Como mãe e apaixonada por cinema, sou uma grande consumidora de filmes e animações infantis. Assisto por prazer, confesso. Mas sempre me preocupo se a mensagem, aquela famosa “liçãozinha” de moral, foi passada de verdade.
Assisti Bolt – Supercão no último final de semana. A animação é muito bem feita, com personagens engraçadíssimos e um roteiro, embora presumível, bem amarrado para as crianças. Mas, pela ótica dos direitos dos animais, me pergunto se alguém dentro do cinema lembrou-se daqueles que passam por situações parecidas na vida real.
Bolt é um pequeno pastor branco e, desde filhote, é criado para ser o astro super-herói de uma série. Com efeitos especiais, ele tem um superlatido, faz um vilão desmaiar com um toque de sua pata, consegue abrir cadeados com seu superolhar e entortar barras de aço com sua força. O diretor da série percebe como Bolt é envolvido com a menina que contracena com ele, Penny.
O cão realmente sente raiva dos homens ruins que tentam capturá-la. Ou seja, para não perder a vivacidade, a ordem é nunca permitir que ele descubra que a sua “humana” não está em apuros, que os vilões não são ruins e que seus superpoderes são pura ficção. Porém, em determinado momento, ele foge para salvar sua amiga em apuros e vai parar no centro de Nova York. Ali continua encenando sem saber que era ator. Isso porque, depois das gravações, ele fica sozinho preso em um trailer, rangendo os dentes para os vilões, ou triste sem a companhia de Penny. Nesse momento me lembrei dos animais em circos que, depois de tanto sofrimento, passam a encenar o tempo todo, mesmo em suas jaulas, mesmo sem público. Ficam ali, dançando ou em movimentos repetitivos, como se estivessem em uma apresentação.
No desenrolar das suas aventuras, Bolt conhece uma gata de rua muito inteligente. Em uma tentativa de mostrar a realidade a Bolt, ela fala que seres humanos abandonam os animais, mais ou menos assim: “Uma hora você tem tudo, casa, comida, e depois o que eles fazem? Eles abandonam!”
E então me recordei de quanto cresce o abandono de cães e gatos durantes as férias. Até 1.000% a mais que em outras épocas.
Assim, enquanto assistia, eu redimensionava tudo à triste realidade de muitos animais. Infelizmente, sem a ajuda de adultos, uma criança talvez não consiga criar em si tal consciência de sofrimento e maus-tratos. E o que mais preocupa é que talvez nem mesmo boa parte dos adultos consiga ter essa reflexão.
Por exemplo, a reação das pessoas na cena em que, com fome, Bolt e a gata pedem comida aos humanos. Enquanto Bolt é agraciado por ser de raça, bem cuidado e bonito, a gata precisa fugir para não ser atingida por uma panela, além de ser chamada de maneira pejorativa por “gata vira-lata”. Para a maioria, foi hilário e o ápice da gargalhada. Fiquei em silêncio por saber que esse é o retrato do que acontece nas ruas. E mais, as crianças que viram seus pais gargalhando podem repetir o ato ou simplesmente achar engraçado e normal ao presenciar cena parecida de verdade.
Enfim, como diversão, o filme é excelente e me arrancou boas risadas também. Afinal, ir ao cinema com uma criança deve ser motivo de risos e alegria. Mas por que não aproveitar a oportunidade como forma lúdica de ensinar e aprender?