A Semana da Moda de Copenhague, na Dinamarca, anunciou que proibirá couro e penas de animais em suas passarelas no próximo ano, tornando-se o maior evento da indústria da moda a fazer isso até o momento.
Venetia La Manna, influenciadora famosa por ser uma ativista da moda sustentável, elogiou a iniciativa. “Isso realmente prova para mim que essas organizações, como as semanas de moda e marcas, podem dar esses grandes passos quando pressionadas”, declarou.
Atualmente, a Semana da Moda de Copenhague vem crescendo no mercado das roupas por apresentar muita inovação e criatividade, além de já se preocuparem com sustentabilidade e resistirem a micro tendências há um tempo. O evento só perde em importância para as semanas de Paris, Londres, Nova Iorque e Milão, o que torna ainda mais relevante a atenção que estão dando para os direitos animais.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Embora a proibição siga movimentos semelhantes de semanas de moda menores, como Estocolmo e Melbourne, e de marcas como Burberry e Chanel, ainda levará um tempo até que peles de animais, como crocodilo, cobra, jacaré e avestruz, além de penas de avestruz e pavão, sejam consideradas cruéis da mesma forma que o pelo.
As passarelas de Nova York, Londres, Paris e Milão foram, que foram realizadas no mês passado, são o lar de uma quantidade significativa de penas. Elas também foram abundantes nos tapetes vermelhos desta temporada de premiações.
Embora não tenha havido um aumento marcante no uso de peles de animais, uma das peças mais famosas do último ano foi a bolsa chamada Millionaire Speedy. Feita de pele de crocodilo, o design de Pharrell Williams para a Louis Vuitton correspondeu ao seu nome com uma etiqueta de preço de 1 milhão de dólares. Segundo um relatório do grupo de defesa da moda ética Collective Fashion Justice, os crocodilos de água salgada têm uma das peles mais cobiçadas da indústria, e marcas de luxo como Hermès e Louis Vuitton não apenas obtêm essas peles, mas agora também possuem fazendas próprias.
Foto: Jacopo Raule/Getty Images
O caso contra a pele ganhou força após muitos anos de trabalho dos defensores dos direitos animais. Agora foi banido pela maioria das maiores marcas do setor de luxo, e em dezembro o Conselho de Moda Britânico também proibiu formalmente a pele da London Fashion Week, embora o banimento tenha sido implícito desde 2018.
Mas Emma Håkansson, diretora fundadora do Collective Fashion Justice, diz que embora a indústria tenha em grande parte “decidido que é inaceitável matar um animal especificamente para a moda”, ela acha que ainda não concebeu a crueldade envolvida no abastecimento de penas, que mais comumente envolvem avestruzes, da mesma maneira.
Na opinião dela existe uma falta de educação. “O consumidor comum não associa a crueldade com as penas”, diz ela.
Mas há crueldade abominável tanto nas penas quanto nas peles exóticas. “As cobras são infladas com ar ou água enquanto ainda estão vivas, e os lagartos são decapitados de forma grosseira. Os trabalhadores enfiam hastes de metal nas espinhas dos crocodilos e nos cérebros dos jacarés na tentativa de matá-los”, explicou Yvonne Taylor, vice-presidente de projetos corporativos da PETA, ao The Guardian.
Parte do problema é a maneira como a moda separa o animal do produto final, de acordo com Håkansson. Enquanto pesquisava sobre penas recentemente, ela mostrou às pessoas uma foto de um vestido com detalhes feitos de penas de avestruz e a grande maioria não as identificou corretamente. O mesmo acontece com as marcas. No ano passado, sua investigação descobriu que varejistas, incluindo Asos, Boohoo e Selfridges, haviam rotulado erroneamente penas reais como “falsas”.
Mesmo se deixarmos a crueldade de lado e os consumidores reconheçam as penas como derivadas de animais, ou as peles exóticas como provenientes de crocodilos, as pessoas ainda tendem a esquecer qualquer tipo de ativismo ao comprar roupas. “Constantemente nos afastamos das realidades do que vai para nossas roupas, seja isso abusos dos direitos dos trabalhadores, seja violência de gênero, e é claro crueldade animal”, destacou La Manna.
Ela também acredita que as pessoas no ocidente são condicionadas a serem menos propensas a terem problemas com a crueldade em relação a um réptil de sangue frio do que a um mamífero peludo.
Håkansson concorda que há uma barreira emocional. “É realmente difícil para as pessoas se conectarem com a realidade de que um crocodilo ou uma cobra é absolutamente consciente da mesma maneira que uma raposa”, diz ela.
Mas, apesar de todo o progresso no caso da pele, até nessa área houve um retrocesso. “Acho que é honestamente porque as garotas descoladas voltaram a usar”, diz Le Manna.
A culpada sobre isso é a tendência das esposas da máfia, que viu grandes casacos de pele e o chique dos Sopranos na moda. “O TikTok está todo sobre reciclar a pele da sua avó”, disse Hillary Taymour, designer da marca eticamente consciente Collina Strada. “Isso está impulsionando um ressurgimento no uso de pele e pele falsa na indústria. A tendência está se espalhando como fogo e a vimos por toda parte nas coleções de outono.”
Håkansson também acredita que houve um impulso da indústria para dizer que esses materiais, como pele e couro, são naturais em oposição aos materiais sintéticos derivados de combustíveis fósseis. Mas, ela aponta, eles não são mais biodegradáveis uma vez processados.
O retrocesso na pele pode estar ligado a uma tendência mais ampla de questões de sustentabilidade, tão dominantes na indústria da moda há alguns anos, se movendo para o segundo plano. Håkansson suspeita de fadiga. “Houve aquele início de era pandêmica, onde havia golfinhos em Veneza, e todos estavam animados com o que o mundo poderia ser. E então ficamos um pouco cansados e voltamos ao modo hiper-capitalista.”
Taymour concorda que a conversa se aquietou, citando aumentos nos custos de produção de peças de vestuário, especialmente sustentáveis, desde a pandemia. “Grandes empresas esvaziaram a conversa para continuar a obter margens”, diz ela.