Em meio à crise econômica e humanitária que afeta a Venezuela, a proteção da vida selvagem é um tema negligenciado, e o comércio de animais ameaçados tornou-se uma prática quase banal nas estradas do país. A venda de espécies como papagaios, periquitos, preguiças e até filhotes de puma ocorre livremente, muitas vezes sob o olhar das autoridades, que aparentam fechar os olhos para a situação. Conforme relato de um venezuelano, a venda de animais silvestres é tão normalizada que muitos cidadãos não percebem que esses negócios informais fazem parte do tráfico de animais, prática altamente lucrativa e perigosa para a biodiversidade do país.
A Venezuela, um dos países com maior biodiversidade do mundo, enfrenta ameaças crescentes à sua fauna e flora. A combinação de mineração de ouro, agricultura intensiva, turismo e tráfico de animais tem contribuído para a devastação dos ecossistemas, especialmente no sul do país, onde espécies como o peixe-boi, o veado de cauda branca e a reclamação são mortos para consumo. Pássaros, répteis e até onças estão entre as principais vítimas do tráfico, que atendem mercados internacionais, principalmente a China.
Uma legislação recente que restringe o trabalho de ONGs na Venezuela dificulta ainda mais as ações de proteção e as organizações ambientais locais enfrentam forte repressão. Projetos de conservação, como a reintrodução do crocodilo do Orinoco, liderados por conservadores como Álvaro Velasco, têm sucesso limitado, dada a falta de apoio e recursos. Velasco e sua equipe, por exemplo, precisaram adaptar suas estratégias para preservar ovos de crocodilo, oferecendo alimentos em troca de filhotes em áreas onde a fome e a pobreza impulsionam a caça.
O problema do tráfico de vida selvagem também está interligado com práticas tradicionais e a sobrevivência de comunidades indígenas, cuja caça de subsistência agora é agravada pela demanda ilegal incentivada pela mineração e o turismo. Enquanto o governo de Nicolás Maduro declara apoio à conservação, as evidências apontam para sua ligação com o tráfico por meio de permissões a zoológicos e centros de criação que facilitam a saída ilegal de animais do país.
A solução para a crise ambiental na Venezuela passa pela retomada do Estado de Direito e o fortalecimento das instituições para garantir a fiscalização ambiental e proteger a vida selvagem. Além disso, é fundamental aumentar a conscientização sobre a importância da biodiversidade e a necessidade de conservação.