autarquia conta 112 desses animais no país: as 41 recém vindas da Alemanha, outras 27 no Zoológico de São Paulo e 44 já no criadouro científico em Curaçá (BA). Algumas dessas aves procriaram, enquanto outras têm idade avançada, entre 25 e 30 anos.
Também haveria ao menos 241 ararinhas-azuis em criadouros privados na Alemanha, Bélgica, Dinamarca e Índia. “Certamente este número é maior, pois a última atualização é de dezembro de 2023. Há diversos casais reprodutores fora do Brasil”, reconhece o ICMBio.
Pois, esses estoques nacional e no Exterior da espécie são estratégicos para assegurar a reintrodução anual de aves na natureza, até que ela tenha novamente uma população estável no longo prazo.
“Não se estabelece uma população viável com poucas solturas, mas sim com um programa que se mantenha sustentável em longo prazo”, avalia o órgão ambiental federal.
Atento à necessidade, Ugo Vercillo (Blue Sky) afirma que a ACTP continuará enviando aves ao Brasil. “Para tanto, é preciso que haja a compreensão e o consentimento por parte do governo do Brasil”, diz o biólogo.
Num artigo publicado em 2023 na revista Bird Conservation International, ele e outros cientistas estimam que a ararinha estará fora de perigo quando sua população livre somar de 700 a 800 animais. Isso aconteceria com a soltura anual de ao menos 20 aves, ao longo de duas décadas.
Atenção externa
A reintrodução correta de ararinhas-azuis na Caatinga depende também das condições e da legalidade de criadores no Brasil e no Exterior. O ICMBio afirma que segue investigando a origem e situação das aves, hoje espalhadas globalmente.
Conforme a autarquia, ao menos parte dos animais no Exterior é registrada junto à Cites em cada país, mas o grande interesse de traficantes no raro emplumado dificulta afirmar que todas são legalizadas perante à Convenção.
“O Governo Brasileiro vem trabalhando junto aos demais países e ao Comitê Permanente da Cites para resolver as questões referentes a ararinhas-azuis no Exterior”, afirma.
A vinda recente das ararinhas-azuis da Alemanha foi apoiada por outros órgãos federais e estaduais e pelo indiano Greens Zoological Rescue and Rehabilitation Center (GZRRC), para onde a ACTP remeteu 26 ararinhas-azuis e 4 araras-azuis-de-lear, em fevereiro 2023.
As respostas do ICMBio foram repassadas por email por sua Assessoria de Imprensa. Não houve retorno de nossas tentativas de contato com a ACTP até o fechamento da reportagem.