Cientistas e artistas estão usando a queda da poluição sonora durante o lockdown imposto para impedir a propagação do novo coronavírus para criar o primeiro mapa sonoro global do coro do amanhecer.
Durante o mês de maio, diversas pessoas ao redor do mundo publicaram cerca de 3.000 gravações de cantos matinais de pássaros no site The Dawn Chorus, onde estão sendo compartilhados para ajudar na conservação e criar arte pública.
O projeto de paisagem sonora foi inspirado pelo trabalho pioneiro do bioacústico, Bernie Krause e conduzido pelo Prof Michael John Gorman, o diretor fundador do Museu da Biotopia em Munique, Alemanha.
Gorman diz que a ideia foi criada rapidamente depois que a Covid-19 trouxe o lockdown ao redor do mundo: “De repente o mundo natural começou a ser ouvido com mais clareza. Esse é o momento de parar e escutar, gravar e compartilhar a impressão digital acústica exclusiva das aves da sua área local”.
Resultados prévios foram compartilhados com o The Guardian e revelam a diversidade da sinfonia selvagem– um Abibe-de-bico-vermelho assobia através de um bloqueia local em Pune, India e em Munique é ouvida uma encantadora flauta vindo de um Papa-figos enviando a sua melodia através do parque – porém os cantos também documentam perdas.
No degrau da porta da casa temporária de Krause em Sonoma, Califórnia, um rouxinol e um papa-moscas-de-peito-cinza vindos do norte anunciam o nascer do sol. Sua casa anterior foi devastada com os incêndios florestais de 2017, juntamente com as suas 15.000 gravações da natureza, que por sorte ele havia feito backup.
Krause, autor de A Grande Orquestra dos Animais e fundador do Santuário Silvestre, diz: “Normalmente, o coro do amanhecer nesta área agrícola de uvas no norte da Califórnia é cheio de tico-ticos de coroa branca, melospizas melodia, juncos, towhees da Califórnia e tordos-americanos. Mas a seca que iniciou em 2011 e continua até hoje, combinada com os dados recentes de queimadas da região, afetaram as populações vocais e a representação da densidade e diversidade. Nossas pesquisas indicam que atualmente a primavera ocorre duas semanas antes do que 15 anos atrás.
Gravações feitas em Londres mostram que os pássaros começam a performar em sequência. Os primeiros que começam a cantar são os melros-pretos e os tordos, por volta das 04:20am. Seguindo eles iniciam o canto os pombos-torcaz, as gralhas-pretas, pegas e pintassilgos, que são seguidos pelas ferreirinhas-comum, pardais, toutinegra e periquitos. Enquanto isso, um conjunto de gaivotas cantam pelo horizonte do mar britânico”.
“Nós esperamos encorajar pessoas, mesmo de janelas e varandas, para fazerem e compartilharem gravações do coro do amanhecer nesse momento excepcional e desafiador, onde a atividade humana foi reduzida drasticamente”, diz Gorman.
Dr Lisa Gill, quem está analisando os resultados, diz: “Alguns são simplesmente belos: O papa-figos, a tranquilidade dos cantos quando está chovendo e a música dos melros-pretos. Ouvir sons revela uma hierarquia diferente da observada visualmente. “Os melros-pretos e os chapins-reais são os que cantam mais frequentemente, porém só nisso que são comuns”.
Na Europa, o cuco, touti-negra, carriça e chiffchaff comum estão na lista.
“Pequenos pássaros marrons são relativamente difíceis de distinguir visualmente, mas fáceis de identificar seus cantos – e quem não sabe qual o som que o Cuco faz ?”, diz Gill. “Eu acredito que a maioria das pessoas reconhecem os pássaros com a visão, o que, como podemos ver, influencia no resultado”.
O projeto para capturar coros do amanhecer será repetido anualmente e estará disponível para o público e para ajudar cientistas a monitorar as mudanças de longo prazo na qualidade do habitat e na vida das populações silvestres.
Confira um pouco abaixo:
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