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ESPÉCIE VULNERÁVEL

Secas ameaçam fazer disparar doenças fatais em anfíbios no Brasil

23 de fevereiro de 2024
Filipe Pimentel Rações
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Os anfíbios são um dos grupos de animais mais ameaçados do planeta. Atualmente, estima-se que 41% de todas as espécies em todo o mundo estejam em risco de extinção, e muitas delas enfrentam as mudanças climáticas como seu principal inimigo.

O aumento da temperatura ambiente, a redução da disponibilidade de água e a irregularidade das chuvas colocam esses animais em uma situação precária de sobrevivência, pois dependem fortemente da água para obter oxigênio, manter a saúde e, em última análise, viver.

A maioria dos anfíbios confia em sua pele úmida para realizar trocas gasosas com o ambiente e produz muco para mantê-la hidratada. Se o nível de umidade ao redor for muito baixo, os anfíbios podem ter dificuldade em respirar e podem morrer.

Uma equipe de pesquisadores quis entender como as secas estão afetando a sobrevivência dos anfíbios, especialmente como a falta de água está alterando o microbioma em suas peles viscosas, essencial para protegê-los de patógenos como o fungo Batrachochytrium dendrobatidis (ou Bd, como é comumente conhecido), que tem causado grande devastação no mundo dos anfíbios.

Para isso, eles foram até a Serra do Japi, uma grande área de floresta tropical no bioma da Mata Atlântica, no estado de São Paulo, Brasil, e estudaram uma pequena rã de tons laranja fluorescentes recentemente descoberta na região: a Brachycephalus rotenbergae.

No campo, foram coletadas amostras do microbioma da pele das rãs, e o trabalho ocorreu durante o período crítico da seca de 2018 no estado de São Paulo.

Durante a expedição, foram encontradas nove rãs mortas ou moribundas, e posteriormente confirmou-se que estavam infectadas pelo fungo Bd. Apesar de as rãs Brachycephalus rotenbergae terem bactérias em suas peles que neutralizam o efeito do fungo, acabaram morrendo, assim como casos conhecidos de outras espécies em todo o mundo.

Em um comunicado, Sannon Buttimer, da Universidade Estadual da Pensilvânia (Estados Unidos da América) e primeira autora do artigo publicado na ‘Ecology Letters’, explicou que o evento de mortalidade causado por um surto de Bd coincidiu com um dos períodos mais secos dos últimos 60 anos. A pesquisadora apontou que a desflorestação da Mata Atlântica, assim como da Amazônia, tem levado à irregularidade das chuvas, com períodos secos mais longos e, por outro lado, chuvas torrenciais em outros momentos.

Em laboratório, os cientistas analisaram as amostras microbianas coletadas da pele das rãs e perceberam que as amostras colhidas após períodos de chuva intensa continham mais bactérias ‘anti-Bd’. Nas amostras recolhidas um mês após um evento de seca, havia menos desses microrganismos protetores.

Os resultados levam os pesquisadores a sugerirem que a seca reduz a abundância de algumas bactérias que ajudam a combater o fungo Bd, deixando as rãs vulneráveis a doenças potencialmente fatais.

“Espero que nossos resultados levem as pessoas a considerar como a desflorestamento e as mudanças climáticas estão quebrando simbioses invisíveis e provocando consequências em escala populacional”, destacou Buttimer.

Fonte: Greensavers

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