Conhecida como Kshamenk, a ‘orca mais solitária do mundo’ voltou a viralizar depois que um vídeo mostra suas tristes condições de vida em um aquário com cerca de 12 metros no Mundo Marino, na Argentina, onde vive desde 1992. Desde que sua parceira, Belén, morreu no parto de uma ninhada de filhotes, em 2000, Kshamenk vive completamente sozinho e passa a maior parte do dia imóvel. Mas, segundo uma associação de proteção de baleias, essa não é a única má condição a que Kshamenk foi submetido nos últimos anos.
De acordo com uma denúncia da The Whale Sanctuary Project, o cetáceo teve seu sêmen coletado, de forma arbitrária e não-natural, para ser usado para inseminar fêmeas em unidades do Sea World, nos Estados Unidos. Conforme a ONG Urgent Seas, o material biológico foi comercializado e exportado sem que houvesse qualquer regulamentação.
Posteriormente, foi usado na reprodução de duas orcas: Kasatka, em San Diego, Takara, em San Antonio, na Califórnia. Ambas, que são mãe e filha, tiveram filhotes de Kshamenk, em fevereiro e em dezembro de 2013.
Na natureza, uma orca tem expectativa de vida de até 90 anos, e estudos comprovam que indivíduos de diferentes gerações atuando simultaneamente em um mesmo grupo tem grande importância na manutenção da espécie e da vida dos filhotes. É cientificamente comprovado que os filhotes que vivem junto de gerações mais velhas recebem acumulação de conhecimento, estímulos cerebrais e técnicas de sobrevivência fundamentais, o que não ocorre em cativeiro, onde expectativa de vida do animal dificilmente supera os 32 anos.
Ao longo da história, diversas campanhas online chamaram atenção para o caso do Kshamenk. Uma delas, de 2021, pede a libertação da orca e o fim dos shows com animais marinhos na Argentina obteve mais de 720 mil assinaturas no site de abaixo-assinado Change.org.
A história de Kshamenk no Mundo Marino começa quando ela foi resgatada por pescadores “depois de ficar encalhada com um grupo de orcas em uma área pantanosa da baía de Samborombón”. Segundo informações do aquário, após a reabilitação, a orca não teria mais condições de voltar a viver na natureza. A instituição também afirma que Kshamenk “é uma orca saudável, curiosa, ativa e afetuosa que gosta de jogos e atividades com seus cuidadores” e tem uma equipe composta por oito cuidadores, três veterinários e sete especialistas externos.
No entanto, um vídeo em time-lapse, filmado durante um dia inteiro, capturou Kshamenk “definhando” e “imóvel” em um tanque. A gravação foi compartilhada pela ONG Urgent Seas nas redes sociais. Kshamenk é a última orca em cativeiro na América Latina e dá o nome a uma lei que tramita no Congresso argentino para proibir espetáculos com animais marinhos.
Kshamenk vive em uma piscina conectada a outras quatro menores, preenchida com seis milhões de litros de água retirada de um poço. Essa orca consome cerca de 100 quilos de peixe diariamente, sejam eles frescos ou congelados.
Dependendo da época do ano, ela participa de diferentes shows, em que realiza truques como sair da água, acenar, esguichar água, saltar e se mover ao ritmo da música, sob comando de seus treinadores.
Na natureza, Kshamenk nadaria cerca de 400 quilômetros por dia. No cativeiro, no entanto, sua principal atividade física é dar cerca de 500 voltas na pequena piscina onde passa toda sua vida.
Apesar de levarem fama de animais temperamentais, as orcas dificilmente são associadas a casos de ataques a seres humanos — a não ser pelo episódio vivido pela treinadora Dawn Branchaeu, no Sea World, em 2010, retratado no documentário “Blackfish”.
Na natureza, as orcas vivem em grupos familiares de até 40 indivíduos e são animais muito sociáveis entre si. Protagonizam caçadas detalhistas baseadas em estratégias e organizadas de grandes predadores como o tubarão-branco.
Inteligentes e curiosos, uma pesquisa recente atestou que esses animais buscam estímulos de diversas formas, uma delas, justifica a quantidade de naufrágios recentes em embarcações pelo mundo. Entediadas, as baleias descobriram como atingir pontos específicos dos barcos para fazê-los afundar. A situação gerou, inclusive, uma nova linha de pesquisa adaptativa na estrutura dos lemes para dissuadir os animais.
Fonte: O Globo