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DEVASTAÇÃO

Serra do Itapetinga sofre com estiagem prolongada e incêndios

Mudanças climáticas prolongam estiagem, que intensifica queimadas em refúgio de paulistanos

21 de agosto de 2021
WANDERLEY PREITE SOBRINHO | UOL
4 min. de leitura
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Foto: Karina Iliescu

Refúgio de paulistanos em busca de descanso e aventura aos finais de semana, uma enorme porção da mata atlântica, às franjas da cidade de São Paulo, arde em chamas em um dos invernos mais secos dos últimos tempos.

Berço do sistema Cantareira, que fornece água a mais de 7 milhões de paulistas na Grande São Paulo, a serra do Itapetinga, como é conhecida, começa no parque Estadual da Cantareira, na zona norte da capital, e se estende pelo sul do estado até o parque Estadual de Itapetinga, uma gigante de 10 mil hectares entre Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Mairiporã e Nazaré Paulista.

Além da vocação turística, os parques —criados para preservar a mata atlântica e as nascentes que abastecem o Cantareira— são habitat de diversas espécies ameaçadas de extinção, como a onça-parda e o sagui-da-serra-escura.

Refúgio esportivo

Bom Jesus dos Perdões, por exemplo, é conhecido pela cachoeira do Barrocão, um dos mirantes mais bonitos do estado. Em Atibaia, há a trilha da Minha Deusa, principal ligação até a Pedra Grande (foto acima), muito procurada por praticantes de montanhismo e esportes de aventura.

Foto: Karina Iliescu

Ainda na Pedra Grande, fãs de asa delta, escalada, rapel, mountain bike, camping, arborismo e motocross costumam terminar no mirante com vista para toda Atibaia e regiões vizinhas, lugar perfeito para observadores de estrelas, constelações e chuvas de meteoros em madrugadas de lua nova.

Os turistas também recorrem à serra do Itapetinga para avistar animais. Só na região de Atibaia são 415 espécies de vegetação, 65 de aves, 20 de morcegos, 27 espécies de mamíferos de grande e médio porte, 23 deles raros ou ameaçados de extinção.

Em chamas

Para que a Pedra Grande não se tornasse uma enorme pedreira, como aconteceu em Mairiporã, cidade vizinha de Atibaia, uma mobilização no início dos anos 1980 resultou no tombamento de toda a serra de Itapetinga pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) em 1983.

Foto: Karina Iliescu

Mas foi apenas com um decreto do governo estadual em março de 2010 que foram criadas quatro unidade de conservação: parques estaduais de Itaberaba e de Itapetinga, Monumento Natural Estadual da Pedra Grande e a floresta Estadual de Guarulhos, uma área total de 28.600 hectares.

“Como a serra é estadual, as prefeituras não cuidam e ela fica ali abandonada”, diz bombeiro que estava combatendo o fogo na Serra do Itapetinga em 11 de agosto.

Haverá o que preservar?

Mesmo assim, a cada ano que passa crescem os focos de queimadas e o número de voluntários para combater os incêndios.

No dia 11 de agosto, os brigadistas estavam exaustos: faltavam recursos para combater as queimadas, cada vez maiores. Na ocasião, o incêndio que escalou a serra do Itapetinga durou 14 horas ininterruptas.

Ao todo, os brigadistas estimam que o fogo tenha devastado 18,72 hectares naquele dia, o equivalente a 26 campos de futebol.

Segundo relatos de brigadistas, que atuam há mais de 15 anos no perímetro tombado, os maiores impactos nessas áreas são provocados pela especulação imobiliária.

Foto: Karina Iliescu

Pesquisador do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), ONG sediada em Nazaré Paulista desde 1996, Alexandre Uezu confirma a existência de loteamentos na região, “muitos deles clandestinos”. Mas a principal razão para as queimadas, lamenta, é a seca típica desta época do ano, agravada em 2021 pelas mudanças climáticas.

“As mudanças no clima, como mostra o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), se expressa também aqui em períodos mais longos de estiagem e períodos curtos com muita chuva. São os extremos do clima”, diz o ambientalista.

“Este ano está mais seco do que o normal”, diz ele. “O nível de chuva na região ficou abaixo da média histórica em 11 dos 12 últimos meses.” Ele explica que a biomassa no chão da floresta, como as folhas, fica ainda mais vulnerável ao fogo em tempos de seca. “O efeito estufa provoca seca, que resulta em queimadas, que jogam mais gás carbônico na atmosfera, num círculo vicioso.”

Foto: Karina Iliescu

Ele diz que muitos focos de incêndio começam nas estradas que atravessam a região. “São bitucas de cigarros jogadas do carro ou gente que perde o controle das chamas ao botar fogo nas folhas que juntaram do quintal”, diz.

Além de devastar a biodiversidade, as queimadas podem comprometer os mananciais que abastecem o Sistema Cantareira, que nesta seca opera abaixo de 40%. Quando a chuva chegar, diz o especialista, o solo que ficou desprotegido depois do fogo pode erodir e levar seus sedimentos para o leito dos rios. “É difícil fiscalizar as diversas bordas da serra, onde muitos incêndios começam. Mas hoje há muitas formas para fazer isso, como uso de satélite e drones”, afirmou o pesquisador Alexandre Uezu.

Reportagem originalmente publicada no portal UOL.

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