Enquanto existem pessoas sem escrúpulos, que maltratam e mutilam animais, há quem se preocupe, recolha das ruas e se dedique a dar dignidade a eles. Há relatos interessantes de pessoas que levam isso muito a sério e prezam, sim, por um mundo melhor.
A jornalista Denise Azevedo tem dois gatos, digamos, deficientes — um com uma pata defeituosa e uma outra cega de um olho. Ela classifica como “reveladora” a experiência de cuidar de animais especiais. “Nos damos conta da importância do trabalho de formiguinha pra salvar um planeta tão cheio de mazelas.”
Ela conta ter resgatado Bill durante sua corrida diária no Campus da UFRN, há dois anos. Avistou o gato maltrapilho, completamente machucado, ensanguentado e cheio de sarna. Percebeu que ele tinha uma pata aleijada.
“Ao ver aquele animal totalmente indefeso e com a vida em risco não tive escolha, corri de volta pra casa, peguei o carro e a ração (que foi devorada por ele) e levei para uma clínica, onde ficou internado por vários dias”, recorda Denise, que diz ter sempre a lembrança do ocorrido e a satisfação de ter salvado uma vida quando passa pelo local do resgate.
Após dois meses de cuidados intensos, Bill se recuperou e hoje é um gato com saúde, feliz e com um lar. “Vê-lo todos os dias, forte e saudável, me faz lembrar da virtude de ser bom. A pata aleijada não o impede de pular, brincar. Hoje é somente uma marca do sofrimento que passou.”
Já a gatinha cega — também resgatada no Campus da UFRN — teve um dos olhos operado e o outro tratado, pois também estava em vias de cegar.
Gatos de rua
Com tantos animais nas ruas, principalmente gatos, o designer gráfico e professor Breno Xavier diz não ver razão para comprar um. E é não só por questão financeira, mas com o afã de dar um lar a um ser desprotegido, exposto a doenças e a maus tratos. Ele também queria chamar para si a responsabilidade de castrar o animal adotado, contribuindo assim com a diminuição dos renegados na cidade.
Breno e sua esposa, Fabíola Franco, estilista, têm dois gatos adotados. A primeira a entrar para a família foi Léia, nascida no quintal de um amigo, cria de uma gata de rua. “Alguns meses depois resolvemos adotar outro para fazer companhia. Por enquanto não adotaremos outros, pois moramos em um apartamento pequeno, mas se tivéssemos mais espaço com certeza adotaríamos mais.”
Léia e Elvis não têm nenhum tipo de deficiência física. Como seria a primeira experiência do casal com animais em casa, optaram por dois sem maiores problemas, pois não estavam inteiramente a par dos cuidados necessários.
Mas Breno faz questão de salientar não ter preconceito e não ter problemas com animais com deficiência ou que sofram algum tipo de preconceito. “Tínhamos vontade de adotar um gato preto justamente por sabermos que são excluídos ou até sacrificados em algumas ocasiões, mas não achamos nenhum enquanto procurávamos.”
Breno Xavier reconhece a ampla divulgação da adoção de cães e gatos de rua e atribui isso a forma mais organizada com que a mensagem é passada à população, principalmente com a ajuda da internet/redes sociais. Ele acredita não ser apenas um modismo passageiro.
“Se a prática da adoção for feita com responsabilidade, o que inclui a castração ou o cuidado para que eles não se reproduzam, é uma solução para amenizar a superpopulação desses animais nas ruas das cidades”, diz ele.
Cadelinha com três pernas
A história da cadela Totoka sensibilizou o designer Carlos Magno Ferreira, 40 anos. Além de adotá-la, fez dela um exemplo para sua filha aprender desde cedo as adversidades da vida. Totoka teve amputada uma das pernas, resultado de maus tratos de um carroceiro, seu antigo tutor. Ela apanhava tanto que acabou perdendo toda uma ninhada de filhotes e foi resgatada com uma perna gangrenada.
A afeição foi tamanha, que Carlos Magno resolveu levar a cadela para casa. E hoje diz orgulhar-se dela. Percebe-se o carinho que ele tem pelo animal quando ele recorda todo o sofrimento enfrentado por ela. Mas também a forma como encarou tudo. “O veterinário que a tratou ficou muito emocionado. Era ele fazendo os curativos da amputação e ela lambendo ele”, recorda Carlos Magno.
Gato amputado mora na clínica
Quando eram apenas filhotes, Paulo Jr. e sua irmã foram atropelados. Ela teve apenas ferimentos leves, mas com ele foi mais sério. O acidente o fez perder o movimento dos membros inferiores e, após várias tentativas de reabilitação, a amputação foi inevitável. A sua antiga tutora o abandonou.
Paulo Jr., um gato, nunca mais saiu da clínica a qual foi levado. A veterinária Débora Pinto não permitiu sacrificá-lo e até hoje o animal é exemplo de superação e chama a atenção dos clientes.
O acidente também causou sequelas na uretra e no intestino do gato. Ele não consegue segurar a urina e as fezes. A veterinária conta que antes Paulo Jr. se machucava bastante ao tentar se locomover. Hoje, com seis anos de idade, o gato está adaptado à sua condição e se mostra bastante simpático e cativante.
Nota-se também uma certa carência do animal por carinho. Ele vive em uma espécie em um pequeno espaço, só dele, na própria clínica. “Percebo que ele chama quando passa alguém. O gato gosta muito de atenção do tutor”, comenta Débora Pinto.
Ela diz receber em sua clínica muitos animais vítimas de traumas e acidentes. “Os animais se adaptam muito bem com a falta de um membro. Mas quando são dois, fica muito complicado.”
Em Natal, não há uma grande oferta em próteses ou suportes com rodas para animais amputados ou mutilados, de acordo com a veterinária. O que existe são lojas de produtos ortopédicos que as fabricam sob encomenda. “Os cães se adaptam melhor do que os gatos, que não gostam muito de nada no pelo deles.” Outra opção é procurar em sites especializados nesse tipo de produto.
Fonte: Tribuna do Norte