Essa conduta se justifica pelo instinto de sobrevivência nas ruas. Mas o que dizer dos cães que, mesmo morando em casas quentinhas e bonitinhas, resolvem meter a cara no lixo e devorar o que puderem? É claro que a prática de reciclagem não precisa chegar a tanto; vamos ver as causas e um guia geral para soluções.
Achado não é roubado
Temos aqui mais uma prova de que a inteligência dos caninos equivale à de crianças humanas de uns dois anos e meio. Nem um nem outro tem noção de propriedade e sim de posse; o que encontrarem e gostarem ou sentirem que é bom vão pegando mesmo. No caso dos cães, tal atitude, resultado do instinto de sobrevivência, é herança de quando viviam longe dos seres humanos e sobreviviam caçando aqui e catando ali.
Simples assim: o cão, em princípio, vai comendo o que encontra, seja no lixo, no chão, no quintal, na mesa ou na pia. E o problema de o cão – ou qualquer outro animal doméstico – meter a cara no lixo não é só a sujeira, mas também os riscos de engolir ossos, pedacinhos de plástico ou outras tantas coisinhas miúdas que ele for roendo e comendo com risco de se arrasar aos poucos, podendo sofrer sufocamento ou perfuração lá dentro. O cão só vai saber onde deve ou não deve meter o focinho se alguém lhe mostrar; não percam o próximo parágrafo.
Cada coisa em seu lugar
Socializar o cão é sempre a melhor prevenção e solução, e um dos primeiros itens é justamente mostrar a ele onde pode comer, dormir, fazer os números um e dois ou simplesmente nada, deitar-se e ficar jacarezando.
A primeira coisa é acostumar o peludo a comer sempre no mesmo lugar (ou lugares, se a casa for muito grande) e evitar alimentá-lo fora dele – sim, aposto que você já se lembrou de quando está à mesa fazendo alguma refeição e ele aparece com aquele olhar de quem não come há meses. Se o tutor ou tutora (não, não estou falando de você) for do tipo que vive se esquecendo de repor a comida do cão por muito tempo, o cão vai ter de sobreviver fuçando onde puder – exatamente como o “bicho que, meu Deus, era um homem” do poema de Manuel Bandeira.
Não só lixo, mas qualquer coisa pode ter valor alimentício ou recreativo para o cão; enquanto ele não aprende a não mastigar “petiscos” indevidos como o jornal do dia, correspondência ou meias, evite deixá-los à solta por aí.
Se o peludo fizer menção de invadir o lixo, o comando de “não” (que pode ser acompanhado de uma pancada no chão ou outro ruído forte) costuma resolver, repetido várias vezes até ele perceber que mexer no lixo implica ouvir esse som desagradável, além de elogiá-lo efusivamente quando ele obedecer.
Agora, se o cão for daqueles mais teimosos e continuar invadindo o lixo, especialmente se o tutor não tiver tempo para ensinar o cão o dia todo – e não é uma gracinha como os peludos aprendem logo a apertar o pedal para levantar a tampa? – , o jeito será fechar a lata de lixo bem fechada ou bloquear o acesso a ela com um cercado, colocando-a mais alto ou algo assim; borrifá-la com pimenta pode ajudar – assim como outros procedimentos para afastar o cão de jardins, plantas e flores, conforme já dissemos neste espaço.
Mesmo quem não assistiu ao filme “Lixo Extraordinário” deve saber que “99 não é 100”, ou seja, o tutor deve fazer todo o esforço possível para criar seu peludo da melhor forma. E nem é tão extraordinário conseguir que o cão, seja ou não “vira-lata”, fique longe do lixo ou de onde não deve bulir, bastam atenção e dedicação.
Fonte: Correio do Estado