Depois da divulgação de imagens da captura de um tubarão martelo na internet e nos veículos de comunicação, um jornal local procurou o curador geral do Grupo de Estudo de Elasmobrânquios de Sergipe, Thiago Meneses, para entender o aumento das ocorrências em Sergipe. O pesquisador afirmou que o aparecimento do animal é comum nas águas que banham o Estado. Ele explica que os animais aparecem na costa para ter seus filhotes e também para se alimentar.
– Qual a explicação para o aparecimento dos tubarões na orla de Aracaju?
Thiago Meneses – Todos me fazem a mesma pergunta. Na verdade, os tubarões estão no oceano há mais de 400 milhões de anos e não existe uma barreira natural que os impeça de se aproximarem das águas rasas. Existem tubarões que habitam água rasas e profundas. Muitos vêm para as águas costeiras para se reproduzir, em alguns casos chegam pela correnteza. No verão, para se reproduzir, eles se aproximam dessas águas para se alimentar.
– Quais as espécies mais comuns já vistas no litoral sergipano?
TM – Quando se fala em tubarão, fala-se em animal grande, mas existem aqueles que são do tipo cação, que são os mais comuns em termos de aparecimento. Aqui em Sergipe nós temos a mesma fauna de tubarões que existe em todo o nordeste.
– Como vocês, pesquisadores, vêm essas capturas?
TM – Infelizmente, devido a esse sensacionalismo, as pessoas geralmente os penduram e exibem como troféus. Achamos isso uma atitude agressiva, enquanto pesquisadores da área. Muitos dos animais que são capturados são fêmeas e geralmente estão grávidas.
– Qual a orientação que você dá para a população?
TM – A população não precisa se preocupar. O litoral de Sergipe sempre teve tubarões. Não é agora que estão aparecendo, eles não vêm de outra região. Ele é um livre “nadante” dentro do oceano e a população não deve se preocupar, pois em todo lugar do mundo que tenha uma costa, haverá o aparecimento de tubarão de grande e pequeno porte.
-Porque há registro de ataques em Recife e em Sergipe não?
TM- Sergipe, Alagoas e a própria Bahia não há registro de ataque. O que provoca o ataque é o encontro entre a pessoa e o animal. Em Recife, uma conjuntura de fatores propiciou esse cenário e em Sergipe, apesar de haver a captura de tubarões de grande porte, não há ataque. Portanto, essa ocorrência de tubarões é comum. Em Sergipe, existem registros esporádicos e não confirmados de ataques a banhistas.
-O que você aconselha no caso de um banhista se deparar com o animal?
TM – Sei que a dica é difícil de seguir mas o importante é manter a calma. O banhista deve tentar sair do local o mais rápido possível sempre mantendo a calma. O ideal é sempre evitar fazer prática de esportes marinhos sozinhos, evitar roupas chamativas com cores vibrantes e fortes.
– Quais os tipos de espécies mais encontradas em Sergipe?
TM –Em Sergipe nós temos espécies que já estão em extinção. O ciclo de vida do tubarão é muito frágil, parecido com o dos golfinhos e baleias. Para chegar à sua maturidade sexual ele leva anos. Tem tubarão que leva 12 meses para ter o primeiro filhote e por isso muitos estão ficando extintos. Infelizmente o que as pessoas sabem dos tubarões é o que a imprensa divulga. O tubarão martelo, capturado recentemente, foi exibido como troféu, mas no mundo há apenas 17 de ataques registrados de todas as espécies de tubarão martelo. Quando é um golfinho, baleia ou tartaruga a população tem comoção, mas com os tubarões o sentimento é outro.
– Fale um pouco sobre o Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA).
TM- O laboratório começou suas atividades em 2001. Hoje temos em torno de 22 espécies já identificadas no litoral sergipano e outras que precisam ser identificadas. Trabalhamos uma linha de pesquisa de pesca e biologia desses tubarões. O que pudemos observar é que os tubarões que tem todo seu ciclo de vida em águas rasas são amplamente capturados, em todas as suas fases de vida. Isso é prejudicial para aquela população de tubarões. Nós temos uma coleção científica que é referência no Nordeste e trabalhamos com a linha de educação ambiental. O trabalho é feito durante as visitas ao laboratório e em palestras nas escolas.
Entrevista concedida ao portal Infonet