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"Seja vegano para evitar futuras pandemias", dizem cientistas

2 de maio de 2020
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Cientistas e especialistas de várias partes do mundo estão esclarecendo a relação entre o consumo de animais e o surgimento de doenças e pandemias. O impacto do tráfico e consumo de animais silvestres é claro, mas também está sendo dialogado o quanto a pecuária contribui para a destruição do meio ambiente e aumento da possibilidade da transmissão de patógenos de animais para seres humanos.

Uma carta aberta divulgada ontem (30), assinada por especialistas, cientistas e ativistas destaca a relação intrínseca entre a exploração de animais para consumo e a transmissão de doenças. O comunicado afirma que cerca de três quartos das doenças infecciosas novas ou emergentes vêm de animais e estão atreladas principalmente ao consumo de animais silvestres e à pecuária.

A publicação adverte ainda que, somadas, 56 doenças zoonóticas são responsáveis ​​por cerca de 2,5 bilhões de casos de doenças humanas e 2,7 milhões de mortes por ano – e que “a humanidade sempre estará em risco de futuras pandemias enquanto as fazendas industriais e os mercados de vida selvagem continuarem”. Doenças como SARS, gripe aviária, gripe suína, Ebola e AIDS tiveram origem em animais.

A carta evidencia que além de perigosa, a exploração animal é cruel. “Em todo o mundo, os animais são mantidos em condições horríveis em fazendas industriais e mercados de vida selvagem. Essas configurações fornecem um ambiente fértil para a transmissão de vírus entre diferentes espécies e seres humanos. Acabar com a exploração de animais é uma das maiores ações que a humanidade pode tomar para se proteger contra futuras pandemias”, diz.

O comunicado é uma iniciativa da organização vegana Viva! e foi assinada pelos principais especialistas científicos, incluindo o professor Andrew Knight, diretor do Centro de Bem-Estar Animal e Profissional de Saúde Pública, e o médico Josh Cullimore. Também é assinado pelo principal advogado do Reino Unido, Michael Mansfield, e pelo especialista em meio ambiente e jornalista líder George Monbiot.

Além deles, conta também a colaboração das ativistas Elisa Allen, diretora da PETA e Bella Lack, embaixadora da Born Free Foundation, Vicky Bond, diretora da The Humane League UK e Dominic Dyer, autor e ativista do bem-estar animal.

Sistema alimentar global

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Um artigo publicado pelo portal britânico The Guardian escrito pelos autores Jan Dutkiewicz, Astra Taylor e Troy Vettese aponta que o modelo alimentar atual é o principal responsável pelo surgimento de epidemias e novas doenças. Segundo o Dr. Anthony Fauci, o principal epidemiologista dos Estados Unidos, a ligação entre a exploração animal para consumo e o surgimento de doenças infectocontagiosas é nítida e usa como exemplo os “mercados úmidos” chineses. “Me surpreende como, quando temos tantas doenças que emanam dessa interface humano-animal incomum, que não o fechamos”, disse em entrevista à Fox.

Os autores destacam que é preciso uma análise interdisciplinar. Eles acreditam que o principal fator causador de doenças zoonóticas (transmitidas de animais para humanos) é a agricultura industrial de animais. A invasão e destruição de habitats de espécies selvagens oportuniza que vírus e micro-organismos que viviam em equilíbrio na natureza migrem para áreas ocupadas por seres humanas. “A agricultura industrial também cria suas próprias doenças, como gripe suína e gripe aviária, em fazendas infernais. E contribui para a resistência aos antibióticos e as mudanças climáticas, os quais exacerbam o problema”, diz o artigo.

A publicação enfatiza ainda que chegou o momento de dialogar honestamente sobre o impacto das ações humanos no meio ambiente e sobre a forma como nos alimentamos, que fomenta uma série de doenças e danos incalculáveis à natureza. “Coletivamente, devemos transformar o sistema global de alimentos e trabalhar para acabar com a agricultura animal e reutilizar grande parte do mundo. Estranhamente, muitas pessoas que nunca desafiariam a realidade das mudanças climáticas se recusam a reconhecer o papel que o consumo de carne desempenha em risco à saúde pública. Comer carne, ao que parece, é uma forma socialmente aceitável de negação da ciência”, diz os autores.

Pesquisadores emitem avisos há anos sobre as consequências do atual sistema alimentar baseado na exploração de animais. Após o surto de Sars, em 2003, um ensaio publicado no American Journal of Public Health que era necessário reduzir ou abolir completamente o consumo de animais e seus derivados, como laticínios. Em 2016, o Programa Ambiental da ONU alertou que a “revolução da pecuária” era um desastre zoonótico esperando para acontecer. Autoridades não levaram em conta os avisos e incentivam cada vez mais o consumo de animais em benefício da economia. A revanche da natureza chegou.

Dutkiewicz, Taylor e Vettese acrescentam que culpar apenas a China é negar a realidade. “Na realidade as zoonoses surgem em todo o mundo e o fazem com crescente regularidade. A gripe espanhola de 1918 provavelmente veio de uma fazenda de porcos no meio-oeste. Nos anos 90, a desestabilização ecológica no sudoeste dos EUA levou ao surto de hantavírus Four Corners. Os vírus Hendra e Menangle têm o nome de cidades australianas. O vírus Reston é uma cepa do Ebola que leva o nome de um subúrbio de DC. O vírus Marburg surgiu na Alemanha. Essas duas últimas doenças surgiram de macacos importados para uso em laboratório – os chineses não são os únicos com um grande e perigoso comércio de animais silvestres. Sars, Mers e Zika são apenas três de muitas novas zoonoses que ocorrerão no novo milênio”, reforça o artigo.


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