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EXPLORAÇÃO

SeaWorld: um longo histórico de maus-tratos aos animais

25 de agosto de 2022
5 min. de leitura
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Em 24 de fevereiro de 2010, o mundo voltou a atenção para o famoso parque aquático em Orlando, Flórida (EUA), SeaWorld, quando a treinadora de baleias Dawn Brancheau, de 40 anos, foi morta durante um ataque da orca Tilikum, que já havia matado outras duas pessoas em incidentes separados.

A mulher foi arrastada para o fundo do tanque pelo animal, morrendo de afogamento e traumatismo contundente, como indicou o relatório de sua autópsia. Ela sofreu um deslocamento da medula espinhal, fraturas em seu maxilar, costelas e em uma das vértebras cervical; foi escalpelada, teve um braço engolido pela orca e o cotovelo e joelho esquerdo, deslocados.

O que mais chamou atenção em toda a tragédia, porém, não foi a maneira brutal que Dawn foi morta, mas as circunstâncias.

Uma jornada de abusos

Dawn Brancheau. Foto: CBS News | Reprodução

A orca Tilikum foi capturada na Islândia em meados de 1983, e transferida em 1992 para o SeaWorld de Orlando, onde viveu em cativeiro até sua morte, em 2017. Desde o momento em que entrou no parque, o animal foi treinado por Dawn, que trabalhou por 15 anos na corporação, se tornando uma profissional tão aclamada e competente, que ganhou o posto de garota-propaganda da empresa.

Portanto, foi, no mínimo, confuso que ela tenha sido morta pelo mesmo animal que cuidou tão bem desde cedo, tendo 20 anos de formação profissional na área. Para alguns especialistas, Tilikum enlouqueceu nos confins de seu cativeiro e também por anos a fio sendo submetido a shows diários, em uma rotina que gera um estresse imenso para a mente de uma orca.

A morte de Dawn trouxe para luz uma discussão necessária sobre a maneira como os parques temáticos lidam com animais marinhos selvagens em cativeiro, inclusive sendo alvo do premiado documentário Blackfish, de Gabriela Cowperthwaite, que expôs toda a sujeira envolvendo maus-tratos por parte do SeaWorld.

Tilikum. Foto: Veja | Reprodução

O Statista estimou que em 2019, o parque aquático temático faturou cerca de US$ 89 milhões nos Estados Unidos, o dobro do ano anterior. Em 2018, mais de 4 milhões de visitantes estiveram no parque, sendo que em 2020, apesar da pandemia do coronavírus, 1,6 milhões de pessoas estiveram lá para ver o show das “baleias assassinas”, como são cruelmente chamadas pelos humanos.

Atualmente, o parque detém a posse de 19 orcas em cativeiro e, apesar de as estruturas dos shows terem mudado desde a revolução que a morte de Dawn causou em 2010, incluindo a exposé de Cowperthwaite, gerando um boicote massivo ao empreendimento, a política interna no lide com os animais não mudou muito.

A dolorosa verdade

Foto: National Geographic | Reprodução

Em seu livro lançado em 2015, o ex-treinador de orcas John Hargrove, que trabalhou por mais de uma década no SeaWorld de Orlando e depois no Marineland of Antibes, na França, expôs as péssimas condições que os animais marinhos enfrentam no parque aquático, e também tentou encorajar as pessoas a pensarem duas vezes antes de alimentar esse sofrimento.

Em entrevista ao National Geographic, o profissional descreveu que a vida dos animais aquáticos não é feliz. “Faria minha vida muito mais fácil se eu pudesse dizer que eles estão prosperando em cativeiro, vivendo vidas felizes, mas, na verdade, estão enfrentando um imenso trauma psicológico e físico”, confessou ele.

Com cerca de 7 metros de comprimento e 4.500 quilos, as orcas são mantidas em instalações muito pequenas, por vezes alheias ao ambiente de seu habitat natural, o que não gera uma identificação para elas e acaba causando um alto nível de frustração e estresse. O cativeiro leva as orcas a apresentarem episódios de violência motivados pelo estresse crônico e tédio extremo, que também causam apatia, úlceras estomacais e automutilação.

“É possível determinar os níveis de estresse em seu sangue, e é por isso que inúmeras orcas são medicadas”, relatou Hargrove.

Foto: Celebrity Land | Reprodução

Tilikum foi apenas uma das orcas que enlouqueceu em um tanque grotescamente pequeno, causando um nível de frustração tão grande que ocasionou em ataques fatais, como o de Dawn. O animal morreu em sua cela, sozinho e abandonado, após mais de 30 anos longe de qualquer aparência de vida natural.

Orcas fêmeas vivem em média 50 a 80 anos, enquanto os machos vivem até os 60 anos. Contudo, aquelas movidas para cativeiros não passam dos 30 anos, com muitas ainda morrendo na fase considerada a adolescência. Tudo isso devido a como o ambiente e a rotina atrofiam seus cérebros.

Após o lançamento do livro de Hargrove, em defesa ao parque, Chuck Tompkings, curador de operações zoológicas, disse que o SeaWorld “não coloca nenhum animal em situação estressante”.

Em 2016, após anos de queda de visitantes e rendimentos, o parque temático emitiu um comunicado oficial anunciando que encerraria seu programa de criação de orcas, esclarecendo que as mantidas no parque serão a última geração no SeaWorld. A empresa não se posicionou se o mesmo seria aplicado a outras espécies mantidas em cativeiro, como golfinhos, pinguins, leões-marinhos, ursos polares e tubarões.

E quanto aqueles que não acham certo que esse tipo de entretenimento acabe, Hargrove questionou em sua entrevista: “Você realmente acredita que é aceitável que arranquemos esses animais de suas famílias na natureza, matando alguns deles no processo, e depois os coloque em piscinas de concreto, para uma corporação obter lucros enormes enquanto as pessoas se divertirem?”.

Fonte: Mega Curioso

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