Um pequeno sapo, recém-descoberto pelos pesquisadores, recebeu seu nome em homenagem à ativista climática, Greta Thunberg, e a seu trabalho que aponta a urgência no combate ao aquecimento global.
Cientistas encontraram o anfíbio em uma expedição ao monte Chucanti no Panamá, um local que é habitat para diversas espécies únicas, mas que perdeu mais de 30% de sua cobertura vegetal na última década, principalmente devido à pecuária.
Espécies que vivem em maiores altitudes, como o sapo da chuva de Greta Thunberg (Pristimantis gretathunbergae), são vulneráveis a mudanças sensíveis no meio ambiente e no clima, e “enfrentam um risco constante de extinção,” diz o estudo.
A ONG panamense, Adopt a Rainforest Association (Associação Adote uma Floresta), criou uma reserva natural na montanha, onde 56 espécies novas foram descobertas por cientistas. Contudo, a perda de investimentos exacerbada pela pandemia da Covid-19 levou a uma falta de guardas florestais para protegerem este paraíso único.
Na copa das árvores destas elevadas florestas enevoadas, chamadas de “sky islands”, encontra-se, escondido na folhagem, o sapo que leva o nome de uma “gigante do clima”. A nova espécie, encontrada em uma montanha do Panamá, recebeu seu nome em homenagem à ativista climática Greta Thunberg.
Os sapos (Pristimantis gretathunbergae) são minúsculos (em torno de 3 a 4cm de comprimento) e passam a maior parte do tempo escondidos em bromélias. Nestas plantas, eles dormem, acasalam e põem seus ovos. Seus peculiares olhos escuros são raros entre outros sapos da América Central, dizem os pesquisadores.
Uma descrição completa do sapo da chuva de Greta foi publicada no jornal ZooKeys.
Cientistas encontraram este novo animal em uma expedição, no ano de 2012, ao monte Chucanti, o pico mais elevado na cadeia de montanhas de Majé, no leste do Panamá. Atingindo 1.439 metros, o ápice forma o habitat que recebe o nome de “sky island”: frio, úmido, enevoado e localizado acima de um “mar” de florestas equatoriais.
Abel Batista, um pesquisador da Chiriqui Autonomous University (Universidade Autônoma de Chiriqui), no Panamá, e Konrad Mebert da Universidade Estadual de Santa Cruz, no Brasil, junto a guias locais, subiram encostas enlameadas para acessar a floresta. Uma vez lá, eles montaram um acampamento com o objetivo de pesquisar e estudar anfíbios e répteis.
Devido à elevada altitude da montanha e à grande distância de outras florestas semelhantes, muitas espécies únicas e endêmicas evoluíram no local, tornando-o um território propício para a descoberta de novas espécies.
”Durante a primeira noite, a caminho do topo do monte Chucanti, a floresta estava muito escura e totalmente coberta por neblina,” Batista disse ao jornal Mongabay. “Quando eram 10 horas da noite, em meio às folhas das bromélias, nós avistamos o sapo, com seus lábios amarelados e grandes olhos negros. Imediatamente percebemos que se trataria de uma espécie diferente de todas as já encontradas no Panamá.”
Utilizando análises de DNA, os pesquisadores confirmaram que a espécie é, de fato, inédita na ciência. E então veio o problema da denominação. A ONG, Rainforest Trust, organizou um leilão oferecendo os direitos de denominação para diversas novas espécies, incluindo o sapo panamense. O vencedor do evento nomeou o animal em homenagem a Greta Thunberg e a seu trabalho como ativista climática.
“A luta do Pristimantis gretathunbergae pela sobrevivência é intimamente relacionada à batalha contra o aquecimento global, pois o aumento das temperaturas está destruindo o habitat único no qual o anfíbio vive,” disse Batista.
Quando as temperaturas se elevam, muitas espécies adaptam-se através do deslocamento para altitudes maiores, mas para espécies que já vivem no topo de seus habitats, não há para onde ir. Espécies de elevadas altitudes são especialmente vulneráveis a mudanças sensíveis no meio ambiente e no clima, e “enfrentam um risco constante de extinção,” diz o estudo.
Além da mudança climática, o sapo enfrenta perda de habitat e risco de exposição ao mortal fungo quitrídio, um notório assassino de anfíbios tropicais. Devido a essas ameaças e ao seu pequeno, fragmentado e elevado habitat, os cientistas sugeriram que o novo animal seja classificado como vulnerável na lista vermelha da IUCN.
“Um plano de conservação urgente é necessário para proteger as “sky islands” e aumentar a distribuição desta nova e única espécie,” acrescenta o estudo.
Um grupo em particular que está trabalhando em busca destes objetivos é a ONG panamense, Adopt a Rainforest Association (ADOPTA). Em 2005, a ADOPTA comprou porções de terra no monte Chucanti para criar a Cerro Chucanti Private Nature Reserve, uma reserva natural de quase 600 hectares.
Em seus anos de trabalho como guia florestal, o fundador e diretor executivo da ADOPTA, Guido Berguido, regularmente trazia turistas para admirarem as belezas naturais da montanha, incluindo o macaco-aranha de cabeça negra (Ateles fusciceps rufiventris), o mutum (Crax rubra), e se estivessem com sorte, o jaguar. Mas ano após ano, ele começou a notar outra coisa.
“Nós testemunhamos o corte de árvores e queimadas,” Berguido contou ao Mongabay. “Mas nossa frustração acabou levando à criação de uma das maiores reservas naturais do Panamá, onde dezenas de organismos, antes desconhecidos da ciência, foram descobertos.”
Pelo menos 56 novas espécies foram encontradas na reserva, afirmou Berguido, embora nem todas elas tenham sido formalmente descritas, pois é um processo lento e custoso.
Ao longo da última década, a região que circunda a reserva do monte Chucanti perdeu mais de 30% de sua cobertura vegetal, de acordo com a ONG Rainforest Trust. Este desmatamento é conduzido por pequenos e médios ranchos pecuaristas, e é acentuado pelas políticas governamentais que incentivam o desenvolvimento de propriedades na área.
No momento, guardas florestais da reserva natural de Cerro Chucanti protegem o local dos fazendeiros, posseiros, madeireiras ilegais e caçadores. Porém, devido à falta de investimentos acentuada pela pandemia de COVID-19, somente dois patrulheiros continuam na ativa, um número que Berguido diz ser “insuficiente”. A ADOPTA às vezes consegue contratar a polícia local para ajudar nas patrulhas, mas acaba sendo ainda mais caro.
“Este trabalho é muito gratificante,” ele disse, “mas pode ser muito frustrante quando não recebemos apoio suficiente… Nós sentimos que somos alguns poucos lutando contra um adversário gigantesco.”