O modus operandi da socorrista é simples: aonde que vá, ela leva consigo uma bolsa especialmente preparada, contendo uma gaiola, panos, seringas e ração. Por telefone, ela se prontifica a orientar os que entram em contato. Quando a situação é grave, ela se desloca para o local — sem cobrar nada por isso. A Revista teve a oportunidade de acompanhar um desses resgates, em uma residência em Ceilândia. O pedido de socorro veio da dona de casa Ilza Moreira Marques. A vítima? Um pardal.
Não é a primeira vez que Ilza aciona os serviços da servidora pública. “Não sei cuidar dos pássaros que caem aqui na varanda de casa. São muitos. Aí eu chamo a Silvana”, justifica. Vestida a caráter, com botinas, um macacão confortável e um chapéu para se proteger do sol, a encantadora de pássaros já chega assobiando e conversando com o bicho, para acalmá-lo. Geralmente, quando feridas, as aves se recusam a se alimentar. “Por isso é preciso adquirir a confiança delas”, explica. Dessa vez, o “paciente” precisou ser recolhido. Ficará com a servidora até ter condições de voltar à natureza.
Silvana, que não tem formação veterinária, conta que seu afeto excepcional pelos emplumados começou quando se divertia na chácara da mãe. Ali ela se revoltou pela primeira vez com a crueldade do ser humano. “Na época, menino para ser homem tinha que saber dominar a bolinha de gude e o estilingue para acertar pássaros a distância. Hoje, não se vê muito isso, mas espero que essa prática se extinga completamente.”
Ao longo dos anos, ela conquistou o apoio de outros amigos dos animais, constituindo uma verdadeira rede de contatos. Uma das colaboradoras mais constantes é a enfermeira Isabel Maria Banquart, 47. Natural de Portugal, ela trabalha nas embaixadas dos EUA e do Canadá e coordena sua própria ONG de apoio a cães e gatos, a Salvando Vidas. “A ação da Silvana é maravilhosa. Ela mora em um apartamento modesto e cedeu o quarto para os pássaros ficarem. Passou a dormir na sala em prol dos passarinhos. Pode imaginar isso?”, exalta. As duas se conheceram quando Isabel encontrou um passarinho machudado, que havia colidido com uma vidraça — essa é, por sinal, uma das principais causas de acidente envolvendo aves.
Outro parceiro é o diretor do Centro de Ensino Médio de Ceilândia José Gadelha Loureiro, que sempre convida a servidora para promover palestras. “Acho importante o projeto dela para conscientizar os alunos. As palestras são lúdicas e interativas, o que desperta o interesse dos adolescentes”, enfatiza. Para Silvana — que também conta com a ajuda de uma marca de rações para alimentar seus hóspedes —, atitudes simples fazem a diferença. “Se cada um fizer o seu papel, as aves e o meio ambiente agradecem. Um começo são as crianças e adolescentes”, enfatiza a encantadora de pássaros.
Fonte: Correio Braziliense