O incêndio de grandes proporções que atingiu o Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, levou uma “chuva de cinzas” para a capital do estado e para municípios do ABC Paulista. No domingo (22), enquanto uma força-tarefa se desdobrava para conter as chamas que destruíram 60% do parque, moradores de várias regiões relatavam nas redes sociais a ocorrência de chuva de fuligem.
Moradores da Zona Norte de São Paulo, que vivem em bairros como Casa Verde e Jardim São Paulo, e outros que moram no Centro e em bairros da Zona Sul e Leste encontraram resíduos do incêndio em suas casas. O mesmo aconteceu na Região Metropolitana de São Paulo, com registros em cidades como Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.
O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo confirmou que a fuligem levada pelo vento é resultado do incêndio registrado no Parque do Juquery. O fogo teve início no domingo (23) e, embora boa parte do incêndio tenha sido controlado após mais de 20 horas de trabalho realizado pelo Corpo de Bombeiros, ainda há focos a serem combatidos. Segundo a Prefeitura de Franco da Rocha, “o trabalho continua para combater todos os focos de incêndio”.
Alguns moradores relataram nas redes sociais que não conseguiram manter seus quintais limpos, já que a fuligem voltava a cair logo após a limpeza. Em meio às partículas, surgiram restos de folhas e de gravetos.
Jornalista e ambientalista, Anderson França considera que a maior parte da população não se preocupou com a chuva de cinzas e lamentou essa realidade que destrói a natureza. “O ‘Domingo de Cinzas’ deveria ser um alerta, um pisca de preocupação reinante, mas no cenário atual de egocentrismo, egoísmo e falta absoluta de solidariedade, fica o lamentável e medonho episódio, registrado sem a devida importância, afinal extermínio de fauna e flora não rende voto, tampouco motivo para alardes coletivos”, criticou o ambientalista em entrevista à ANDA.
O jornalista lembrou, no entanto, que há outros motivos relacionados à fuligem que podem alertar a população que permanece inerte diante da devastação ambiental recorrente no Brasil. “Se tudo só funciona na base do susto: partículas de fuligem, na década de 80 e 90, com a nomenclatura de carvãozinho, oriunda de queimadas na região de Ribeirão Preto, com aval e análise da Ciência, foram consideradas como cancerígenas”, pontuou França, que mencionou ainda a incidência de câncer na época na região paulista da Alta Mogiana.
“Assim, estudos recentes e pesquisas científicas vindas de Centros importantes da Europa concluíram o seguinte: partículas de fuligem podem chegar à parte interna da placenta. Neste circo de horror, ninguém está imune aos prejuízos da poluição. Acreditem, poupem – se realmente têm amor no coração de pedra e alma ‘urbanoide’ – seus futuros descendentes, fetos de hoje ou amanhã na barriga da mãe. O novo tabaco é invisível aos insensíveis e gananciosos, o ar que todos nós respiramos é o mesmo, hoje um domingo de cinzas com ar tóxico e cancerígeno”, alertou.
O ambientalista reforçou ainda que o ar tóxico, denominado “carvãozinho” ou “chuva de cinzas”, impacta a saúde de pessoas mais vulneráveis, como as crianças, as quais são lembradas por França como “o futuro de qualquer país”.
“Não é brincadeira, enquanto houver sol é preciso defender a natureza para garantir sobrevivência. A Revista Nature Communications é científica, um argumento vital para aqueles que desdenham jornalistas, sou um tolo ex-jornalista e sempre ambientalista, na minha época ecochato, ecologista, sou filho da terra, respeito e amo Gaia, que não é e nunca foi só translação e rotação, é ser vivente com mais de sete bilhões de artérias. Todos nós fazemos parte do contexto. Gaia pulsa e respira. Pensem por um segundo em vossos filhos, netos, bisnetos”, pediu.
Mais de mil incêndios em um dia na região de SP
No domingo (22), o Corpo de Bombeiros registrou 1.270 chamados para incêndios em vegetação na Região Metropolitana de São Paulo. Além do Parque Estadual do Juquery, foram registradas queimadas nas proximidades de uma comunidade indígena no distrito do Jaraguá e na maior reserva de cerrado de São Paulo, na Estação Experimental de Jataí.
O fogo, no entanto, não tende a dar trégua nos próximos dias. Isso porque a chance de novos incêndios ocorrerem na região é grande por conta da estiagem severa enfrentada pelo estado de São Paulo. Com previsão de tempo seco até quinta-feira (26), a umidade do ar deve permanecer abaixo dos 20% no período da tarde, segundo dados do Centro de Emergências Climáticas (CGE).
Tais condições beneficiam os incêndios, que conseguem se propagar mais rapidamente por conta do tempo seco. A baixa umidade do ar também dificulta a dispersão de poluentes, mantendo a qualidade do ar em níveis ruins, o que prejudica a vida de humanos e animais devido às dificuldades respiratórias.
De acordo com meteorologistas do CGE, novos recordes de temperatura máxima podem ser registrados nos próximos dias, com previsão de até 34°C para a próxima quarta-feira (25). Essa realidade alarmante expõe os efeitos das mudanças climáticas, já que o Brasil vive atualmente o inverno, estação do ano em que as temperaturas estariam baixas se estivessem dentro da normalidade.