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"Selfies" ameaçam a vida de animais selvagens em todo o mundo

26 de junho de 2016
4 min. de leitura
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Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

Reprodução/Instagram
Reprodução/Instagram

As fotografias com animais selvagens podem parecer impressionantes, mas as histórias por trás delas são terríveis. Na última semana, um grupo de salva-vidas e turistas na República Dominicana arrastaram um tubarão da água e fizeram uma sessão de fotos com ele até que o animal não resistiu e morreu.

Esse é um dos últimos incidentes de uma nova e preocupante tendência de pessoas que tiram ‘selfies’ com vários animais selvagens, desde focas e cisnes até alces e mesmo leões, relata o portal Take Part.

Às vezes, como no caso do tubarão, essas interações resultam na morte dos animais. Em outras, as pessoas colocam a si mesmas em risco. Em maio, um chinês morreu enquanto tentava tirar uma selfie com uma morsa em um zoológico.

Um ano atrás, muito antes do caso recente no qual turistas transportaram um filhote de bisão em seu carro, uma visitante do Parque Nacional de Yellowstone foi jogada por um bisão adulto enquanto tentava posar para uma foto em um local próximo ao animal.

O que leva as pessoas a adotarem esse comportamento arriscado?

“Temos um desejo de nos sentirmos próximos à vida selvagem e aos animais selvagens”, disse Margo DeMello, diretora de estudos de humanos e animais no Instituto Sociedade e Animais.

Infelizmente, ela diz, a sociedade moderna nos deixou afastados de como é a realidade e o comportamento dos animais selvagens. Mesmo os amados animais domésticos não são capazes de preencher essa necessidade.

“Acho que muitas pessoas não enxergam os animais domésticos como ‘animais reais’. Eles são vistos dessa forma devido à domesticação e porque são mais comuns. Ao mesmo tempo, os animais domésticos nos habituaram a ideia de que podemos tocar e pegar animais. Um coala ou um tubarão estão muito próximos da natureza e do que sentimos que nos falta ”, opina DeMello.

Adam Roberts, executivo-chefe do grupo Born Free dos Estados Unidos, declarou que muitas pessoas sentem uma ‘’profunda afinidade em relação a animais selvagens” e observou que o mundo moderno não satisfaz esse sentimento de uma maneira adequada.

“Exibições em zoológicos, performances em circos, possibilidade de criar animais ‘exóticos’ como animais domésticos e a televisão dessensibilizaram dramaticamente as pessoas no que se refere aos animais”.

Numerosos estudos já mostraram que ao verem animais em comerciais e em outros contextos de entretenimento, as pessoas são desconectadas da ideia de que as espécies possuem comportamentos próprios à vida selvagem.

Essa paixão inata por animais e a ausência da conexão cotidiana com eles formam uma combinação perigosa. “O desejo de se aproximar dos animais, as oportunidades para fazer isso – além da crença incorreta de que isso é seguro – fazem com que as pessoas assumam massivos e perigosos riscos e prejudiquem os animais para tirar uma simples fotografia”, afirmou Roberts.

Esse comportamento arriscado pode ser acentuado pelas redes socais e pela necessidade que as pessoas possuem de conseguir ‘’likes’’, cliques e compartilhamentos.

“Vivemos em uma era na qual as mídias sociais impulsionam a autopromoção e não só precisamos reportar tudo o que fazemos, como também precisamos aparecer para documentar e compartilhar nossas experiências com outras pessoas”, completou DeMello.

De fato, vários selfies recentes com animais selvagens se tornaram virais o que pode estimular outras pessoas a assumirem riscos semelhantes.

Para DeMello, a presença de animais selvagens cria uma dissonância cognitiva entre o desejo de se aproximar dos animais e a compreensão de como eles deveriam ser tratados.

“Sabemos que certas situações são melhores para animais, ao contrário de puxar um tubarão do oceano, por exemplo. Mesmo assim, esse conhecimento compete com o desejo de se aproximar deles. Esse desejo ultrapassa o senso do que é correto e as pessoas nem mesmo percebem ou refletem sobre isso”.

As pessoas também tendem a ignorar sinais de advertência ou instruções para não interagirem com animais. Segundo DeMello, isso ocorre também porque o público acredita que é mais esperto e que não irá acontecer nada, o que contribui para justificar o contato com um animal silvestre, mesmo quando isso termina de forma trágica.

“Ninguém quer ser um assassino”, disse DeMello. Infelizmente, esses comportamentos só devem piorar. “Acredito que isso irá continuar conforme a urbanização e o isolamento do mundo externo aumentarem”, alegou DeMello.

Existe uma solução? Ela não tem certeza. “Acho que temos que reconhecer que esse sentimento é parte de nós e descobrir uma maneira mais cuidadosa e efetiva de educar as pessoas para pararem de tentar se aproximar, tocar e pegar animais”.

Até lá, ela defende que a divulgação de histórias que terminaram de maneira infeliz pode ser a maneira mais eficiente para conscientizar as pessoas de que elas não podem arriscar suas vidas e a de animais em nome de uma selfie.

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