Trinta e um perus escaparam do ciclo industrial que transforma vidas em mercadoria e chegaram a um santuário em Bristol, na Inglaterra, às vésperas do Natal. Resgatados ainda muito jovens, com cerca de cinco meses, eles foram retirados de uma fazenda onde milhares de outros seguem sendo mortos para atender à demanda sazonal das festas. A ação não se limita ao salvamento imediato e busca expor o custo ético de uma tradição sustentada pelo sofrimento animal.
O acolhimento foi feito pelo The Base Vegan Retreat, mantido por Jacqui Ahmed e seu companheiro Fiaz. Emocionada, ela descreveu o alívio e a dor que coexistem em operações como essa. “Todos os nossos bebês têm sorte de estarem conosco neste Natal”, afirmou. Logo depois, reconheceu o peso do que fica para trás. “Graças a Deus conseguimos tirá-los de lá e que Deus abençoe todos os que estão perecendo neste momento. É de partir o coração e horrível.”
O resgate ocorreu de forma improvisada, com os perus sendo transportados em carros particulares. Ao chegar, receberam nomes dados por uma criança de três anos que frequenta o santuário desde que nasceu e cresce aprendendo que esses animais não existem para virar comida. Leela, Junilessa, Nincy, Fro-fro, Stella, Linda, Stocking e Pudding agora são tratados como indivíduos, não como números de uma linha de produção.
Longe do confinamento e da lógica do abate, os perus demonstram comportamentos sistematicamente ignorados pela indústria. “Os perus são incríveis, são como cachorrinhos”, disse Jacqui. Segundo ela, eles buscam proximidade, respondem a estímulos humanos e gostam de contato físico. “Eles adoram humanos e são muito carinhosos, adoram receber carinho o dia todo e, no verão, só querem ficar sentados ao sol.” A convivência diária também revela formas próprias de comunicação. “Eles têm um vocabulário extenso e eu aprendi o que diferentes sons significam.”
A constatação torna o contraste ainda mais duro. “São histórias muito profundas e emocionantes, e é muito triste o que acontece com todos os outros que não conseguimos salvar”, afirmou a ativista. Ela lembra que os animais resgatados sequer chegaram à idade adulta. “Esses perus são apenas filhotes, eles nem sequer estão totalmente crescidos.”
Ao final, Jacqui deixa um apelo direto, sem rodeios. “Considere excluí-los do seu prato e adotar uma dieta vegana hoje mesmo.” No Reino Unido, cerca de nove milhões de perus são mortos todos os anos, a maioria concentrada no período natalino, segundo a organização Viva!. Diante desse número, o resgate de 31 não muda a estatística, mas expõe uma escolha que insiste em ser ignorada e questiona o sentido de celebrações construídas sobre vidas interrompidas.