Apesar de a União Europeia ter proibido desde 2013 a comercialização de produtos com ingredientes testados em animais, inclusive produtos testados em outros países, mais de 80% das nações ainda permitem a realização de testes e a comercialização não cruelty free de produtos. A lei europeia ainda é frágil e permite transpasses e há inclusive empresas que conseguem trazer ao mercado europeu produtos testados em animais, se esses estiverem sido testados já dentro da União Europeia.

E enquanto não ocorre o fortalecimento da lei europeia na proteção de animais em relação a testagem, a portuguesa Andreia Santos  lançou a loja Beauty by Noor, um site de vendas de cosméticos apenas cruelty free.

A fundadora teve a ideia do projeto em 2018, sendo que já trabalhava na área do comércio digital. Durante as pesquisas para encontrar marcas para serem vendidas em seu site, Andreia se deparou com várias que ainda usavam a testagem em animais. “Para nós, enquanto marca, não faz sentido testar em animais, porque há toda uma evolução tecnológica e científica em alternativa”, falou para o site PÚBLICO. “Testar em animais é dar uns passos atrás na nossa evolução enquanto sociedade”, ela complementa.

A marca hoje vende 42 marcas diferentes, e com uma média de 60 encomendas diárias. É garantido que todos os produtos comercializados na Beauty by Noor são cruelty free. Andreia tem o objetivo de, através da Beauty by Noor, mostrar aos portugueses que existem produtos eficientes e que ao mesmo tempo respeitam o meio ambiente e todos os seres. A gama de produtos do site é vasto, tendo opções para o cabelo, para o cuidado com a pele e com o bem-estar, como a venda de chás e suplementos.

Andreia Santos explica que estes produtos cruelty-free não são mais caros do que os convencionais testados em animais, exceto os que utilizam apenas ingredientes naturais (também uma aposta da Beauty by Noor). Além disso, Andreia quis apostar em nomes desconhecidos pelo público português, como é o caso da Teami, uma marca norte-americana para cuidados de pele com ingredientes 100% naturais. Outro destaque por exemplo, é a marca dinamarquesa Grums, que utiliza a borra de café como base para seus cosméticos.

A fundadora ainda diz que, revender produtos de empresas portuguesas não é algo muito amplo em seu site, por condições do país que dificultam o processo. “Entendo as marcas porque é muito difícil criar em Portugal”. Ainda assim, ela enaltece o trabalho que tem sido feito pela cosmética nacional, com ingredientes naturais, mas lamenta este mercado ainda incipiente no país. Uma das marcas portuguesas na Beauty by Noor é a Bam&Boo, com produtos sustentáveis de higiene oral.

Andreia Santos diz que o mercado cruelty free não é exclusivo das marcas menores, e nomes como a Dove, a Quem Disse Berenice ou a The Body Shop ativamente estão agindo contra a testagem em animais. Ratos, murganhos e coelhos são as principais vítimas dos estudos da cosmética, e infelizmente, isso é um problema ainda muito vasto. Só nos Estados Unidos, os testes são permitidos em 46 estados, e as exceções são Califórnia, Illinois, Nevada e Virgínia. Segundo a associação PETA, é estimado que morram mais de 100 mil animais por ano vítimas da crueldade, e não só dentro da indústria dos cosméticos, mas também no setor da alimentação, da farmácia, entre outros.

Hoje está mais acessível os métodos alternativos de testagem, e que não custam adicionais as empresas. “Os tecidos criados artificialmente dão provas de que são eficazes e seguros”, diz a fundadora da Beauty by Noor. Estes modos de testagem cruelty free incluem modelos que reconstroem a epiderme humana, métodos in silico e in vitro. Andreia Santos destaca, ainda, os testes in vivo, em que pessoas se voluntariam para testar os produtos.

“Está nas nossas mãos, enquanto consumidores, fazer essa mudança”, trata a empresária. Como?“A nossa exigência é tão simples quanto começar a comprar produtos que se aplicam a esta filosofia [do cruelty-free]”, explica. As marcas nos últimos tempos vem sendo pressionadas a responderem às exigências do mercado, e o fazem criando por exemplo linhas vegan ou naturais (que nem sempre são sinónimos de sem crueldade).

A ideia de Andreia é nos próximos dois anos de criar a própria marca da Beauty by Noor. “A nossa ideia é ir buscar excedentes de produtores locais”, destaca Andreia Santos. Para ainda este ano, a marca tem em andamento um projeto com uma nutricionista, uma enfermeira e uma dermatologista, para prestarem aconselhamento aos clientes, de forma gratuita.