Tem sido usado por vegans de direita, em resposta a veganos defensores de ideologias de esquerda – como o socialismo e o anarquismo -, um argumento apologista do capitalismo. Segundo eles, esse sistema econômico foi “essencial” para que aparecessem no mercado substitutos veganos de alimentos de origem animal, como linguiça, salsichas, presunto, leite vitaminado e, mais recentemente, “ovo” feito com vegetais. Essa alegação não é difícil de responder, sob um ponto de vista de esquerda.
Ao contrário do que se pensa, o mundo não precisa permanecer submisso ao império do capital, do lucro e do empresariado para buscar alternativas veganas que lembrem mais apuradamente suas versões de origem animal. Nada há em outros possíveis futuros sistemas alternativos ao capitalismo que os faça ser menos atentos à necessidade de substituir as carnes, os laticínios, os ovos, o couro, o mel, a lã etc.
Por exemplo, nada num país de governo socialista democrático consolidado iria diminuir ou interromper a idealização de novos sabores de mortadela vegana ou ovos sintéticos de matéria-prima vegetal e mineral. Isso porque, ao contrário do que muitas pessoas de direita vivem repetindo, as correntes libertárias de esquerda são contra o Estado ser dono monopolista dos meios de produção e do comércio de bens de consumo. Ou seja, nesse país socialista libertário não haveria uma situação como o Estado ser o único produtor de queijos veganos e limitar o consumo desses produtos a 200 gramas por semana por pessoa.
Pelo contrário, o que defendemos é que os trabalhadores, não a instituição Estado, tenha a propriedade dos meios de produção. Não há nada que faça os trabalhadores em associação terem menos criatividade do que empresários em gerenciar empresas veganas e criar novos produtos inovadores. Aliás, o contrário é que tenderá a acontecer: mentes pensando em conjunto têm condições de inovar muito mais.
Aliás, considerando que os sistemas não capitalistas são voltados às necessidades humanas e não ao lucro, haverá muito mais motivação para se produzir cada vez mais variados, mais baratos e melhores substitutos veganos. Afinal, essa produção e comercialização baratas são necessárias para que cada vez mais pessoas adiram ao veganismo e, por tabela, menos e menos animais sejam explorados – até que a pecuária, pesca e outras atividades de exploração animal acabem. E a despreocupação com lucro e enriquecimento fará com que não seja “preciso” vender linguiça, mortadela, queijo, pizza etc. veganos a preços caros demais para que a maioria das pessoas não possa pagar.
Ou seja, pelas necessidades dos animais não humanos e dos humanos veganos, a indústria de substitutos veganos será próspera – sem precisar primar pela lucratividade – nas mãos da classe trabalhadora.
E é muito necessário frisar também que a vitória da esquerda libertária sobre o capitalismo fará as desigualdades socioeconômicas despencarem e eventualmente se extinguirem. E com isso, não existirá mais o costume de se produzir alimentos vegetarianos (livres de ingredientes de origem animal) gourmetizados, de público-alvo economicamente restrito. Com isso, aquele queijo vegetal que hoje custa quase 60 reais o quilo e é comprável por poucos se tornará acessível a todas as pessoas, já que teremos produtos baratos e todo mundo poderá comprar muito mais alimentos industrializados – considerando que a indústria não capitalista seja ambientalmente sustentável.
Isso nos faz concluir que o capitalismo não é estritamente necessário para que alimentos vegetarianos substitutos em sabor e textura de suas versões de origem animal sejam criados e produzidos. Pelo contrário, ele inibe a popularização dos mesmos e também limita os avanços da indústria vegana. Com isso, quando vegans de esquerda lutam contra o capitalismo e pela libertação animal e humana, estão fazendo com que versões veganas de queijo, presunto, calabresa etc. possam ser compradas e consumidas por todos que queiram comê-los.