Por Patricia Tai (da Redação)
A interferência humana através da caça furtiva, do desenvolvimento econômico, do comércio de peles, ou da simples maldade vem impactando negativamente e de maneira inimaginável os ambientes selvagens, e é a grande responsável pela ameaça de extinção de espécies como golfinhos, onças-pintadas (jaguares), rinocerontes e tartarugas marinhas.
Seis indivíduos estão em uma missão para salvar esses animais que estão à beira do extermínio, e seus esforços estão destacados em uma série da Weather Channel chamada apropriadamente de “Brink” (“À beira do abismo”), que está sendo exibida no mês de Julho.
“Quando animais estão em risco, alguns cientistas arriscam tudo para salvá-los”: esta é a frase de abertura da série.
Por pouco mais de três minutos mas embalando uma mensagem poderosa, os episódios de “Brink” lançam holofotes sobre o trabalho de ativistas como Ric O’Barry, que luta pelos golfinhos e é o mais conhecido dos seis graças ao documentário vencedor do Oscar, “The Cove”; Jacques Flamand, que está trabalhando para salvar rinocerontes negros de caçadores; Jill Robinson, que resgata ursos-lua cativos de condições deploráveis em fazendas de extração de bile na China, e Rebecca Aidworth, que documenta o horrível abate ilegal de focas canadenses, esperando que os “olhos do mundo” tragam um fim a isso.
Dois ativistas que fazem parte da série – o Dr. Alan Rabinowitz, diretor executivo da ONG Panthera e que trabalha pela preservação de felinos, e Wallace J. Nichols, que está tentando salvar as tartarugas marinhas com a educação de base – compartilharam suas histórias com a Mother Nature Network, em entrevista publicada pelo Huffington Post.
MNN: Por que você é tão apaixonado por animais como onças em particular?
Dr. Alan Rabinowitz: Meus primeiros amigos foram animais não-humanos. Quando eu descobri que falar com humanos era tão difícil, eu me voltei aos animais. Meu pai me levou um dia a um zoológico e meu olhar gravitava em torno de uma onça solitária presa em um cercado. Ela parecia tão fora de lugar. Como uma criança pequena aprendendo a falar, eu tinha dificuldades devido a um problema de gagueira. Foi então que recorri aos animais não-humanos para me confortar e neles encontrei minha única saída para a comunicação.
MNN: Você tem formação em Biologia?
Dr. Alan Rabinowitz: Eu tenho graduação em Biologia e Química, Mestrado em Zoologia e Doutorado em Ecologia da Vida Selvagem.
MNN: Qual é a sua missão com a Panthera.org e o que você espera alcançar?
Dr. Alan Rabinowitz: A ONG Panthera é a maior organização de preservação de felinos, formada por uma equipe de cientistas dinâmicos, apaixonados e experientes. Eles têm se tornado a voz que eu nunca tive, trabalhando comigo na tarefa de ajudar a salvar as onças e outros felinos da extinção – eu fiz essa promessa há muito tempo.
MNN: Qual a proximidade das onças à extinção?
Dr. Alan Rabinowitz: As onças (ou jaguares) são os terceiros maiores felinos do mundo e, felizmente, eles não estão ainda tão próximos à extinção. Eles estão ameaçados na maioria dos países onde ainda existem, mas seus números e seu futuro são muito melhores quando comparados aos tigres, leões e talvez até mesmo aos leopardos.
MNN: O que você deseja que as pessoas saibam? Como elas podem ajudar?
Dr. Alan Rabinowitz: As pessoas precisam se importar. Precisam se preocupar com as políticas dos governos que elas elegem e com as questões que ocorrem em outras partes do globo, que elas pensam que não as afetam. Nós vivemos em um planeta pequeno e finito, e o bem-estar de todas as criaturas vivas deste planeta contribuem para um mundo saudável. Se continuarmos a dizimar nosso meio ambiente e permitir que as espécies entrem em uma espiral de extinção, estaremos ameaçando o nosso próprio futuro.
MNN: Como você se envolveu com a série “Brink”? Você pensa que tudo tem um impacto?
Dr. Alan Rabinowitz: Neil Katz me levou a conhecer a série. Estou muito impressionado com “Brink” e penso que ela atingirá uma audiência significativa. Nós precisamos passar a mensagem de que as pessoas precisam cuidar e se importar.
MNN: Lamento ter ouvido sobre seu diagnóstico de leucemia. Como você está?
Dr. Alan Rabinowitz: Fui diagnosticado com Leucemia Linfocítica Crônica em 2001. A doença é lenta em sua progressão e não há cura até esse momento. No entanto eu ainda não tive quimioterapia ou radioterapia a ponto de impactar minha vida. Se não encontrarem a cura, o prognóstico é que talvez eu tenha muitos anos de vida até deixar de ter sorte.
MNN: De que forma a situação de sua saúde impactou a sua atitude perante a vida e também como o aproximou de sua missão?
Dr. Alan Rabinowitz: Eu trabalho mais duramente e mais horas que nunca. Eu não sei quanto tempo resta para que se apague esta vela. Não há como desacelerar, não há aposentadoria. Há muitas coisas a serem feitas e farei enquanto puder, até que eu não possa mais fazê-las.
MNN: Que legado você deseja deixar?
Dr. Alan Rabinowitz: O futuro estará nas mãos de outros. Eu gostaria de terminar o meu tempo na Terra sabendo que os tigres, jaguares, leopardos e todos os outros felinos selvagens continuarão vagando em áreas remotas e selvagens de nosso planeta, e que talvez eu terei tido um pequeno papel em fazer isso acontecer.
MNN: Como, quando e por que você se tornou tão apaixonado por tartarugas marinhas?
Wallace J. Nichols: Eu tenho um pouco de salvador de tartarugas e “nerd” em matemática desde criança. Nós costumávamos pegar tartarugas na Chesapeake Bay, pintar números em seus cascos e colocá-las de volta na água. Quando nós as recapturávamos, usávamos álgebra simples para estimar o tamanho da população. Era uma brincadeira. Eu sonhava em pegar tartarugas, eu as amava mais que tudo. Uma década depois – e do outro lado do continente, é essencialmente o que nosso time faz para aprender sobre tartarugas marinhas. Nós as capturamos e então seguimos as suas vidas, fazemos cálculos mais complexos, e então usamos a informação para tentar salvá-las.
MNN: O quão perto da extinção elas estão e por quê?
Wallace J. Nichols: As sete espécies de tartarugas marinhas ao redor do mundo são um mosaico de histórias de sucesso e de situações urgentes. Algumas populações estão em crescimento, enquanto outras estão à beira do abismo, penduradas por um fio. E ainda outras estão no limbo, nem entrando em colapso nem crescendo, estão relativamente estáveis. Porque as tartarugas marinhas crescem tão devagar, amadurecem tarde e migram vastas distâncias antes da reprodução, ter o feed back de nossos esforços conservacionistas requer muita paciência. Se você se dispor a salvar tartarugas marinhas, planeje investir uma década só para começar – talvez sua vida inteira – porque você demorará para ver os frutos do seu trabalho. A combinação da história de vida das tartarugas marinhas e ameaças como a caça por sua carne e ovos, a captura acidental de diversas formas como em redes de pesca, a destruição do habitat e a poluição de plásticos e lixo nos oceanos faz a vida das tartarugas marinhas ter se tornado um verdadeiro desafio.
MNN: Qual a sua missão primária e o que você espera realizar?
Wallace J. Nichols: Mais tartarugas marinhas, oceanos mais saudáveis. De modo geral, eu espero que as pessoas aprendam algo surpreendente sobre si mesmas e nosso planeta azul que elas não sabiam antes. Penso que pode ser importante caminhar individual e coletivamente para consertarmos os nossos problemas.
MNN: O que você quer que as pessoas saibam?
Wallace J. Nichols: Quero que as pessoas entrem na água. Qualquer água. E olhem em volta, prestem atenção em como se sentem, em como se conectam com as outras pessoas com quem estão, e com o lugar. A água, em todas as suas formas, é algo intimista. Parece piegas, eu sei, mas também é neurociência. Os benefícios cognitivos e a utilidade à vida causados por ecossistemas aquáticos saudáveis são enormes, mas subestimados.
MNN: Como as pessoas podem ajudar?
Wallace J. Nichols: Dando uma olhada à sua volta e tentando descobrir como ajudar a manter as águas saudáveis ou recuperá-las. Fazendo perguntas, juntando-se a uma ONG local. Pessoas são muito mais propensas a se aprofundar e se comprometer a longo prazo com aquilo que tem a ver com suas ideias e se conecta diretamente à sua saúde. E é claro, nós também podemos incentivar as pessoas a buscarem um lugar para ajudar as tartarugas marinhas!
MNN: Como você se envolveu com a série “Brink”?
Wallace J. Nichols: Eu conheci Neil Katz, o produtor da série, há muitos anos. Ele conheceu e assistiu o trabalho com as tartarugas marinhas e soube como ele evoluiu até este ponto. E eu vi a sua carreira crescer. Por isso fez sentido dividir a história do Grupo Tortuguero como parte da série.
MNN: Você acha que a série causará um impacto?
Wallace J. Nichols: Já teve um impacto. Eu adorei trabalhar com esses colegas dedicados pelo México e América Latina, e fazer um trabalho buscando aumentar a conscientização sempre é algo gratificante por si só.
Veja alguns episódios da série “Brinks” já veiculados até então:
(atenção: imagens fortes)
Vídeo de abertura:
Golfinhos:
Focas:
Felinos:
Rinocerontes:
Tartarugas marinhas:
Ursos: