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GUERRA

Soldados britânicos salvam leões abandonados para morrer de fome em zoo ucraniano

26 de maio de 2022
Bruna Araújo | Redação ANDA
8 min. de leitura
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Foto: Reprodução | Daily Mail

Soldados do exército britânico que estão na Ucrânia ajudando no resgate de animais salvaram nove leões que foram deixados à própria sorte e corriam o risco de morte no zoo de Odessa. O resgate, considerado o maior salvamento e transporte de grandes felinos em meio à uma guerra ativa, contou com a ajuda das organizações Breaking the Chains e Warriors of Wildlife. Os animais, retirados do seu habitat e explorados para entretenimento humano, estavam debilitados e sofriam de desnutrição. Os leões também apresentavam claros sinais de sofrimento emocional. Vários mísseis atingiram o zoo e danificara a maior parte dos recintos.

O regate foi realizado após moradores implorarem por ajuda por verem a situação dos animais e por temerem que os leões fugissem. Foram salvos leões machos adultos, cinco fêmeas e um filhote macho e fêmea. Eles foram encaminhados para um abrigo temporário em Targu Mures, na Romênia, após 72 horas de viagem. Um dos ativistas que ajudou ativamente no resgate dos leões foi o veterano do exército britânico Tom, que já ajudou a salvar centenas de animais, tanto selvagens quanto domésticos. “A beleza dos animais é que eles aprenderão a confiar em você. Alguns leões acordaram da sedação e rugiram durante a viagem, mas sabiam que estavam sendo salvos”, disse.

Foto: Reprodução | Daily Mail

Em entrevista ao Daily Mail, ele contou que os animais estavam em situação crítica. “Cada leão exigia cuidados veterinários especializados desde o momento em que foram sedados até o monitoramento durante toda a viagem por centenas de quilômetros. Lidar com a vida selvagem em uma zona de guerra é muito mais complicado do que lidar com cães e gatos, porque obviamente você não pode lidar com um leão. Você tem que ser muito preciso com a anestesia ou imobilização. Com o potencial de bombardeios acontecendo ao nosso redor, tínhamos que estar atentos o tempo todo”, lembra.

E completa: “O veículo em que estávamos carregando os leões era um caminhão incrivelmente alto, então foram necessários de seis a oito rapazes com uma maca caseira, porque não temos macas de animais selvagens em uma zona de guerra, levantando cada animal acima do nível do ombro, o que exigia muito trabalho em equipe. O maior macho, eu diria, pesava mais de 250 kg. Depois, precisei verificar se cada leão estava em posição segura em seus currais, certificar-se de que as vias aéreas estavam desobstruídas e monitorar a anestesia ao acordar. Fiquei sentado na traseira do caminhão por horas com os leões monitorando-os e observando-os dormir e realizando verificações a cada duas horas quando paramos”, contou o militar e ativista.

Ele explica ainda que pretende continuar no país fazendo o que puder pelos animais. “Tentei fazer o meu melhor para controlar o estresse deles para garantir que eles estivessem o mais feliz possível.
Os leões também tiveram que suportar a jornada, mas agora eles têm uma vida segura pela frente. As vidas de todos estão desmoronando por causa da guerra e estamos tentando aliviar o lado animal, porque muitas pessoas na Ucrânia não deixam seus animais para trás. Quando a guerra na Ucrânia começou, queríamos ajudar, porque há uma escassez de veterinários no terreno porque muitos deles eram homens e foram convocados para lutar”, finalizou.

Foto: Reprodução | Daily Mail

Coragem

O ativista britânico que prefere ser identificado apenas como Tom já salvou mais de 3 mil animais nas últimas oito semanas. A operação coordenada por Tom está sendo considerada um dos maiores e mais arriscados planos de resgate envolvendo animais da história. Ele e sua equipe assumiram o compromisso de ir até as zonas mais remotas e salvar os animais que foram deixados para trás e transportá-los até áreas seguras. “É uma corrida contra o tempo para chegar aos lugares mais desesperadores”, disse Tom, que prefere manter seu sobrenome anônimo por razões de segurança. “Gostaríamos de poder salvar todos, mas não conseguimos, então levamos água limpa e suprimentos para que eles resistam até que a guerra acabe e eles possam receber os cuidados que precisam”, completou.

Tom dirige diariamente cerca de 1,2 mil km por dia em busca de animais e atendendo apelos. Até agora, ele salvou cães, gatos, cavalos e, até mesmo, um lobo e um chimpanzé. Com oito veículos, ele conseguiu entregar mais de 300 toneladas de alimentos e suprimentos médicos nos últimos dias. O ativista também é fundador do grupo Breaking the Chains e tinha como intuito inicial resgatar apenas cachorros, mas não conseguiu ignorar a situação dos outros animais. As espécies de maior porte, como vacas e cavalos, foram as que mais sentiram os efeitos da guerra, pois foram as primeiras a serem abandonadas e as que precisam de mais alimento para sobreviver. Todos os animais encontrados por Tom estão debilitados e muito estrassados.

O ativista, que também é um veterano do exército britânico, conta que espera poder salvar “dezenas de milhares de animais”. Ele lembra que desde que chegou na Ucrânia ficou surpreso com a situação dos animais. “No início da guerra, minha equipe e eu, repetidas vezes, abrigos e zoológicos serem pegos atrás das linhas russas com pouca comida, água e suprimentos. Não quero ver isso acontecer novamente. Partiu meu coração”, disse Tom. Recentemente, ele salvou 25 cães e gatos que estavam gravemente feridos em Sorokivka, no leste de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia. Tom também salvou cães que estavam presos em um prédio em chamas. Muitos animais estavam com queimaduras graves e foram encaminhados para atendimento veterinário.

Foto: Reprodução | Daily Mail

Ele conta que além da sua equipe, Tom também conta com a ajuda de voluntários ucranianos e de países vizinhos. Há uma verdadeira corrente do bem de pessoas que arriscam as próprias vidas para proteger esses seres indefesos. O veterano do exército explica que, apesar dos perigos, ele não se recusaria a ajudar. “Eu, sendo quem sou, não poderia simplesmente sentar e não fazer nada. Se eu tiver a capacidade de ajudar, com certeza o farei. Minha área de especialização são as zonas de conflito e sou treinado para atuar em campos de batalha. Trouxe para a Ucrânia toda a minha experiência. Ver animais antes feridos se recuperando e reencontrando a vontade de viver é o maior agradecimento que eu poderia ter”, disse em entrevista ao Daily Mail.

Outras operações

Enquanto muitas organizações internacionais se mobilizam para ajudar refugiados ucranianos que deixaram o país assolado pela guerra na companhia dos seus animais domésticos, o veterano do exército britânico que prefere ser chamado apenas de Tom deixou sua casa em Yorkshire, na Inglaterra, e foi até a Ucrânia ajudar as salvar os animais afetados pelos intensos bombardeios. Tom fundou o grupo Breaking the Chains em 2021 e já resgatou animais, domésticos, silvestres e selvagens, em várias partes do mundo, apesar de atuar mais fortemente no Reino Unido.

Foto: Reprodução | Daily Mail

Ele e sua equipe já resgataram mais de 700 animais, entre em cães e gatos, em situação de risco. Em uma ação mais recente, os ativistas salvaram 120 cachorros que estavam presos embaixo de escombros após um abrigo ter sido atingido por bombas em Kharkiv. Ele conta que o cenário era de terror e tensão. “Era um abrigo que foi explodido duas vezes. Estava a 900 metros da linha de frente russa. Houve disparos de artilharia aterrissando na área enquanto retirávemos os animais. Os cachorros estavam latindo e chorando em desespero”, disse.

Tom tem 34 anos e deixou as Forças Armadas há dois anos, mas afirma que nunca deixará de ajudar os mais vulneráveis, seja onde for. “Há pessoas gritando à esquerda, à direita e ao centro. Não são apenas os animais de abrigo que precisam de nossa ajuda, você tem resgates, criadores, pessoas que acolhem animais em situação de rua e abandonados, deve haver pelo menos 1.000 civis com mais de 30 cães. Há milhares deles”, descreve a situação que encontrou na Ucrânia. Ele acredita que ainda existe muita coisa a ser feita e não há tempo de ter medo.

Foto: Reprodução | Daily Mail

O ativista esclarece que transportou os cães do abrigo alvo de bombardeios em uma grande van com a ajuda do administrador do abrigo, que sabia como alocar os cães em caixas de transporte de maneira harmônica. Após 30 horas de viagem, eles chegaram a um refúgio seguro, onde os animais receberam cuidados veterinários, água e alimento. Os animais também ganharam um bom banho e, agora, serão encaminhados para abrigos na Romênia. Ele espera com o fim da guerra, arrecadar recursos para reconstuir novos centros de acolhimentos para animais na Ucrânia.

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