Parece que o mundo está despertando, ainda que muito lentamente, para as questões do meio ambiente. É verdade que isso está ocorrendo pela força de diversas catástrofes servindo de exemplo sobre o preço a pagar se continuar a alimentar a destruição da natureza. De qualquer forma, as notícias sobre o assunto estão circulando em maior volume.
Uma boa ilustração do despertar da sociedade para as ameaças da natureza depredada é o que acontece na área empresarial. Até há pouco tempo as organizações apoiavam, quando apoiavam, as causas verdes apenas como estratégia de marketing. Era uma forma de ganhar a simpatia de consumidores conscientes, como vinha fazendo a Coca-Cola, que patrocinava diversas iniciativas sociais como uma forma de manter a sua marca em evidência. Mas nos últimos anos a situação mudou. As empresas começaram a descobrir que as coisas eram mais sérias do que se imaginava. A Coca, por exemplo, foi tomada pela consciência de que as geleiras que derretiam nos polos não eram apenas uma birra da natureza, ou uma bandeira de luta de pessoas que queriam preservar a natureza como forma de contestar o modelo econômico atual. A empresa entendeu pelos cientistas contratados que o desabamento das geleiras tinha origem no aquecimento global e significava perda de água doce. Isso geraria escassez crescente de matéria-prima para a fabricação dos seus mais de 3 mil produtos, ameaçando o futuro dos seus negócios.
Essa constatação dos executivos da Coca teve como consequência um investimento de bilhões de dólares para colocar em funcionamento projetos de reutilização e tratamento de água em suas fábricas em todos os países onde está presente. O mesmo caminho foi feito pelas outras empresas como IBM, General Electric e Walmart, que também adotaram programas de preservação do meio ambiente, porque são essenciais para as suas sobrevivências.
É inteligível o fato de as empresas despertarem para a defesa do meio ambiente em razão da ameaça aos seus negócios. Mas também é importante perceber que a atitude de se movimentar apenas quando é preciso defender a sua própria existência, ou quando vê ameaçado o seu patamar de conforto, não ajuda a construir a autêntica sustentação: não soma forças com o movimento global pela defesa do meio ambiente.
Aliás, tenho a impressão de que algo muito pior do que ações sem sustentação pode estar ocorrendo, porque as razões econômicas – mesmo quando têm preocupação lateral em defender a natureza ou a pobreza -, não têm como prioridade a construção da sustentabilidade emocional do ser humano. Ao fechar os olhos à verdadeira origem de toda a destruição, possivelmente está se alimentando um cenário muito mais grave do que se vislumbra. Pois, a não ser que se enfrente diretamente a violência contra as vidas sobre a qual a sociedade é construída, não será possível preservar nada à sua volta. Ou se busca a sustentabilidade das emoções humanas, ou não será possível estancar as mortes da natureza, dos animais e dos próprios seres humanos.
É razoável esperar equilíbrio nas relações com o meio ambiente numa sociedade sem sustentação emocional? Que acredita ser normal alimentar-se da morte de outras vidas? Que acredita que a sua vida é mais importante do que a dos seres animais? Que ensina às suas crianças que se pode causar sofrimento e morte pelo prazer? Como esperar que, com esse tipo de ensinamento, elas não cometam violência, que não matem e que não destruam as escolas, as cidades, a natureza?
A verdade é que as ações de reciclar água, papel, embalagens, de coleta seletiva de lixo, de reduzir desperdícios, de fazer reflorestamento, só ganhariam sentido maior do que de simples sobrevivência dos negócios, se fossem exercícios para construir a sustentabilidade emocional, com objetivo de mudar a relação com todas as vidas envolvidas no equilíbrio da natureza. Sem esse olhar de combate a todos os tipos de violência, não há possibilidade de esperar uma vida diferente da que existe. Não há sonho possível de vida melhor para hoje, muito menos para as futuras gerações.