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Sem peixes, baleias ou plâncton: um oceano sem vida absorverá menos emissões de carbono e acelerará as mudanças climáticas

6 de maio de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Você já parou para pensar no que aconteceria se toda a vida nos oceanos desaparecesse? Um estudo recente explora esse cenário extremo para entender como a biologia oceânica molda o clima do passado, presente e futuro.

O oceano desempenha um papel fundamental na regulação do clima da Terra. Ele é um enorme reservatório de carbono, que absorve cerca de 25% das emissões causadas pelo ser humano e, assim, ajuda a manter um nível relativamente baixo de CO₂ na atmosfera. Mas o que aconteceria se toda a vida marinha — do menor plâncton à maior baleia — desaparecesse? Um estudo recente mergulha nesse cenário extremo para revelar o papel crucial que a biologia oceânica desempenha na mitigação das mudanças climáticas.

A vida marinha ajuda a armazenar carbono nos oceanos. Plânctons e outros organismos vivos consomem carbono perto da superfície do oceano e, quando morrem, afundam para as profundezas, levando com eles o carbono da atmosfera. Esse processo é chamado de bomba biológica de carbono.

Mas quais seriam as consequências se toda a vida marinha desaparecesse?

Os pesquisadores Jerry Tjiputra, Damien Couespel e Richard Sanders, todos ligados ao NORCE e ao Centro Bjerknes, usaram o Modelo do Sistema Terrestre da Noruega (NorESM) para simular exatamente isso em seu estudo “O papel dos ecossistemas marinhos na definição do clima pré-industrial e futuro”, publicado na revista Nature Communications.

Conexão negligenciada

Em um experimento de simulação, os pesquisadores mantiveram as condições o mais realistas possível, e em outro, removeram toda a vida marinha. Como esperado, a eliminação da vida marinha levou a um aumento significativo dos níveis de CO₂ atmosférico — aproximadamente 50%.

“Mas a simulação mostrou que, em um cenário onde toda a vida marinha é erradicada, os ecossistemas terrestres absorverão cerca da metade do carbono que o oceano não consegue absorver sem a vida marinha”, diz o pesquisador Damien Couespel.

“Há muito tempo entendemos que a bomba biológica de carbono tem um papel crucial em manter baixos os níveis de CO₂ na atmosfera. No entanto, a maioria dos estudos ignorou a interação com os ecossistemas terrestres. Nossa pesquisa sugere que os ecossistemas terrestres compensam, em parte, se a vida marinha for erradicada e a capacidade do oceano de absorver CO₂ for limitada”, afirma Tjiputra, autor principal do estudo.

Desafiando o pensamento convencional

Para entender a importância da vida marinha na absorção das emissões humanas pelo oceano, os pesquisadores também realizaram simulações do clima da Terra antes das grandes emissões humanas de CO₂ (clima pré-industrial, antes de 1850) e compararam com uma simulação de emissões futuras.

Isso foi feito tanto com quanto sem a presença de vida marinha.

“Em todos os casos, muito mais CO₂ permanece na atmosfera se toda a vida marinha for removida. Isso ocorre porque, sem organismos vivos consumindo carbono na superfície do oceano, o teor de carbono ali se torna muito mais alto. Isso limita a capacidade do oceano de absorver mais CO₂”, explica Tjiputra.

“Nossos resultados desafiam, portanto, o paradigma de que a absorção de carbono pelo oceano é impulsionada principalmente por processos físicos e químicos, em vez de biológicos. Um oceano sem vida enfraqueceria sua capacidade de absorver emissões de carbono”, diz Damien Couespel.

Nesse cenário extremo, experimentaríamos um aquecimento mais rápido e intenso, com potencial para desencadear outros processos que podem amplificar ainda mais esse aquecimento.

Um cenário revelador

Tjiputra e seus colegas reconhecem que a ausência total de vida nos oceanos é um cenário extremo, mas acreditam que o estudo trouxe aprendizados importantes.

“Aprendemos que a vida marinha e terrestre trabalham juntas para regular o nosso clima, e que a vida nos oceanos é uma peça-chave na trajetória das mudanças climáticas. Nossa pesquisa destaca claramente que há uma conexão entre a proteção dos ecossistemas marinhos e o combate às mudanças climáticas.

“Um oceano saudável nos dá tempo. Danos aos ecossistemas marinhos podem acelerar significativamente as mudanças climáticas causadas pelo homem e dificultar ainda mais nossa capacidade de cumprir as metas do Acordo de Paris. Preservar a função dos ecossistemas marinhos é essencial para mitigar as mudanças climáticas e seus riscos associados”, conclui Tjiputra.

Traduzido de Phys.org.

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