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DADOS ALARMANTES

Santa Catarina é o estado com mais encalhes de baleias-jubartes em 2021

Foram 97 jubartes encalhadas em todo o Brasil, sendo 33 que encalharam e morreram na costa de Santa Catarina

4 de agosto de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
4 min. de leitura
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Jubarte encontrada morta em praia de Imbituba (SC) (Foto: PMP BS-Udesc/Reprodução)

Santa Catarina registrou 33 mortes de baleias-jubartes, sendo considerado o estado com mais encalhes de animais desta espécie em 2021. O levantamento realizado em todo o país pelo Projeto Baleia Jubarte considerou o número de baleias encalhadas até terça-feira (3), com um total de 97 jubartes encalhadas em todo o Brasil. No mês de junho, Santa Catarina ficou atrás de São Paulo, que registrou 10 encalhes no litoral do estado.

Nem mesmo o aumento expressivo na população de jubartes justifica o alto número de mortes, conforme explicitado pelo médico veterinário e coordenador de Pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, Milton Marcondes. “Estamos com uma temporada muito fora do padrão. Julho deste ano foi o mês com o maior número de encalhes de jubarte (48) de todos os tempos”, afirmou ao G1.

O pico de encalhes, segundo o especialista, costuma ocorrer em agosto. Por isso, há a possibilidade da situação das jubartes ficar ainda pior até o final deste ano. “E agosto costuma ser o pico dos encalhes (a única exceção foi 2015 quando o pico foi em julho e depois começou a diminuir). Então é provável que ainda tenhamos muitos encalhes pela frente”, explicou.

“Temos visto animais jovens, magros e com comportamento de alimentação em Santa Catarina. Normalmente, eles não precisariam comer no Brasil. Mas estando magros, além de mais sujeitos a doenças, eles buscam alimentos mais perto da costa, onde os pescadores também estão atrás dos peixes. Parte destes animais morreram em redes de pesca”, acrescentou o profissional, que lembrou ainda que nem sempre é fácil apontar a causa da morte das baleias por conta do estado de decomposição dos corpos.

A temporada de baleias em Santa Catarina se inicia em julho e é finalizada em novembro. Nesse período, as principais espécies a transitarem pelo litoral do estado são as baleias-franca e jubarte. As primeiras utilizam a costa catarinense para dar à luz a filhotes, já as jubartes passam por Santa Catarina e seguem para o Sul da Bahia, onde se reproduzem.

Baleia-jubarte enrolada em rede de pesca (Foto: Anderson Coelho/Arquivo Pessoal)

Com maior número de baleias avistadas na região, estudiosos das espécies afirmam que um crescimento populacional desses animais e o aumento da temperatura da água do mar podem estar relacionados à quantidade maior de baleias-francas e jubartes em Santa Catarina.

Esse aumento das populações de baleias está relacionado ao fim da caça, que foi proibida há décadas, com a última baleia caçada no Brasil em 1973. Em Santa Catarina especificamente existia, no passado, uma enorme armação baleeira em Garopaba, cidade situada ao Sul do estado, onde esses animais eram trazidos após a caça para que seus corpos fossem desmembrados.

Na época, o óleo da baleia era usado como matéria-prima para postes que iluminavam as ruas e também como argamassa para a construção de empreendimentos. A carne era destinada à alimentação de pessoas escravizadas. Atualmente, esse óleo foi substituído pelo petróleo.

Além dessa substituição, mudou-se também a forma de enxergar as baleias, que passaram a ser alvo de estudos por volta de 1982. Em 2000, a fragilidade das baleias-francas, que estavam ameaçadas de extinção após décadas de caçadas, foi reconhecida, o que levou à criação da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, com 130 quilômetros de extensão, passando por nove cidades, desde Florianópolis até Balneário Rincão.

Baleias nadando no litoral de SC (Foto: Carolina Bezamat/SCPAR)

A APA foi fundada para garantir que a baleia-franca-austral transite livremente pelo estado na temporada de inverno com garantia de proteção. Com isso, Imbituba se tornou o município catarinense com maior concentração da espécie nesse período, o que lhe rendeu o título de Capital Nacional da Baleia Franca. As jubartes, por sua vez, embora não tenham uma APA destinada a elas, têm como principal abrigo o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, na Bahia.

Todos os anos, cerca de 550 baleias-francas fêmeas se reproduzem regularmente no Brasil, segundo dados do Instituto Australis. Além disso, aproximadamente 3,5 mil baleias-jubartes compunham a população brasileira da espécie em 2002, segundo o Instituto Baleia Jubarte, sendo mais de 20 mil que migram para o Brasil anualmente, com concentração no Nordeste.

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