O derramamento de resíduos tóxicos no Oeste da Hungria era uma tragédia anunciada. Ao menos para Róbert Léhmann. O morador de Kolontár, vilarejo com cerca de 850 habitantes devastado pela lama corrosiva que escapou de um reservatório na região, afirmou que um acidente semelhante teria ocorrido em 1986, quando a produção e comércio de alumínio ainda eram controlados pelo Estado.
“Na época, a lama não era vermelha, mas esbranquiçada. Atingiu um córrego temporário, matando todos os peixes. Mas não saiu em nenhum jornal e ninguém fora de Kolontár ficou sabendo”, disse Léhmann.
Embora não volte há mais de duas décadas para recolher indícios sobre a possibilidade de uma catástrofe ambiental, a ONG WWF também defende que os problemas com o reservatório atualmente nas mãos da empresa privada MAL Produção e Comércio de Alumínio Húngara eram conhecidos antes da tragédia da última segunda-feira (4/10). Fotografias aéreas feitas em junho deste ano teriam revelado a fragilidade da construção.
“É claramente visível nessas imagens que a lama está vazando e que parte da parede do reservatório está enfraquecida”, afirmou Gábor Figeczky, diretor do WWF na Hungria. “O reservatório acabou por romper em outro ponto, mas temos aqui a evidência do comprometimento da construção e da carência de inspeção e cuidados em toda a sua extensão.”
A situação em Kolontár é a pior dentre as cidades atingidas pelo derramamento de 800 mil metros cúbicos de resíduos tóxicos por uma área de 40 Km quadrados. Segundo relatos, a lama tingiu o vilarejo de vermelho em segundos, deixando pouco espaço para manobra. Os moradores se refugiaram nos telhados ou usaram móveis capazes de flutuar, como sofás, para se manterem acima do nível de dois metros de altura atingido pela enxurrada.
Novo vazamento
No sábado (9/10), com a descoberta de uma nova rachadura de 47 centímetros de largura na parede norte do reservatório e a ameaça de mais um despejo tóxico, o doloroso processo de retorno à Kolontár foi outra vez interrompido. Com a ordem para evacuação, moradores buscaram a casa de familiares e amigos nas cidades vizinhas ou se dirigiram para os abrigos improvisados em duas escolas e no estádio de Ajka.
No domingo (10/10), o secretário do meio-ambiente húngaro, Zoltan Illes, declarou que um novo derramamento é “inevitável”. Uma barreira de 600 metros está sendo erguida a fim de evitar outra enxurrada de lama corrosiva. Cerca de 2,5 milhões de toneladas de resíduos tóxicos permanecem no reservatório danificado.
“Apressamos as obras, pois em dois ou três dias choverá. E, uma vez que chova, a parede norte do reservatório irá ruir e a lama começará a fluir novamente”, disse Illes.
Setenta por cento do muro de contenção estava erguido na manhã desta segunda-feira (11/10). Aos 960 metros já construídos ainda serão somados mais 450 metros. A barreira tem 2,5 metros de altura e 30 metros largura. Segundo Tibor Dobson, porta-voz da Força para Limpeza do Desastre, insistiu que a construção não é temporária e traz uma proteção de longo-termo contra mais acidentes envolvendo o reservatório da MAL.
Trens e ônibus estão preparados para evacuar também a população de Devecser, que tem cerca de 5.400 habitantes. Em coletiva de imprensa, o primeiro ministro húngaro Viktor Orbán garantiu que “não desapontará ninguém nesse tempo difícil”. Um fundo de ajuda às vítimas do desastre ambiental foi anunciado e pessoas de todo mundo podem enviar doações.
Para colaborar com o Magyar Kármentő Alap do exterior, a conta de referência HU 28117940 2222222222 00000000.
Com informações do Opera Mundi