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EQUILÍBRIO

Solos saudáveis combatem a insegurança alimentar e mitigam os efeitos das mudanças climáticas

Especialistas afirmam que a atuação conjunta da fauna, flora e microrganismos desses locais estimula maior produtividade agrícola

21 de outubro de 2024
Julio Silva
7 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Os solos terrestres são ecossistemas fundamentais para a manutenção da vida e regulação do clima no planeta e a saúde desses locais é um conceito que se refere à capacidade desses ambientes de funcionar de maneira eficaz e sustentável. De acordo com o professor Maurício Cherubin, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o solo desempenha múltiplos papéis no ambiente, incluindo o suporte para o crescimento das plantas, de onde são colhidos grãos, biomassa e fibras, e também atuando como o maior reservatório de carbono da terra, fator que o transforma em um elemento crucial na luta contra as mudanças climáticas.

Além disso, o solo abriga uma rica biodiversidade e mais de 50% das espécies conhecidas do planeta passam toda ou parte de suas vidas nesse local. Conforme o docente, esses espaços também são responsáveis pela ciclagem de nutrientes e pela regulação do ciclo hidrológico, meio fundamental para a filtração e purificação da água. Dessa forma, Cherubin ressalta que os solos trazem benefícios importantes para a produção agrícola e para a manutenção da vida humana.

“Atuando como regulador na emissão de gases e como local de armazenamento de carbono, os solos têm papel fundamental para que seja possível desacelerar o processo de aquecimento global e mudanças climáticas, além de combater um dos maiores desafios da humanidade no século: a insegurança alimentar. Então um solo saudável, do ponto de vista químico, físico e biológico passa a ser um aliado importante da humanidade”, esclarece.

Análise de solo

Conforme o docente, a avaliação da saúde do solo não é uma tarefa simples e a metodologia empregada precisa levar em conta os fatores a serem analisados. Do ponto de vista químico, os fatores que podem degradar o solo incluem a acidificação, salinidade, poluição e contaminação desses locais. Para essa metodologia, são empregadas análises de rotina que avaliam os teores de nutrientes, acidez e a capacidade de troca de cátions, que observa a capacidade do solo de reter nutrientes e se associar ao carbono.

Sob o ponto de vista físico, Cherubin avalia as principais formas de degradação de solos a erosão, compactação e selamento superficial. Para a análise sob essas circunstâncias, são utilizadas metodologias que abrangem indicadores de taxa de infiltração de água, condutividade hidráulica, porosidade do solo, compactação e densidade.

“Por fim, biologicamente, as principais ameaças se dão pela perda do carbono e da biodiversidade do solo. Talvez o indicador mais importante que temos é o carbono, mas também podemos avaliar os organismos, ou seja, a abundância, riqueza e diversidade dessas espécies. E dentro desse grupo nós temos aqueles organismos de maior tamanho, chamados de macrofauna, os de tamanho intermediário, a mesofauna e, finalmente, os microrganismos”, avalia.

Manejo de solo

Conforme o professor, estima-se que cerca de um terço dos solos do planeta Terra esteja degradado ou em algum grau de degradação. Ele explica que o manejo e a melhoria da saúde do solo no campo passam pela adoção de algumas práticas de manejo de agricultura conservacionista, aliadas a produtos e tecnologias disponíveis no mercado que podem acelerar e beneficiar os impactos dessas metodologias.

“Na Esalq, estamos investindo em uma estratégia de avaliação de saúde do solo com o Kit SOHMA, que utiliza sete indicadores físicos, químicos e biológicos. O kit inclui um passo a passo para execução no campo, acompanhado de um livro físico e um e-book. O usuário pode registrar os resultados e calcular um índice de saúde do solo, que varia de 0 a 1, em que 0 indica solo muito degradado e 1 representa máxima performance. O cálculo pode ser feito manualmente ou por meio de um QR Code, que envia automaticamente os resultados para o e-mail do usuário”, revela.

Atividade humana

De acordo com a professora Simone Cotta, também da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, outro fator determinante para os altos índices de degradação do solo é a atividade humana, especialmente as práticas agropecuárias e exploratórias. Na Caatinga, por exemplo, o pisoteio do gado utilizado nas práticas pecuárias está causando aceleramento na desertificação do espaço. Conforme a docente, o deslocamento do gado em áreas de pastoreio pode causar danos profundos, levando à degradação de até 50% da funcionalidade do solo, causando alterações em processos fundamentais para o seu bom funcionamento.

“Uma alternativa a ser aplicada para a recuperação é isolar essas áreas da atividade desses animais, ou seja, isolar fisicamente, colocar cercas e separar essa área que já está bastante degradada pela presença desses animais, permitindo com que essa área se recupere. Quando essas metodologias são aplicadas, a recuperação é considerável, podendo chegar a índices parecidos aos da área antes de ser degradada”, detalha.

Microrganismos

Segundo a docente, a presença dos microrganismos, embora invisíveis a olho nu, é crucial para uma série de funções essenciais no solo, que impactam diretamente os serviços ecossistêmicos e, consequentemente, o desenvolvimento humano. “A diversidade de microrganismos, com suas diferentes formas e funções, atua como engrenagens em um sistema complexo que garante o funcionamento saudável do solo”, conta.

Simone explica que os microrganismos desempenham um papel crucial na melhoria da estrutura dos solos erodidos. Eles produzem compostos, como exopolissacarídeos, que funcionam como uma espécie de cola, promovendo a agregação das partículas do solo. Esse processo é vital para a recuperação da sua estrutura, que pode ter sido comprometida por processos de degradação.

Conforme a docente, além da melhoria na estrutura do solo, os microrganismos são fundamentais na ciclagem de nutrientes. Ao degradar a matéria orgânica, eles aumentam a disponibilidade de nutrientes essenciais, que são absorvidos pelas plantas, promovendo seu crescimento e desenvolvimento. Por último, a especialista ressalta a capacidade dos microrganismos de atuarem na fixação de carbono, contribuindo para a remoção de dióxido de carbono da atmosfera.

Agricultura

De acordo com a especialista, um solo saudável contribui para o pleno funcionamento da agricultura, pois, além de realizar a função primária de sustentação das plantas, também potencializa a produtividade agrícola. Ela explica que essa potencialização ocorre quando todos os seres vivos do solo atuam em conjunto, isto é, a fauna, a flora e, principalmente, os microrganismos.

“Atualmente temos a consciência que a planta atinge o seu auge de performance quando encontra um ambiente confortável, onde ela possa crescer e se desenvolver. E esse ambiente confortável é um local onde ela possa ter quantidades adequadas de nutrientes, teor de água e a estrutura para desenvolvimento das raízes. Consequentemente, todos esses fatores refletem nos níveis de produtividade”, destaca.

Fonte: Um Só Planeta

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